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Quanto vale a cultura em Portugal?

Normalmente a actividade cultural não é discutida com quantificação e impacto na economia. Mas não é por falta de dados. As “Estatísticas da Cultura”, publicadas quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), trazem notícias optimistas, mas também algum do mesmo pessimismo de anos anteriores.

Correio da Manhã
11 de Dezembro de 2015 às 14:55
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Nos três anos entre 2010 e 2012, a cultura valia 1,7% do valor acrescentado bruto (VAB) total da economia portuguesa. Ou seja, essa é a percentagem que este ramo de actividade representa na produção total nacional. Por referência, é semelhante ao peso do sector das telecomunicações.  

Em 2013, havia quase 49,7 mil empresas deste sector e tiveram um volume de negócio de 4,4 mil milhões de euros, com um lucro global de 88 mil euros. A "cultura" é um ramo de actividade bastante abrangente. A maior parte das empresas – 29% - está nas artes do espectáculo, arquitectura (16%), jornais, revistas e artigos de papelaria (10%) e "criação artística e literária" (10%).

Quanto ao dinheiro, as agências de publicidade continuam a ser aquelas que mais facturam, absorvendo quase 19% do volume de negócio total deste sector. Outros sectores que se destacam são jornais, revistas e artigos de papelaria (16%), televisão (11%) e edição de livros (8%).

No que diz respeito ao mercado de trabalho, o emprego parece ter seguido na cultura a mesma tendência do resto do país: recuperação. Em 2014, a indústria de actividade cultural e criativa empregava 78,4 mil pessoas, mais 7,3% do que em 2013. A divisão é praticamente 50/50 entre homens e mulheres, 61% têm entre os 25 e os 44 anos e 42% têm pelo menos formação superior.

Entre as profissões mais populares estão "arquitectos, urbanistas, agrimensores e designers", que absorvem 30% dos trabalhadores, "trabalhadores do fabrico de instrumentos de precisão, joalheiros, artesãos e similares" (21%) "Técnicos de nível intermédio das actividades culturais, artísticas e culinárias" (19%), "Artistas criativos e das artes do espectáculo" (10%).

Todas juntas, as actividades culturais registaram um saldo negativo na balança comercial de bens em 2014, no valor de 74,6 milhões de euros. Uma degradação de 11,8% face a 2013 (quando estava nos 66,7 milhões). As principais exportações vieram dos livros (47 milhões), mas também se destacaram objectos de arte e antiguidades (15 milhões), principalmente quadros.

700 mil visitaram museus

Em 2014 houve algumas boas notícias para os museus, com um aumento de 700 mil visitantes nos 674 museus analisados pelo INE, com um acervo de 24,5 milhões de euros. Mais de um terço dos visitantes eram estrangeiros e 13% chegaram aos museus via visitas escolares. Há outros indicadores relevantes: mais de metade das pessoas visitaram exposições temporárias e mais de 39% entrou gratuitamente. Os museus de arte e os museus de história foram os mais visitados.

Metade da circulação dos jornais é gratuita

Entre 1.382 publicações periódicas de 2014, houve uma tiragem total de 444,7 milhões de exemplares, tendo sido vendidos 250,3 milhões deles. A circulação total caiu 9% face a 2013, assim como o número de exemplares vendidos e oferecidos, com contracções de 5,9% e 12,6%, respectivamente.

Para as empresas deste sector, 60% das receitas ainda vêm da venda das publicações, enquanto e 34% da publicidade. No ano passado, as receitas totais diminuíram 2,3% e as despesas aumentaram 3%. Metade da circulação dos jornais foi vendida (a restante foi oferecida). Para as revistas, a circulação paga é maior: 76%.

Cinema americano continua a dominar as salas portuguesas

O cinema continua a tendência iniciada em 2002 de ter menos pessoas nas salas. Em 2014, houve 12,1 milhões de espectadores (menos 3,6% do que em 2013), com as receitas de bilheteiras a caírem 4,2%.  No total, foram exibidos 1.048 filmes em quase 570 mil sessões de cinema, que renderam 62,7 milhões de euros.

As salas de cinema continuam dominadas pelos filmes norte-americanos que ocuparam 56% das sessões e uma percentagem semelhante de espectadores. Ainda assim, observa-se um recuo face aos 63% de 2013. Quanto a filmes portugueses, foram exibidos 385 películas no ano passado, em 11% das sessões e tendo sido vistas por 4,6% dos espectadores (em 2013 houve 122 filmes vistos por 3% dos espectadores).

No que diz respeito aos espectáculos ao vivo, houve 29.666 espectáculos com 10,7 milhões de espectadores, dos quais 4,3 milhões pagaram bilhete, o que gerou receitas de 70,5 milhões de euros. As sessões não cresceram muito, mas os espectadores dispararam 21% e as receitas aumentaram 17%. A maior parte dos espectadores foram concertos de pop/rock (2.176), seguidos pelo teatro (1.720).

Câmaras gastam cada vez menos

O que também continuou a cair são os apoios públicos locais à cultura. As câmaras municipais gastaram 353 milhões de euros em 2014 com actividades culturais e criativas, menos 25 milhões do que em 2013, uma tendência iniciada em 2009.

As regiões onde houve maiores contracções destas despesas autárquicas foram Madeira (17,5%) e Centro (16,1%). Contudo, houve também reforços dos gastos em algumas, com destaque para Açores (7,2%) e Lisboa (6,7%).

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