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Pedrógão Grande: "As pessoas precisam de conversar"

Um massagista de Rio Maior, que decidiu ajudar em Pedrógão Grande após o incêndio, a título individual, diz que as pessoas precisam de "conversar" e sublinha que "perdem pouco tempo a lamentar-se", mesmo aqueles que perderam tudo.

O incêndio no concelho de Pedrógão Grande, que deflagrou a 17 de Junho, provocou a morte a 64 pessoas e mais de 200 feridos. Reuters
01 de Julho de 2017 às 20:23
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À porta de uma sala do quartel dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, encontram-se vários militares e alguns civis, sentados, todo este aparado ainda na sequência do incêndio que no concelho deflagrou a 17 de Junho e que provocou a morte a 64 pessoas e mais de 200 feridos.

 

Estão à espera para serem atendidos por Jaime Montez da Silva, um massagista - terapeuta manual, que viajou de Rio Maior, sozinho, para dar a sua ajuda.

 

Após uma curta conversa, porque o trabalho não lhe permitia abandonar a sala, pediu alguns minutos, antes de falar à agência Lusa.

 

Finalmente, teve uma curta paragem. Depois de se apresentar, explicou que tinha ligado para várias entidades a disponibilizar-se para ajudar.

 

No meio de toda a confusão e depois de ligar para a Proteção Civil e câmara local, ligou para os bombeiros de Pedrógão Grande.

 

No meio de tudo isto, acabou por encontrar um superior dos "soldados da paz" que ligou para a responsável dos Cuidados Continuados da Santa Casa da Misericórdia e, finalmente, conseguiu autorização para viajar para o terreno.

 

"Vim sozinho e juntou-se a mim mais uma colega, a Isabel Cruz, de Caldas da Rainha", disse.

 

Instalaram-se no quartel dos bombeiros de Pedrógão Grande e, desde que chegaram, na noite de terça para quarta-feira, ainda não pararam.

 

"Aparecem acima de tudo bombeiros, militares e algumas pessoas que combateram o fogo junto às suas casas. A grande maioria com contracturas musculares", explica.

 

O massagista diz que a maioria das pessoas que tem atendido apresenta tensões musculares, ansiedade e stresse, resultantes da situação que viveram.

 

"Há também diagnósticos de depressão, que também são tratados com massagens de relaxamento. Atendemos cerca de 20 pessoas por dia, mas esse número aumentou para o dobro, visto sermos agora dois", frisou.

 

Jaime Montez vai embora no domingo, devido a compromissos profissionais, mas sublinha que, se for necessário, volta a Pedrógão Grande, na quinta-feira.

 

"Quando formos embora não há mais ninguém que faça este trabalho. Há apenas fisioterapeutas. Não vai haver continuidade. As terapias têm um tempo de descanso muscular e há outras que devem ter um trabalho regular durante dois ou três meses e isso não vai acontecer", afirma.

 

Contudo, o massagista de Rio Maior prontifica-se, se for necessário, a aparecer em Pedrógão Grande de 15 em 15 dias, durante o tempo que for necessário.

 

O material que está a utilizar é suportado pelo próprio e pela colega, sendo que a alimentação e o alojamento é igual ao dos outros, bombeiros e militares.

 

Mostra-se impressionado com a atitude das pessoas: "Aqui há vida. As pessoas perdem pouco tempo a lamentar-se. Têm uma enorme necessidade de conversar. Precisam de falar", disse.

 

"Algumas pessoas que cá vêm perderam familiares, perderam tudo. Apesar disso, não desistem, seguem em frente", concluiu.

Praia das Rocas com alojamento quase lotado face a "avalanche" de procura

 

A Praia das Rocas, em Castanheira de Pera, distrito de Leiria, perdeu "mais de metade" das marcações para Julho após o incêndio deflagrar em Pedrógão Grande, mas a recente "avalanche de procura" garante uma época já quase lotada.

 

Naquela praia com ondas artificiais, o incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande e que atingiu o interior norte do distrito de Leiria, provocando 64 mortos e mais de 200 feridos, sentiu-se na quebra de marcações no alojamento, sendo que "mais de metade" das pessoas desmarcaram as reservas feitas para o mês de Julho, contou à agência Lusa o administrador da Praia das Rocas, José Pais.

 

No entanto, após a reabertura do complexo na segunda-feira, em que apenas estiveram 30 a 40 visitantes, os sinais "são animadores", sublinha José Pais.

 

Hoje, já cerca de 300 pessoas aproveitaram as ondas artificiais (seria expectável para esta altura "400 a 500" visitantes) e registou-se "uma avalanche de procura" para o alojamento, contou.

 

"Até quase ao final da época balnear, estamos quase lotados. Agora, há pessoas que querem vários dias e que já não conseguem alojamento", notou o administrador, referindo que o complexo tem capacidade para 30 a 36 pessoas por dia.

 

Face à procura do alojamento, José Pais acredita que também o número de visitantes a ir até à Praia das Rocas vai aumentar e crê que será possível atingir "o ritmo normal" dentro de uma ou duas semanas, para depois atingir nos momentos altos do verão as duas ou três mil pessoas.

 

"Quem está na praia, pode passar um dia agradável, quase sem ver a área ardida e esquecer o flagelo", disse José Pais.

 

O incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande no dia 17 de Junho, no distrito de Leiria, provocou pelo menos 64 mortos e mais de 200 feridos, e só foi dado como extinto uma semana depois.

 

Mais de dois mil operacionais estiveram envolvidos no combate às chamas, que consumiram 53 mil hectares de floresta, o equivalente a cerca de 75 mil campos de futebol.

 

A área destruída por estes incêndios na região Centro corresponde a praticamente um terço da área ardida em Portugal em 2016, que totalizou 154.944 hectares, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna divulgado pelo Governo em Março.

 

Das vítimas do incêndio que começou em Pedrógão Grande, pelo menos 47 morreram na Estrada Nacional 236.1, entre Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, concelhos também atingidos pelas chamas.

 

O fogo chegou ainda aos distritos de Castelo Branco, através da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra e Penela. 

 

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