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BdP: Défice é "claramente alcançável" com derrapagem no pessoal e pouco investimento

Meta de défice de 1,5% está ao alcance do Governo sem dificuldades. O desempenho dos impostos vai superar o previsto, o que permite também fazer mais despesa. Já é certo que gastos com pessoal derrapam, mas não há forma do investimento disparar como prometido.

Banco de Portugal acredita que PIB contrai já em 2010
04 de Outubro de 2017 às 11:48
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Com dados já conhecidos da execução orçamental, o Banco de Portugal considera que o objectivo do governo de um défice orçamental de 1,5% do PIB no final do ano é "claramente alcançável", ainda que provavelmente com desvios relevantes face aos planos orçamentados, mas que se compensam, com receita e despesa a crescerem mais que o previsto. Os gastos com pessoal deverão mesmo derrapar, diz o Banco de Portugal, que não é tão assertivo quanto à evolução do investimento, embora note que no primeiro semestre cresceu apenas 1,2% em termos homólogos, longe da meta de 39,4%.

"O cumprimento do objectivo estipulado para o défice orçamental é claramente alcançável. No entanto, é de salientar que, dado o enquadramento macroeconómico particularmente favorável, o cumprimento deste objectivo não deverá garantir o ajustamento estrutural requerido pelas regras orçamentais europeias actualmente em vigor", lê-se no Boletim Económico publicado a 4 de Outubro.

Impostos superam meta, pessoal derrapa e investimento com grande desvio

Na análise mais fina aos dados orçamentais já conhecidos, os economistas do banco central destacam o desempenho muito positivo dos impostos, a derrapagem quase certa nos gastos com pessoal e o grande desvio no crescimento da despesa de investimento no primeiro semestre face à meta anual.

A "colecta dos impostos sobre a produção e importação aumentou 5,5%, com destaque para a receita de IVA, que cresceu 4,2% apesar da redução da taxa de IVA aplicável a alguns serviços de restauração, em Julho de 20162 e a "as contribuições sociais apresentaram uma evolução semelhante (+5,1%)", pelo que é "expectável que a receita nestas duas componentes ultrapasse o valor considerado" no Programa de Estabilidade, avalia o banco central.

Na tributação directa, e feitos vários ajustamentos à comparação entre anos, nomeadamente no perfil inter-anual de reembolsos de IRS ou a eliminação gradual da sobretaxa de IRS, os economistas do Banco de Portugal consideram que "estimativa do Programa de Estabilidade 2017-21 para o total de impostos sobre o rendimento e património revela-se claramente atingível, como confirmado pelos resultados da execução em contabilidade pública até Agosto".

Do lado da despesa, onde a comparação entre anos é afectada, por exemplo, pelo diferente perfil de pagamento do subsídio de Natal em salários e pensões (este ano, metade é pago em duodécimos, metade é pago em Novembro), o banco central considera que, feitos os ajustamento, "a despesa corrente primária teria um crescimento de cerca de 2,1% no primeiro semestre, claramente acima do previsto para o ano como um todo (+1,2%)", um efeito que deverá ser atenuado pela "reposição gradual dos vencimentos ao longo de 2016 [que] deverá contribuir para um menor crescimento da despesa na segunda metade do ano, factor que será apenas parcialmente compensado pela evolução das pensões, cuja taxa de crescimento tenderá a acelerar por via do aumento extraordinário ocorrido em agosto deste ano".

Contas feitas, pelo menos a despesa com pessoal deverá derrapar: "A despesa com pessoal corrigida do diferente perfil de pagamento do subsídio de Natal cresceu cerca de 4,2% no primeiro semestre. Parte desta evolução decorre do efeito volume, dado que o número de funcionários públicos aumentou 1,1%, mas a parte mais significativa resulta do aumento do salário médio, nomeadamente por via do efeito base associado à reposição gradual dos salários ao longo de 2016", lê-se no boletim económico, que nota que "mesmo tendo em conta a desaceleração da taxa de crescimento desta rubrica ao longo de 2017 por via da atenuação deste efeito, a despesa com pessoal deverá vir a situar-se acima do orçamentado".

Do lado da despesa, é ainda dado destaque à baixa execução de investimento público face à meta do governo: "No que respeita às despesas de capital, importa destacar que se verificou um aumento de apenas 1,2% do investimento, que contrasta claramente com o crescimento muito significativo considerado no PE 2017-21 (+39,4%)", alerta o banco central.

Finalmente, para as despesas sociais, o banco central admite execuções em linha com as metas do orçamento, pelo menos nas pensões, enquanto nota que os consumos intermédios estão a crescer abaixo do orçamentado (1,1% face a meta anual de 2,5%), em contraste com o que se passa com as outras despesas correntes, que estão a crescer muito acima da meta anual: 2,7% de crescimento homólogo, face a meta de corte de 5,2%.
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