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Perfil de Vítor Gaspar: A saída "agora inevitável” do braço-direito do primeiro-ministro

Tecnocrata, sem experiência política, Vítor Gaspar foi o trunfo de Passos Coelho para as Finanças, o homem certo para o lugar certo, e tornou-se rapidamente o braço direito do Primeiro Ministro. O ministro cujo nome há-de ficar sempre conotado com a austeridade sai do Governo dois anos e poucos dias depois de tomar posse.

01 de Julho de 2013 às 18:28
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Dois anos e poucos dias depois de ter assumido a pasta das Finanças, a 21 de Junho de 2011, Vítor Gaspar abandona o Cargo, sendo substituído pela sua secretária de Estado do Tesouro, Maria Luís Albuquerque.

 

Apesar de a demissão ter sido anunciada hoje, a decisão estava tomada há muito. Numa carta dirigida a Passos Coelho que, por uma questão de “transparência”, fez questão de divulgar publicamente, Vitor Gaspar diz que não tem “alternativa senão assumir plenamente as responsabilidades” que lhe cabem e explica que já em Outubro de 2012 escrevera ao Primeiro-Ministro a pedir a substituição no cargo. Tinha acabado de anunciar o Orçamento do Estado para 2013, o mesmo Orçamento que haveria de consubstanciar, segundo o próprio, um “enorme aumento de impostos”.

 

O economista, com um largo currículo não só em Portugal (era consultor do Banco de Portugal) como na Europa (foi director–geral de Estudos Económicos do Banco Central Europeu e director do Gabinete de Conselheiros de Política Económica da Comissão Europeia) acabaria por se tornar, rapidamente, um dos ministros menos populares do Executivo de Passos Coelho. Com forte perfil de tecnocrata, sem quaisquer provas dadas na arena política, assumia ao mesmo tempo e cada vez mais, o lugar de braço-direito do Primeiro-Ministro. Este, por várias vezes lhe deu a mão, não só perante a opinião pública, mas também dentro do Governo, em confrontos nomeadamente com Paulo Portas, o parceiro de coligação.

 

Trunfo de Passos Coelho para as Finanças coube-lhe a tarefa de dirigir as negociações com a troika ao longo das várias avaliações ao programa de ajustamento realizadas pelos representantes do FMI, BCE e Comissão Europeia e foi precisamente o andamento desse programa que levaria à sua demissão.

 

No final do ano passado, o jornal britânico Financial Times sublinhava que tinha sido entregue a Vítor Gaspar uma “tarefa gigantesca”. Chamava-lhe “tecnocrata sénior que veio de Bruxelas sem anterior experiência política” e atribuiu-lhe o 10º lugar em 19 possíveis na lista que elabora anualmente sobre os melhores ministros das Finanças da União Europeia. Gaspar subia dois lugares na lista, sendo que no topo do ranking estava o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schauble.

 

O primeiro Acórdão do Tribunal Constitucional, em Julho de 2012, a chumbar várias normas do OE e o cataclismo provocado pelo proposta de alterações à TSU, que provocaria uma “erosão significativa no apoio da opinião pública às políticas necessárias ao ajustamento orçamental e financeiro” abriram a porta à decisão de sair.

 

Gaspar continuou porque, relata, lhe foi pedido que continuasse para assegurar a conclusão do sétimo exame regular, que renegociasse os prazos de pagamento dos empréstimos oficiais e a preparação do Orçamento Rectificativo decorrente do segundo chumbo do Constitucional, desta vez ao Orçamento para 2013.

 

“A minha saída é agora inadiável”, escreve Vítor Gaspar.

 

O ex-ministro que desde 2010 desempenhava funções de consultor no Banco de Portugal, deverá agora continuar a dedicar-se à investigação nas suas áreas de interesses que passam pela política macroeconómica, políticas públicas e integração financeira.

 

Publicou vários artigos e livros e é autor de numerosas publicações científicas elencadas no site oficial do Governo, onde se destacam “Inflation Expectations, Adaptive Learning and Optimal Monetary Policy”, “Opting Out of the Great Inflation: German Monetary Policy After the Break Down of Bretton Woods”, “Interest rate dispersion and volatility in the market for daily funds”; “Optimal Monetary Policy, Persistence and Adaptive Learning” e “Monetary Policy Over Time”, entre outros. 

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