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BCE vê economia da Zona Euro à tona até ao outono
Apesar do forte abrandamento, a força no sector dos serviços será suficiente para suster a economia da moeda única por mais um trimestre. Mas as fontes de Frankfurt ainda antecipam recessão ligeira mais à frente..
A economia da Zona Euro deve continuar a evitar um cenário de contração neste ano, pelo menos, até ao outono, antecipa o Banco Central Europeu (BCE) no seu mais recente Boletim Económico, publicado nesta quinta-feira.
"O produto da Zona Euro deverá subir moderadamente no terceiro trimestre, sobretudo apoiado pelo sector dos serviços", prevê a instituição.
O documento é publicado já depois de o Eurostat ter avançado, no final de julho, com um crescimento em cadeia de 0,3% no segundo trimestre (subida de 0,6% face a um ano antes), superando trimestres imediatamente anteriores de estagnação e contração (-0,1% na reta final de 2022).
Os dados preliminares do Eurostat sugerem que o turismo de alguns países a Sul da Zona Euro estará a ter um impacto menos positivo que o inicialmente esperado para os resultados do grupo. O PIB italiano recuou 0,3% e o português estagnou, enquanto que o crescimento francês, acima das expectativas, num avanço de 0,5%, terá ficado a dever-se ao efeito de impulsos isolados nas vendas do país ao exterior. Espanha, porém, não desiludiu, crescendo 0,4%.
Ainda assim, o BCE mostra-se confiante de que o turismo – e outras atividades ligadas aos serviços – irão continuar a contrapesar face ao enfraquecimento da dinâmica industrial europeia, que, nos indicadores mais avançados, deverá persistir em degradação ao longo dos próximos meses.
O banco central refere que "a procura esperada permanece robusta nos serviços de contacto intensivo", com base nos indicadores de sentimento de empresas e famílias divulgados pela Comissão Europeia.
Esta perspetiva, diz, é consistente com o relato dos contactos empresariais mantidos pela equipa económica do BCE de que a procura por serviços de viagens, alojamento e outros do sector turístico continua forte e deverá continuar a apoiar a atividade até ao final do verão.
"Contactos nos sectores de hotelaria e viagens reportam um crescimento muito forte na atividade. O transporte aéreo de passageiros e as reservas de hotel recuperaram ou excederam mesmo os níveis pré-pandémicos no segundo trimestre, e as reservas para o verão estavam na capacidade plena ou muito elevada, não obstante preços altos", relata o BCE, juntando também que "alguns retalhistas mostraram-se surpreendidos com a resiliência dos gastos de consumo".
Já na indústria, o BCE destaca sinais de tendência diferente nos seus contactos. Por um lado, refere que é esperada, por alguns, uma recuperação de encomendas no final do ano, acompanhando o movimento no ciclo de inventários. Por outro, há preocupação com o arrefecimento da economia chinesa e efeitos na procura externa.
Ao mesmo tempo, o próprio setor turístico receia não haver mais margem para crescimento com a atual capacidade e o retalho também expressa dúvidas sobre a sustentabilidade dos atuais níveis de consumo das famílias.
Embora o verão deva ser atravessado ainda em terreno de crescimento, o final deste ano pode trazer uma realidade muito diferente, segundo as fontes sectoriais do BCE. "Neste cenário, muitos contactos consideraram que existe um risco muito elevado de recessão, ainda que leve, no final de 2023 ou em 2024", diz a publicação, que também reporta um repto dirigido pelas empresas aos governadores dos bancos centrais do euro: "uma indicação mais clara de que a inflação esteja sob controlo, e, assim, também a trajetória de taxas de juro, ajudaria a reduzir a incerteza e a aumentar a confiança das empresas".
O BCE subiu, novamente, as taxas diretoras do euro a 27 de julho, em 0,25 pontos percentuais, mas admitiu em setembro a possibilidade de uma pausa no ciclo de subidas que se prolonga há já um ano.