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Zona Euro continua a travar no arranque de 2019. Será Portugal uma exceção?

Os indicadores relativos ao início do ano sinalizam que a economia da Zona Euro continua com o pé no travão. Portugal pode ser a exceção com os dados a apontarem para uma recuperação.

AFP
Tiago Varzim tiagovarzim@negocios.pt 23 de Março de 2019 às 10:00

No início deste ano, os indicadores para a Zona Euro divulgados até agora deram maus sinais sobre o arranque da economia. A travagem iniciada no segundo semestre de 2018 deverá manter-se, mas Portugal parece ser uma exceção. Vários dados sobre já publicados sobre a economia portuguesa sinalizam uma melhoria.

Dúvidas houvesse, a profecia autoconcretizou-se: a economia europeia manteve a desaceleração iniciada no final do ano passado. Os dados preliminares do PMI – que avalia a atividade económica - publicados esta sexta-feira, 22 de março, sinalizam uma perda de ritmo de crescimento económico. O PMI da Zona Euro está num dos níveis mais baixos desde 2014, refletindo essencialmente a deterioração da produção industrial nas principais economias

As perspetivas parecem não melhorar pelo menos até ao final do primeiro semestre deste ano. A IHS Markit, que divulga o PMI, escreve que os dados sugerem que o crescimento económico vai ser ainda mais fraco no segundo trimestre. O economista-chefe da empresa estima um crescimento em cadeia de 0,2% no primeiro trimestre que, caso seja pior nos meses seguintes, põe em causa a previsão de crescimento acima de 1% definida pela Comissão Europeia.

Um sinal de que os próprios agentes económicos estão a interiorizar este ambiente de travagem económica passa pelo comportamento dos mercados financeiros. Os investidores mostram-se preocupados com o curto-prazo, o que explica que os juros nos EUA a três meses já estejam acima dos a 10 anos. Na Alemanha, os juros a dez anos entraram em terreno negativo.

Se é verdade que os indicadores agregados da Zona Euro continuam a apontar para uma travagem no início deste ano, vários economistas antecipam que o final do ano seja melhor, abrindo o caminho a uma aceleração em 2020, tal como prevê a maior parte das instituições internacionais. Na semana passada, um artigo da Bloomberg dava conta como o pior momento da recuperação económica mundial pós-crise financeira podia já ter ficado para trás, uma conclusão que não é alheia à ação dos bancos centrais que voltaram a adotar um discurso acomodatício.

Portugal será exceção?
O primeiro trimestre pode trazer uma narrativa diferente para Portugal a avaliar pelos indicadores que já foram divulgados sobre a atividade económica em janeiro e fevereiro. Exemplo disso é a melhoria do indicador de atividade económica do Instituto Nacional de Estatística (INE), em janeiro, e do indicador coincidente de atividade económica do Banco de Portugal (BdP), em fevereiro.

No caso do indicador do INE, a atividade económica aumentou 2,4% em janeiro de 2019 - a variação mais alta desde maio do ano passado -, beneficiando essencialmente da aceleração do investimento. Já o clima económico, disponível até fevereiro, também aumentou, revertendo a queda dos últimos meses. No caso do indicador do BdP, houve uma melhoria para 2,1% em fevereiro, o que representa a melhor leitura desde maio de 2018.

O Governo também acredita que Portugal não vai travar tanto quanto os parceiros europeus, mantendo-se a crescer acima da média da Zona Euro pelo terceiro ano consecutivo. "Todos os sinais que a economia nos fornece confirmam que é possível que assim aconteça", disse o primeiro-ministro, António Costa, no debate quinzenal desta semana. 

Contudo, é de notar que, em ambos, o consumo privado - que representa cerca de dois terços da economia portuguesa - desacelerou no arranque do ano. É ainda de assinalar que o indicador económico da OCDE para Portugal, que antecipa o andamento da economia nos próximos seis a nove meses, está em mínimo de quase seis anos

Os analistas do BPI admitiam, no relatório do pulso económico, que "no respeitante ao primeiro trimestre de 2019, os indicadores são positivos, mas apresentam sinais mistos". Apesar dessa ressalva, a conclusão é que os indicadores de atividade mais recentes "sugerem que a economia vai crescer durante o período inicial de 2019 a um ritmo sólido, embora um pouco inferior à média de 2018". No ano passado, a economia portuguesa cresceu 2,1%. 

Exportações, turismo e impostos dão bons sinais
A reforçar esta narrativa estão os dados mais específicos. Neste momento, os dados das exportações, do turismo e da receita fiscal, apesar de só se referirem a janeiro, já dão indicação de que a economia está em melhor estado.

As vendas de bens ao exterior subiram 4,1% no primeiro mês do ano, impulsionadas pelas exportações de material de transporte (onde se inclui os carros) e de fornecimentos industriais continuaram a crescer. As exportações para a Alemanha subiram 17% e para Espanha, o principal parceiro comercial, cresceram 7%. 

No caso das exportações de serviços, destaca-se o turismo, que em janeiro continuou a crescer, principalmente no segmento dos residentes. O número de hóspedes cresceu 7,2% e as dormidas subiram 4,7%, em termos homólogos, tendo ambos os indicadores acelerado face a dezembro

Já a receita fiscal parece continuar em alta, tal como aconteceu nos últimos dois anos. Este foi um dos argumentos usados por António Costa para dizer que a economia portuguesa continua saudável, apesar do "contexto internacional difícil". De facto, os dados de execução orçamental de janeiro comprovavam esse desempenho: no comunicado, o Ministério das Finanças adiantava que o IVA avançou 15,9%, o IRS 7,6% e o IRC disparou 84,4% e atribuía este comportamento "ao desempenho da economia".

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