Notícia
Tarifas adicionais de Trump tiram 1,1% ao PIB português em três anos, prevê BdP
Banco de Portugal estima que, se os Estados Unidos avançarem com tarifas adicionais de 25% e houver uma retaliação por parte da UE, o impacto na economia portuguesa será semelhante da Zona Euro. Investimento e consumo privado deverão retrair-se, sobretudo nos dois primeiros anos após a entrada em vigor das tarifas.
Caso os Estados Unidos venham a avançar com tarifas adicionais de 25% sobre todos os produtos europeus e a União Europeia (UE) responda na mesma moeda, a economia portuguesa deverá crescer menos 1,1% do que o previsto "no final de três anos". A estimativa é do Banco de Portugal (BdP) e consta do boletim económico divulgado esta quinta-feira.
"Uma vez que o peso dos EUA nas exportações portuguesas de bens (6,8%) é apenas ligeiramente inferior ao peso no comércio intra e extra da área do euro (8,2%), os resultados obtidos para Portugal são semelhantes aos obtidos para a área do euro: uma redução do PIB próxima de 0,7% ao fim de três anos e mais concentrada no primeiro ano", lê-se no boletim económico do BdP.
Juntando a esse impacto direto, a redução do investimento e do consumo privado, devido à incerteza geopolítica gerada, "o impacto global dos choques considerados aponta para uma redução cumulativa do PIB em torno de 1,1% no final de três anos, com os efeitos concentrados nos primeiros dois anos". Caso as tarifas avancem ainda este ano, é esperado que a variação do PIB cresça menos 0,9 pontos percentuais este ano e 0,4 pontos percentuais no próximo.
É de notar que os Estados Unidos são o quarto principal destino das exportações de bens portuguesas e o principal parceiro fora da UE. O peso dos Estados Unidos nas exportações de Portugal passou de 5% em 2019 para 6,7% em 2024, sem contar com os serviços que, pela sua natureza, não são abrangidos pelas tarifas. Em comparação com outros Estados-membros, Portugal é o terceiro país que mais depende dos EUA nas exportações para fora da UE.
O BdP nota, no entanto, que "a plena avaliação do impacto de eventuais tarifas sobre as exportações portuguesas é complexa e requer informação ainda não disponível".
Na apresentação do boletim económico, o governador do BdP, Mário Centeno, referiu que este é "um impacto indesejável" e "desnecessário", porque "as tarifas não levarão a economia mundial no bom sentido". Mas "é um cenário que está à nossa frente", sublinhou. Em causa está a nova vaga protecionista defendida pelo presidente norte-americano, Donald Trump. A 12 de março, os Estados Unidos aplicaram já tarifas de 25% sobre as exportações europeias de aço e alumínio.
O banco central defende que "o aumento das barreiras comerciais gera um ambiente de maior incerteza, com repercussões negativas na confiança dos agentes económicos fruto da imprevisibilidade de futuras políticas comerciais, da sua escala e duração, da possibilidade de medidas retaliatórias e da volatilidade induzida nos custos de produção e nos preços dos bens". É de esperar, por isso, uma retração no investimento e no consumo privado.
Isso faz com que o efeito das tarifas na economia portuguesa e nas demais economias europeias possa "multiplicar-se", alerta Mário Centeno. "Boa parte do canal está associado à confiança e se todos tomarmos a incerteza do mesmo modo, vamos todos tomar decisões que vão apoucar a economia" europeia, frisou.
(notícia atualizada às 12:03)