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INE volta a corrigir o PIB em alta. Porquê tantas correções?
Recentemente têm sido frequentes as revisões em alta do PIB. Como se justificam? O INE explica que é normal haver correções posteriores uma vez que a informação disponível aumenta ao longo do tempo.
Nos últimos anos, o INE reviu várias vezes a sua estimativa para o crescimento do PIB. Na maioria dos casos, as revisões foram em alta, ou seja, o número foi corrigido para cima. Nesta sexta-feira, a situação repetiu-se e o crescimento de 2018 e de 2019 foi revisto em alta em duas décimas.
Também desta vez, o Governo aproveitou a revisão em alta do PIB para enfatizar o bom desempenho da economia portuguesa nos últimos anos, tendo referido a magnitude das diferenças num comunicado. No passado, o primeiro-ministro, António Costa, fez questão de dizer que "todos os anos o INE tem revisto em alta as suas estimativas". Mas o que justifica esta frequente mudança nos números?
Esse efeito é ainda mais expressivo na divulgação da versão final das contas nacionais em setembro de cada ano. Esta versão final tem fontes de informação de "natureza mais sólida e completa", com um "elevado grau de detalhe", sendo algumas de origem administrativa (como os dados da Informação Empresarial Simplificada das empresas que podem atrasar-se e rever), segundo o INE.
E, se houve vários momentos em que os números foram revistos, também há informação de base a ser incorporada a cada trimestre que não implica revisões nas taxas de variação do PIB. Além disso, "embora nos últimos anos as revisões tenham sido sobretudo em alta, tal não se verifica sempre, tendo no passado ocorrido momentos de revisões em baixa", assinala fonte oficial.
Em novembro do ano passado, o gabinete de estatísticas publicou uma caixa sobre revisões do PIB onde defendia a sua credibilidade por comparação com os seus congéneres europeus. A conclusão era que, no que se refere à mudança da base das contas nacionais (que é uma revisão programada e regular), as revisões nacionais estavam em linha com a média simples (sem ponderação do peso do PIB) da União Europeia a 28.
"Portugal não se diferencia da média dos países da União Europeia no que respeita a revisões do PIB", sublinha o INE. Uma análise do Eurostat apontava para uma melhoria geral do Sistema Europeu de Contas uma vez que os efeitos da alteração da base das contas nacionais "foram muito menores" em 2019 face à revisão anterior aplicada em 2014, o que sugere que as estatísticas tornaram-se mais robustas.
As últimas revisões do PIB
A divulgação do PIB anual ocorre mês e meio após o fim do ano em causa, sendo alvo de uma segunda estimativa 15 dias depois. Os dados podem ser alvo de mais revisões nove meses depois do fim do ano e 21 meses depois, altura em que é publicada a versão final das contas nacionais desse ano.
Este calendário de publicações pode, por vezes, reescrever em parte a "história" estatística da economia. No caso de Portugal, as últimas atualizações das estatísticas têm mostrado que houve mais crescimento económico durante a legislatura passada face ao calculado anteriormente.
Fevereiro de 2020: Tanto o PIB de 2018 como o de 2019 foi revisto em alta em duas décimas, o que se traduziu num crescimento de 2,2% e de 2,6%, respetivamente. A revisão em alta deve-se "sobretudo à incorporação de nova informação da Balança de Pagamentos", justificou o gabinete de estatísticas, o que implicou uma reavaliação da balança de serviços de 511,8 milhões de euros no ano de 2018 e de 873,1 milhões de euros nos meses de janeiro a novembro de 2019.
Setembro de 2019: As principais diferenças ocorreram em 2016, 2017 e 2018. O PIB cresceu mais 0,1 pontos percentuais, 0,7 p.p. e 0,3 p.p., respetivamente, em cada um desses anos. O fator principal para um PIB maior foi a revisão em alta do investimento, principalmente no setor da construção, seguido das exportações.
Setembro de 2018: O PIB de 2016, o primeiro ano da legislatura anterior, foi revisto em alta em cinco décimas - principalmente por causa do investimento e do consumo privado - e o PIB de 2017 em oito décimas.