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Alemanha prepara-se para o fim do gás russo. Pode ser já na segunda-feira

O abastecimento de gás russo à Alemanha vai ser suspenso por dez dias, mas o grande receio é que não volte mais. O governo tem um plano de emergência, mas alerta que aplicá-lo não vai ser fácil.

A empresa estatal russa justifica a redução no fornecimento com atrasos na entrega de equipamentos reparados por parte da Siemens.
Hannibal Hanschke/Reuters
09 de Julho de 2022 às 12:49
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A principal conduta de gás russo para a Europa, o gasoduto Nord Stream, vai estar desativada durante dez dias para manutenção, a partir de dia 11 de julho, mas a Alemanha já se prepara para a possibilidade de Vladimir Putin aproveitar a ocasião para cortar o abastecimento de vez.

O governo alemão tem um plano de emergência, que implica racionamentos e resgates de empresas, mas, segundo a Bloomberg, as consequências disso muito provavelmente significariam uma profunda recessão na maior economia da Europa, com repercussões em todo o continente.

"Se estamos preocupados? Sim, estamos muito preocupados. Seria ingénuo não estar preocupado", disse à agência Christian Kullmann, CEO do gigante químico alemão Evonik Industries AG.

Mais de um terço do gás da Alemanha vem da Rússia, e o Kremlin pode aproveitar esta vantagem para se vingar das sanções que a Europa adotou na sequência da guerra da Ucrânia.

"A Rússia tem um número limitado de trunfos que pode usar. Estão a tentar maximizar os instrumentos que lhe sobram", comenta Olga Khakova, vice-diretora do Atlantic Council’s Global Energy Center.

A Alemanha tem vindo gradualmente a preparar os seus 80 milhões de cidadãos para a possibilidade de terem de enfrentar dificuldades. O chanceler Olaf Scholz comparou mesmo a situação atual ao pico de inflação dos anos 1960 e 1970, e alertou que não será algo rapidamente ultrapassável.

O impacto do aperto energético já se começou a sentir: Munique baixou a temperatura nas piscinas públicas, Colónia reduziu a intensidade da iluminação pública, e Hamburgo planeia disponibilizar água quente apenas nalguns períodos do dia.

 

O Governo de Scholz está a tentar acelerar legislação que permita a aquisição de participações em empresas energéticas em dificuldades, como a Uniper, de modo a poder resgatá-las. A Uniper, o maior comprador de gás russo da Alemanha e o principal fornecedor público, alertou na sexta-feira que está a ficar sem dinheiro.

 

Klaus-Dieter Maubach, o CEO, diz que em breve a empresa não terá outra opção se não começar a usar reservas de gás, aumentar os preços junto dos consumidores e reduzir a oferta.

O Governo já prometeu intervir. "Não vamos permitir que empresas sistemicamente importantes vão à falência e, como consequência, afundem o mercado global de energia", disse o ministro da Economia, Robert Habeck, em resposta aos avisos da Uniper.

 

Para evitar a crise, a Alemanha vai também recuar nos seus compromissos ambientais, reativando centrais de carvão para gerar eletricidade, o que vai permitir ao país reduzir o volume de gás usado para energia em 52% nos próximos 12 meses, de acordo com estimativas da Bloomberg.

 

Se a Alemanha optar por declarar situação de "emergência", o regulador passa a poder controlar a distribuição. Casas e estruturas críticas, como hospitais, ficam protegidas, mas a indústria pode ver o abastecimento limitado e os consumidores podem ter de reduzir as temperaturas nos aquecimentos e esquentadores.

 

O objetivo da Alemanha é ter os armazéns a 90% até novembro. Neste momento estão a 63% e com a suspensão do Nord Stream este valor deve descer, dando ao país apenas 86 dias para atingir a sua meta.

 

O governo alemão está bem ciente da dificuldade de atingir este objetivo. "Foi um grave erro deixar que a Alemanha ficasse tão dependente de um país para o seu abastecimento de energia, e esse país ser a Rússia. Esta dependência do gás russo levou décadas a ser construída, e estamos a tentar mudar isso em meses", lamentou Habeck.

 

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