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Endividamento no centro das debilidades estruturais portuguesas
A Comissão Europeia continua a identificar desequilíbrios macroeconómicos na economia portuguesa. Como já tinha ficado explícito no final de Fevereiro, a dívida pública e a dívida privada estão no centro dos problemas referidos no relatório, publicado esta tarde, no âmbito do semestre europeu.
Bruxelas publicou hoje, 8 de Março, a análise aos desequilíbrios macroeconómicos de 18 países. O relatório já tinha sido conhecido no final do mês anterior. Portugal é colocado entre os cinco países com mais desequilíbrios (Bulgária, Croácia, França e Itália são os outros) e fica sujeito a "monitorização específica".
Como já era esperado, Portugal continua a registar desequilíbrios na sua economia. Entre as principais debilidades encontradas está o endividamento do Estado, assim como das famílias e empresas. "O elevado endividamento do sector privado continua a ser uma grande vulnerabilidade da economia portuguesa. Empresas não financeiras estão a ajustar os seus balanços, mas a um ritmo menor do que as famílias", pode ler-se no documento da Comissão. "O nível elevado de dívida empresarial pesa no desempenho das empresas e no investimento e o nível elevado de crédito malparado continua a constituir um risco para a estabilidade financeira e dificulta a alocação produtiva do crédito."
A Comissão Europeia admite que a resposta do Governo a estas dificuldades tem sido "apropriada", mas que os resultados estão a demorar a aparecer. Não são só as empresas que estão em dificuldades. O malparado é também um motivo para os bancos não acelerarem a concessão de crédito. Algo especialmente negativo, quando start-ups e PME continuam a ter dificuldades em aceder a financiamento através dos mercados de capitais.
O Estado tem problemas semelhantes de endividamento, com a dívida das Administrações Públicas ainda em níveis muito elevados. Os técnicos da Comissão sublinham que a dívida pública "é considerada sustentável em cenários plausíveis", mas que a sua trajectória é permeável a desenvolvimentos económicos negativos. "Disciplina orçamental e reformas estruturais que estimulem o crescimento sustentariam a sustentabilidade orçamental e a capacidade de atingir uma redução significativa da dívida", pode ler-se no documento.
Mas os desequilíbrios da economia portuguesa não são apenas financeiros. O mercado de trabalho é também motivo de preocupação, com quatro indicadores em violação dos limites definidos por Bruxelas: taxa de desemprego, taxa de actividade, taxa de desemprego de longa duração e taxa de desemprego jovem.
"A recuperação do mercado de trabalho continuou em 2014 e 2015, mas a absorção de um grande número de desempregados de longa duração permanece um desafio", refere a Comissão. "A negociação ao nível das empresas não está a arrancar, o que pode prejudicar o efectivo ajustamento necessário dos salários, que toma em linha de conta as diferenças entre empresas."
Como já vendo hábito, Bruxelas deixa também crítica à subida do salário mínimo, argumentando que, embora possa reduzir a intensidade da pobreza entre quem trabalha, irá comprimir a estrutura salarial e, caso não seja compensado pelo reforço da produtividade, "pode piorar as perspectivas de emprego para os menos qualificados".