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Como a China quer ser o “patrão” da economia global

Serviços são a aposta para assegurar crescimento anual de 6,5% até 2020. Conselheiro económico do Governo chinês esteve em Lisboa a explicar o plano quinquenal de Pequim.

Miguel Baltazar
22 de Fevereiro de 2016 às 17:17
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Chi Fulin, presidente do China Institute for Reform and Development, esteve segunda-feira em Lisboa para a inauguração do ciclo de Grandes Conferências sobre a China. O economista, conselheiro do Governo de Pequim, explicou o plano com que o país pretende assegurar um crescimento de 6,5% nos próximos cinco anos.

Serviços, serviços, serviços. Fazer do sector terciário o motor da economia é a prioridade do 13º plano quinquenal desenhado pelo Comité Central chinês, que compreende os anos de 2016 a 2020.


No final de 2001 o sector dos serviços pesava 41,3% do PIB. No ano passado já valia metade da economia (50,5%). O objectivo é chegar aos 58% até 2020, através de um crescimento anual de 8%. Este é um passo essencial para chegar ao novo "normal" de um crescimento da economia de 6,5% ao ano nos próximos cinco anos. No fundo ser a âncora para manter o país a crescer a um ritmo inferior aos últimos anos, mas ainda assim robusto.


A sala do Centro Cultural de Belém, quase cheia, e onde se destacavam responsáveis de algumas empresas portuguesas com capitais chineses – casos de Nuno Alves, administrador financeiro da EDP ou Rodrigo Costa, presidente executivo da REN – ouviu Chi Fulin explicar que o próximo plano quinquenal "pretende marcar um ponto de viragem histórico para a economia chinesa". Na cerimónia participaram também a secretária-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Ana Martinho, e o embaixador da China em Portugal, Cai Run.


Aumentar a população urbana

Uma das pedras angulares da estratégia é o aumento da população urbana, que consome mais serviços, como educação, saúde e lazer. O rendimento médio per capita nas cidades é três vezes superior ao das zonas rurais na China.

No final do ano passado, 56,1% dos chineses vivia em cidades. O objectivo para 2020 é chegar aos 60%, um crescimento de 1,2% ao ano. Para isso, o Governo pretende implementar um registo unificado da população em todo o país, e resolver o problema do acesso à segurança social e à saúde dos migrantes. "Toda a população urbana permanente deverá estar coberta pelo serviço público básico até 2020", afirma o economista.

Esta aposta passa também por mais investimento público. Em cima da mesa está a impressionante soma de 42 biliões de yuans até 2020 (5,84 biliões de euros), para promover a construção urbana e rural e construir um sistema de comboios rápidos a ligar as cidades.

O aumento do consumo interno é outra trave mestra do plano. "A China está a passar de uma economia de consumo de subsistência para um consumo desenvolvido", garantiu o presidente do China Institute for Reform and Development. E deu como exemplo o facto de seis milhões de chineses terem viajado para o estrangeiro durante as férias do Novo Ano chinês, contra dois milhões no ano anterior. E deixou o recado: "O turismo português deve estar atento a este potencial".


Assegurar 25% do crescimento global


Chi Fulin elencou algumas das reformas que a China terá de empreender nos próximos anos. Elas passam por uma maior abertura do sector dos serviços à iniciativa privada (que é de 50%, contra 80% na indústria), por lidar com o excesso de capacidade instalada na indústria (sobre a qual não se alongou), por adoptar um sistema nacional de registo de residência e por uma reforma do sistema de supervisão dos mercados financeiros.


Sobre este último ponto, o conselheiro do Governo chinês disse acreditar que a reforma permitirá "melhorar o mercado accionista, que não reflecte a situação da economia". E salientou que "é preciso acelerar" esta reforma.


"Com as reformas nestas quatro áreas a China pode ter um grande potencial de crescimento. Crescer a 6,5% nestas condições é possível. A China tem contribuído com 25% para o crescimento global e nos próximos anos este peso vai manter-se estável", acredita Chi Fulin.

Se a China conseguir levar a cabo as reformas estruturais e alcançar os seus objectivos de desenvolvimento, poderá ser o "novo patrão da economia global", garante.


Por abordar ficaram algumas das fragilidades que são apontadas à economia chinesa, como o elevado endividamento da economia, superior a 250% do PIB, o aumento do crédito malparado ou o sector financeiro sombra.

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