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Inflação na Argentina chega a 7,4% em julho e a 71% nos últimos 12 meses

Nos primeiros sete meses de 2022, o aumento de preços chegou a 46,2%, sendo julho o mês com valor mais alto, superando os 6,7% de março, os 6% de abril, os 5,1% de maio e os 5,3% de junho.

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MARCOS BRINDICCI
11 de Agosto de 2022 às 23:41
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A inflação de 7,4% em julho na Argentina é a maior dos últimos 20 anos, enquanto o acumulado de 71% nos últimos 12 meses é o maior dos últimos 31 anos, divulgou o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (INDEC).

Nos primeiros sete meses de 2022, o aumento de preços chegou a 46,2%, sendo julho o mês com valor mais alto, superando os 6,7% de março, os 6% de abril, os 5,1% de maio e os 5,3% de junho.

"Estamos a fazer todos os esforços para resolver o problema inflacionário, convocando todos os envolvidos para ajudarem a resolvê-lo. Saibam que conheço o problema. Não me desentendo do assunto", disse o Presidente argentino, Alberto Fernández, em resposta aos analistas que o veem como um mero observador do problema.

Fernández anunciou que vai convocar empresários e sindicalistas para um novo acordo de preços e salários, a terceira vez que tenta a mesma receita no seu atual mandato iniciado em dezembro de 2019, durante o qual a inflação acumulada chega a 201,6%. Em julho, a inflação foi duas vezes superior ao aumento de salários.

"É a mesma receita fracassada de sempre. A economia argentina precisa de um choque drástico de ajuste fiscal, mas o Governo prefere um analgésico para esticar a situação o máximo possível até as eleições de outubro de 2023. Isso não é um plano económico. É um plano de 'aguentar' sem resolver os problemas. Parece muito difícil que consigam esticar tanto", explicou à Lusa o economista Roberto Cachanosky, uma referência no país.

O próprio Banco Central divulgou, na semana passada, as expectativas do mercado para a inflação de 2022. Os 30 principais analistas do país preveem uma inflação anual de 90,2%, 14,2 pontos acima da previsão de um mês antes. E os dez analistas que mais acertam, os denominados TOP-10 do país, preveem 94,7%, 15,4 pontos a mais do que previam em junho.

"Se projetarmos o atual ritmo de inflação para os próximos meses, terminaremos 2022 com 92% anual. Mas esse número é sem reajustar as tarifas de serviços públicos e sem ajustar a taxa de câmbio [desvalorização]. Portanto, é muito provável que cheguemos a 100% de inflação", calcula Cachanosky.

Agosto parte de um mínimo de 6% de inflação como consequência da onda expansiva de julho, mês em que a Argentina teve três ministros da Economia, depois da renúncia de Martín Guzmán em 2 de julho e da demissão de Silvina Batakis, 24 dias depois. O atual ministro, Sergio Massa, há oito dias no cargo, ainda não anunciou um plano de estabilização, manifestando apenas objetivos sem as estratégias para os atingir.

A lista de objetivos de Sergio Massa inclui fortes aumentos nas tarifas de energia elétrica, gás e água a partir de setembro. Os aumentos girariam em torno de 300%, alimentando a inflação. O novo ministro garante que vai reduzir os atuais 4% de défice fiscal aos 2,5% do PIB, previstos no acordo com o FMI. No entanto, não disse como conseguiria essa meta quando faltam apenas cinco meses para o fim do ano.

"O ponto mais urgente são as reservas do Banco Central. O Governo precisa robustecer as reservas disponíveis, que atingiram um nível crítico. Basicamente, não há mais dólares no caixa. E não há forma de estabilizar a economia sem dinheiro. Caso contrário, a única saída é uma desvalorização do peso argentino com consequências diretas sobre a inflação", indica à Lusa o analista Gustavo Marangoni, ex-presidente do segundo maior banco do país, o Banco Provincia.

As reservas disponíveis no Banco Central rondam apenas os 1.200 milhão de dólares, suficientes apenas para os próximos 15 dias de importações. Sem reservas no Banco Central, sem acesso ao crédito internacional e com dificuldades de conseguir empréstimos internamente, o Governo tem emitido moeda sem respaldo para financiar o défice fiscal, alimentando a inflação e a pressão por uma desvalorização do peso argentino.

"A questão é até onde o Governo está disposto a chegar com o ajuste fiscal. Essa é a pergunta reinante nos mercados que observam muito atentamente se as medidas serão cosméticas ou se serão efetivas", adverte Gustavo Marangoni.
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