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Mulheres portuguesas ganham menos 24% do que os homens

Em Portugal, as mulheres representam dois terços nas profissões mais mal pagas e um terço nas mais bem pagas. Ganham menos um quarto do que os homens e só 12% chegam a cargos de chefia, segundo um estudo de Windy Noro, mestranda da Universidade do Minho.

Um dos exemplos maiores de mulheres líderes em Portugal: Paula Amorim, filha do homem mais rico de Portugal, preside ao grupo fundado pelo pai e à Galp, entre outras empresas. Paula Nunes
07 de Julho de 2017 às 16:02
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As diferenças salariais que existem em Portugal entre homens e mulheres, assim como a desigualdade destas no acesso a cargos de liderança, são de tal forma preocupantes que levaram até o Governo a introduzir quotas de género nas administrações das empresas públicas e cotadas em bolsa.

 

A diferença salarial média bruta entre mulheres e homens, no sector privado, é da ordem dos 30%, descendo para cerca de um terço se se contar com as variáveis educação ou idade. "Isso significa que à partida as mulheres ganham menos 24% do que os colegas do sexo masculino com a mesma idade e os mesmos anos de escolaridade", concluiu Windy Noro, mestranda da Universidade do Minho (UMinho), que fez um estudo sobre a performance de género dos portugueses no mercado laboral.

 

Em entrevista ao "Nós", jornal online da UMinho, Windy Noro refere que os resultados apurados "mostram também que existe uma proporção muito maior de mulheres nas profissões mais mal pagos: são 65% a 70%", enquanto "nas profissões mais bem pagas apenas representam um terço dos trabalhadores".

 

O mesmo estudo, que não considerou os trabalhadores independentes nem os funcionários públicos, concluiu que "a diferença salarial é máxima em profissões com salários entre os 800/1.000 euros e começa a diminuir nas funções mais bem pagas até chegar aos dois mil euros, onde a desigualdade salarial cai para 5%. Daí para a frente volta a subir", sublinhou Noro, que foi orientada nesta análise pelos professores Luís Aguiar-Conraria e Miguel Portela, da Escola de Economia e Gestão da UMinho.

 

De acordo com a autora do trabalho, grande parte da discriminação está no acesso à profissão e ao tipo de empresa. "Os homens tendem a ir para empresas que pagam melhor", concluiu o estudo - dos 24% da diferença salarial entre ambos os sexos, "9% é explicado pelo facto de os homens terem acesso às empresas com maior reputação, rentabilidade e dimensão".

 

Luís Aguiar-Conraria, que participou nesta entrevista ao "Nós", avançou com uma explicação "especulativa" para tal discriminação: "Eles podem ter acesso às melhores empresas porque estão mais disponíveis para procurar novos empregos e experimentar mais vezes até acertarem ou têm maior mobilidade, porque tipicamente não ficam em casa a tomar conta dos filhos e podem ir para mais longe onde pagam melhor", admitiu.

 

Poucas mulheres na bem remunerada área de Tecnologias da Informação e Comunicação

 

As licenciaturas STEM - Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática são as que dão acesso às posições mais bem pagas, concluiu ainda o estudo. "Parte da desigualdade salarial para os mesmos anos de escolaridade pode vir do facto de as mulheres tirarem cursos mais ligados às humanidades e às ciências sociais", considerou Aguiar-Conraria, com Miguel Portela a enfatizar o facto de as pessoas licenciadas em STEM terem um "prémio" de mais 20% de remuneração quando comparadas com os colegas de outras áreas.

 

"Apesar de as mulheres representarem 60% dos alunos no ensino superior, apenas 19% vai para Tecnologias da Informação e Comunicação", que é uma das áreas com salários mais elevados, destacou Portela.

 

O que afasta as mulheres deste tipo de áreas? "Há discriminação no local de trabalho, isso parece-nos óbvio. Mas existe também um problema de mentalidade na escolha do curso, quer por parte das famílias, quer por parte dos jovens", afirmou Miguel Portela, que disse conhecer "vários exemplos de alunos pressionadas pelos pais para escolher áreas ‘mais femininas’". Que fazer? "É preciso acordar as mentalidades para isso!", apelou.

 

Este responsável universitário defendeu, por outro lado, que "se se obrigar à transparência dos salários, as pessoas interrogam-se e exigem igualdade". Para Portela, "não há nada de pior para a produtividade de uma empresa do que os trabalhadores se sentirem injustiçados".

 

Para ilustrar esta realidade, contou a história de uma sua doutoranda, "que já assumiu a gestão dos recursos humanos de uma empresa de mais de 200 trabalhadores", que lhe terá revelado que a desigualdade salarial no seu local de trabalho era de 7% a 8%. "Uma das coisas que observou é que a capacidade negocial das mulheres tende a ser menor. Enquanto elas aceitam o montante oferecido após a segundo ou terceira interacção, eles continuam a insistir, conseguindo um salário mais elevado", rematou Portela.

 

Para a realização deste estudo, revelou Windy Noro, foram analisados dados de 2006, 2008 e de há cinco anos, porquanto "os últimos dados disponibilizados pelo Ministério do Trabalho e da Segurança são de 2012".

 

A amostra desse ano "contou com mais de 190 mil trabalhadores de 164 profissões, com um salário médio de 1.292 euros, bastante acima da média nacional", sendo que os salários da amostra foram dos 485 aos 19.575 euros por mês e a idade variou entre os 25 e os 60 anos.

 

No total, foram consideradas 1.558 empresas, localizadas em Portugal continental, com mais de 100 trabalhadores. E "foram eliminados os funcionários que ganhavam mais de 20 mil euros por mês, na maioria homens".

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