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Medina diz que vai “defender com unhas e dentes” limitação de trânsito na Baixa
Fernando Medina realizou esta quinta-feira a primeira sessão de apresentação pública do projeto para redução de trânsito na Baixa de Lisboa. As dúvidas foram muitas e as criticas também marcaram presença. Medina admite rever proibições para os tuk tuk.
O presidente da câmara de Lisboa afirmou esta quinta-feira que pretende "defender com unhas e dentes até ao fim" o projeto para a criação da nova Zona de Emissões Reduzidas (ZER) Avenida-Baixa-Chiado. "Dêem-nos todas as sugestões que nos procuraremos introduzir e melhorar", pediu Medina à população, lembrando que a proposta ainda não está fechada e que pode ser melhorada. Agora é o "momento de partir pedra, antes da apresentação formal" à câmara.
Fernando Medina falava na primeira sessão publica de apresentação da ZER que decorreu na junta de freguesia da Misericórdia. O espaço escolhido foi pequeno para receber todos os que quiseram comparecer e fazer perguntas ao presidente da câmara sobre o projeto, que promete ser um dos mais polémicos do mandato. O autarca preferiu dizer que se trata "talvez das propostas mais importantes com a qual estamos a trabalhar neste mandato, com uma grande complexidade" e insistiu repetidamente que "o projeto é reduzir o número de carros em algumas zonas, mas não passa pela pedonalização integral" da Baixa Pombalina, como "muitos temem".
As perguntas eram muitas, mas Fernando Medina pediu tempo para apresentar primeiro o seu projeto. E respeito por quem nele trabalhou "e merece mais do que sorrisos jocosos", acrescentou, em resposta a alguns comentários que chegavam da assistência.
Estava lançado o mote e a conversa, já se antecipava, teve momentos de algum confronto. Um dos primeiros embates foi sobre a questão no número de visitantes com automóvel que os residentes da ZER poderão receber mensalmente - dez, segundo a proposta e mediante indicação prévia da matrícula através de uma app criada para o efeito. A própria presidente da junta da Misericórdia, Carla Madeira, mencionara o assunto logo ao início como sendo uma das suas preocupações.
Medina mostrou aí os primeiros sinais de impaciência, insistindo em que se "escreveu muita coisa errada" e que a ideia é que se assegure estacionamento, para além do carro particular, a mais dez viaturas. "Hoje nas Zonas de Acesso Condicionado (ZAC) é zero e isso [esta proposta] visava resolver este problema. Mas se calhar é melhor ser zero em tudo, com tantas críticas que já vi, de que depois ficamos com os dados das pessoas…", lamentou.
Carla Madeira tinha falado nas dificuldades que os residentes das ZAC hoje tem em receber familiares e visitantes, das muitas burocracias e do pedido que já apresentaram a câmara para criação de um banco de horas mensais, mas Medina não se comprometeu.
Aberto o tempo para perguntas, muitas foram as mãos que se levantaram. E choveram duvidas. Que ruas ficam bloqueadas aos carros dos residentes? Até onde pode circular quem tem dístico? Que estudos fizeram sobre o impacto nas zonas limítrofes? Os táxis que de ecológico tem muito pouco podem continuar a passar enquanto que os Uber ó entram se forem elétricos?
Fernando Medina foi avisando que estava ali "para ouvir" e não para convencer ninguém de que "isto é a sétima maravilha do mundo". "Esta é a ideia que temos. Há ideia melhores? O projeto ainda não foi aprovado em Câmara, não vos quero estar aqui a vender nada", sublinhou.
A circulação "para os residentes irá ficar muito mais facilitada porque a zona deixa de ser de atravessamento". Vai haver aumento de trânsito em vias como a D. Carlos ou a Infante Santo, mas que são vias com muito mais capacidade, explicou o autarca.
Circulação dos tuk tuk não está fechada
Quanto aos Uber, a lei trata-os de forma diferente dos táxis e não têm qualquer contingente, enquanto que os táxis "estão limitados a um número que está fechado". Daí a opção, mas também a experiência noutras cidades onde se permitiu a circulação de Uber em zonas de trânsito condicionado e "ao fim de pouco tempo, tinham a cidade congestionada na mesma, porque o número [de novos Uber] sobe sempre. Assim, Medina é inflexível: Uber só entram se forem elétricos.
Quanto aos táxis antigos e poluentes, o autarca acredita que o setor terá também de evoluir para carros elétricos.
Outra questão que se colocou foi a dos veículos de turismo, os chamados tuk tuk, que, tal como está a proposta, serão limitados a pouco mais de uma centena, tantos quantos os lugares para eles destinados que já existem na zona. "Vai haver um sorteio? Quem investiu vai ficar impossibilitado de levar turistas até à Baixa? Isso significara também menos turistas", avisou um dos presentes.
Outro lembrou que "80% dos triciclos e quadriciclos são elétricos", o que levanta a dúvida sobre como vão sortear apenas cem. "É para condicionar uma atividade económica ou é só aversão aos tuk tuk", questionou o participante.
Medina defendeu-se invocando as questões de congestionamento levantadas por haver muitos veículos deste género, tendo em conta que não nenhum contingente. Mas afirmou estar "disposto a discutir com as associações do setor qual o contingente e como se adapta".
Não podemos continuar a ter crescimento sem limitações
"Reconheço que há investimentos feitos, mas também sei que estamos num ponto em que o nível de conflito da atividade turística com os residentes já é muito maior do que era há três anos. Valorizo muito as atividades, mas não podemos continuar a ter um crescimento sem qualquer limitação, porque isso está a corroer limites de qualidade de vida dos territórios", afirmou, defendendo que "Temos de estar atentos à mudança e conseguir aqui um ponto de equilíbrio".
As vozes subiram de tom quando um dos presentes acusou a câmara de estar "a expulsar moradores": "Deixam os navios de cruzeiro entrar, muito mais poluentes, e travam o transito aos lisboetas".
"O terminal de cruzeiros não reduz as emissões dos automóveis", diz Medina. "Sem aeroporto e sem terminal de cruzeiros, continuávamos a ter de resolver um problema de poluição associada ao automóvel", acrescentou, sublinhando que "a câmara pode atuar no que é sua responsabilidade e exigir no que é responsabilidade de outros".
No geral, Fernando Medina sossegou quem perguntou se poderia continuar a levar os filhos à escola de carro mesmo não sendo morador – sim, haverá um dístico especial para o efeito – e se as pessoas que precisem de apoio de familiares ou amigos poderão continuar a receber os seus cuidadores sem limitações – também aqui a garantia de que não terá problemas a esse nível.
Carla Madeira, presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, eleita pelo PS, elogiou o projeto, considerando que vai ao encontro das solicitações da junta e que vai melhorar a qualidade de vida dos moradores. Além da questão do acesso de visitantes, a autarca disse também estar preocupada com os horários reservados às cargas e descargas, a efetuar durante a noite.