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Islândia quer impedir estrangeiros de comprarem terras no país

Ainda que os estrangeiros possuam, actualmente, apenas uma pequena parte das terras, a Islândia quer apertar as regras e evitar a concentração da propriedade.

Reuters
02 de Agosto de 2018 às 11:40
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Há pouco mais de um século, uma jovem chamada Sigridur Tomasdóttir ameaçou atirar-se para as emblemáticas cataratas Gullfoss, na Islândia, na tentativa de impedir que empresários ingleses a transformassem numa central hidroeléctrica.

No fim, nada de mal aconteceu à jovem ambientalista - o contrato de leasing foi cancelado, supostamente porque o dinheiro não chegou a tempo - e as Gullfoss, ou Cataratas Douradas, são hoje uma das maiores atracções turísticas do país.

Katrín Jakobsdóttir, a primeira ambientalista a tornar-se primeira-ministra da Islândia, pegou agora no bastão de Tomasdóttir ao protestar contra os investidores estrangeiros que têm comprado grandes áreas de natureza intocada da ilha do Atlântico Norte.

A primeira-ministra, de 42 anos, líder do Movimento de Esquerda Verde, quer "mais restrições" à posse de terras, mas afirma que, antes de tomar qualquer decisão, vai aguardar pelos estudos que estão a ser realizados actualmente por quatro ministérios. As conclusões deverão chegar no fim do terceiro trimestre.

"Antes de mais nada, quero defender a soberania do país", disse Jakobsdóttir, em entrevista por telefone, em
Reiquiavique. "É importante para nós que possamos decidir como é que a terra é desenvolvida e utilizada".

Como o país é membro do Espaço Económico Europeu (uma zona de livre comércio ligada à União Europeia), o espaço de manobra do governo é limitado. Jakobsdóttir explica que pretende "restrições baseadas no tamanho e no número" de lotes detidos. A Islândia já consegue travar compras de não europeus, como fez em 2012, quando impediu que o bilionário chinês Huang Nubo se apropriasse de uma área de 300 quilómetros quadrados de terras no norte do país.

Interesse estrangeiro

O governo da Islândia está a responder às crescentes reclamações dos agricultores, que mostram ressentimento pelo poder de compra superior dos estrangeiros e questionam os seus motivos. A Islândia só conseguiu independência plena da Dinamarca em 1944 e o sentimento de patriotismo continua a aumentar. A coligação de governo liderada por Jakobsdóttir depende do apoio do conservador Partido da Independência e do Partido Progressista, o preferido dos agricultores.

O bilionário britânico Sir Jim Ratcliffe e seus associados possuem um total de 39 lotes repletos de rios aptos para a pesca, segundo o jornal islandês Morgunbladid. O sueco John Harald Orneberg e o suíço Rudolf Lamprecht são outros dois entusiastas da pesca que compraram terras na ilha do Atlântico Norte, segundo reportagens da imprensa local.

Ratcliffe tem afirmado que o seu maior interesse está na população local de salmão, mas que poderá reconsiderar os seus planos futuros se as regras se tornarem mais rígidas. "Ninguém quer actuar contra a vontade das autoridades de um país", disse o seu porta-voz na Islândia, Gísli Ásgeirsson.

Um dos vizinhos islandeses de Ratcliffe, um agricultor chamado Aevar Rafn Marinósson, revela-se céptico. "Eles dizem que querem proteger o salmão, mas essa é uma explicação pouco convincente", afirmou. "Não é preciso possuir terras para proteger o salmão".

Embora grande parte seja inóspita, as terras na Islândia ainda são baratas (os preços variam entre 500 mil dólares e 5 milhões, dependendo do tamanho e do tipo de recursos que oferecem, podendo valorizar bastante se o local contar com uma famosa atracção turística). A Aevar Dungal, uma corretora imobiliária sediada nos fiordes orientais, diz que, embora 70% dos seus clientes sejam islandeses, os investidores estrangeiros estão a comprar os terrenos maiores e mais caros.



Jakobsdottir insiste que não se trata de "proibir estrangeiros", mas sim de travar a "concentração da propriedade" (na Escócia, por exemplo, menos de 500 pessoas possuem metade de todas as terras privadas) e garantir que a terra é utilizada da melhor forma possível.

"Acho que as regulamentações gerais que se aplicam tanto a estrangeiros como a islandeses provavelmente serão mais bem-sucedidas e mais viáveis", afirmou.

Sigurjon Sighvatsson, um produtor islandês de Hollywood que tem comprado terrenos nos últimos 20 anos, diz que não quer ver regras que discriminem os não-residentes.

"Eu não tenho medo de estrangeiros, tenho mais medo dos islandeses", admitiu. "Muitos estrangeiros que vieram para cá estavam à frente do seu tempo no que respeita a proteger a terra".

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