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Fórum para a Competitividade: recessão pode chegar a 8% e défice também
Entidade considera que o retorno a um “novo normal” só acontecerá provavelmente em 2022 e recomenda um reforço da almofada de liquidez do Estado.
Num cenário benigno, a economia portuguesa registará uma contração de 4% este ano, antecipa o Fórum para a Competitividade na nota de conjuntura divulgada hoje. No entanto, "caso a crise se prolongue e as medidas tomadas permaneçam insuficientes", a quebra no PIB poderá agravar-se para 8%.
A entidade alerta que "estes valores estão sujeitos a revisão, mesmo a curto prazo, dada a avalanche de novidades em curso, assinalando que "a quarentena poderá ter que se prolongar ou vir mesmo a ser repetida dentro de alguns meses".
O Banco de Portugal divulgou a semana passada projeções atualizadas para a economia, prevendo uma recessão de 3,7% no cenário base e de 5,7% no cenário adverso em 2020, com o PIB a recuperar gradualmente nos anos seguintes.
O Fórum para a Competitividade acredita que o retorno a um "novo normal" só acontecerá provavelmente em 2022, "pois o retorno à atividade será muito gradual. "Desde logo porque não se está a obter imunidade coletiva (nem a registar a que se obteve) e esse regresso verá novos paradigmas de valores, objetivos, temores, hábitos, rotinas, tecnologias e consumos", justifica a nota.
A entidade recorre a cálculos do economista Ricardo Ferraz, professor no ISEG, que fazendo uma analogia com a crise de 2009 e assumindo que o regime de layoff simplificado vigorará durante três meses completos, calcula que o défice das contas públicas "poderá atingir entre os 8% e os 9% do PIB".
Neste cenário, as necessidades de financiamento do Estado (défice e amortizações de dívida) este ano chegariam aos 40 mil milhões de euros. Ricardo Ferraz recomenda, por isso, "um reforço da almofada financeira do Estado, para evitar uma nova crise de liquidez", independentemente de eventuais soluções que possam surgir à escala europeia.
O Fórum para a Competitividade deixa algumas questões sobre as medidas já anunciadas pelo governo para apoio à economia e outras que podiam ser implementadas: "por que razão o Estado não paga de imediato os valores em dívida, sobretudo os atrasados? Nos pagamentos por conta, para quê aumentar o reembolso no verão de 2021, se os fundos são imperiosos agora? Porque não suspender todos os prazos tributários que corram a favor dos sujeitos passivos (com a exceção dos de pagamento)? Se queremos simplificar, porque é que os condicionalismos de acesso aos incentivos fiscais, de segurança social e laborais diferem entre si?"