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Impacto da IA no emprego é a grande questão para empresas e especialistas
Desemprego ou transferência de empregos? Ficar pelo caminho ou avançar com uma requalificação? Empresas e especialistas admitem que impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho é um grande ponto de interrogação.
Que impactos terá a inteligência artificial (IA) no emprego? Esta é a grande questão para empresas e especialistas ouvidos na conferência do Negócios dedicada ao tema, e que decorre nesta quinta-feira, 7 de novembro, em Lisboa.
Num painel dedicado aos impactos no emprego da IA, na conferência do Negócios "O Poder de Fazer Acontecer 2.0", Madalena Talone, administradora Executiva da Caixa Geral de Depósitos (CGD), afirma que a IA vai "exigir algum tipo de requalificação" que, considera, já se tem vindo a fazer sentir.
Nesse sentido, afirma que a CGD tem vindo a usar ferramentas de IA com o objetivo de tornar o atendimento mais personalizado. Madalena Talone olha para já para o copo meio cheio, admitindo que isso permite que a interação entre banco e clientes seja hoje mais frequente - e direta - do que era antes da utilização dessas ferramentas.
Mas até onde irá essa necessidade de requalificação? Sara Aguiar, co-fundadora do podcast 'Ponto Zero' e gestora de marca e produto na Procter & Gamble, acredita que trará menos distribuição de postos de trabalho do que transferência.
"Os números não nos dizem que foram perdidos trabalhos em comparação com os que foram criados", afirma Sara Aguiar. A gestora de marca também se mostra otimista com os potenciais ganhos da IA, considerando que "esta é uma revolução com características específicas, ritmos diferentes", mas que poderá ser usada "a nosso favor".
"É uma ferramenta que pode potenciar muitas áreas e a criação de muitas outras qualificações e áreas de trabalho que ainda não conhecemos, nem conseguimos, hoje", considerou.
Já Paula Gomes Freire, Managing Partner da Vieira de Almeida (VdA), mostrou-se mais pessimista quanto ao impacto da IA no emprego. "Vai ter impacto nos postos de trabalho", afirmou, citando o escritor Yuval Noah Harari. "A IA pirateou o sistema operativo humano. Não podia estar mais de acordo", frisou.
Embora admita que a IA possa ter efeitos benignos, criando muitos novos trabalhos e a reinvenção de funções - sinalizando mesmo que "o setor legal é fascinante nesta matéria" -, Paula Gomes Freire acredita que "o desafio é grande e o setor olha para a coisa de forma muito otimista, como se fosse um super poder".
"O ponto crítico, de facto, é perceber se os advogados que estamos a formar têm as competências críticas para este novo mundo", considerou.
Na mesma linha, Maria João Guedes, professora do ISEG e coordenadora do POWER (Portuguese Women’s Equality Observatory) afirmou que a geração que está prestes a entrar na universidade é a mais ameaçada. "Não podemos ensinar no mesmo modo", disse.
Dessa forma, considerou que há trabalhadores menos qualificados que vão ter dificuldades acrescidas - com impactos também no salário a receber - enquanto os programadores, e quem tiver de facto conhecimento para alimentar a IA, será mais valorizado no mercado de trabalho.
"Vai haver um efeito de substituição das tarefas e inevitavelmente vai haver desemprego", afirmou a professora do ISEG.
Nesse sentido, Madalena Talone considerou que as empresas vão ter uma "responsabilidade acrescida na contratação de trabalhadores". "É uma responsabilidade e uma oportunidade: de pensar de forma estratégica, em planos de formação e de gestão da mudança de longo prazo, que ajudem as pessoas a fazer esse processo de 'reskilling'", disse.