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Vamos à festa

Os apreciadores de Alvarinhos têm um destino este fim-de-semana: o Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, onde decorre mais um Alvarinho Wine Fest.

03 de Junho de 2017 às 13:00
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O Alvarinho Wine Fest abre hoje no Pavilhão Carlos Lopes às 15 horas e fecha à meia noite.
Amanhã começa ao meio dia e fecha à mesma hora.
A entrada é gratuita e o copo de prova custa €3.

Num país de cultura vitícola, abrir uma garrafa é um exercício banal. Felizmente. Mas a verdade é que há vinhos mais cerimoniosos do que outros. Vinhos que, quando chegam à mesa, requerem a nossa atenção por estarmos à beira de descobrir aromas e sabores misteriosos, por vezes únicos.

O leitor poderá pensar que estamos a falar de vinho do Porto ou vinho da Madeira. E isso faz todo o sentido. Mas o mesmo pode acontecer com Alvarinhos. Alvarinhos novos e - muito em particular - Alvarinhos com tempo de garrafa. Neste sentido, o Alvarinho, do mais barato ao mais caro, do mais singelo ao mais trabalhado em madeira, é sempre um vinho festivo. Ninguém lhe é indiferente.

Claro que isso acontece por três razões: Primeiro, porque quando falamos de vinhos de Monção e Melgaço estamos perante o que de melhor se faz neste domínio. Segundo, porque um Alvarinho destas terras é um bem escasso e, terceiro (e mais importante) trata-se de um vinho voluptuoso e misterioso em matéria de aromas e sabores.

O meu único drama com Alvarinhos é uma certa falta de paciência a esperar por eles. Ou, dito de outra forma, a escassez de espaço e dinheiro para fazer uma garrafeira de sonho só com Alvarinhos para provar no tempo certo. Embora isto já seja da literatura, convém repetir a lengalenga, porque muita gente continua a destruir Alvarinhos antes do tempo. Um Alvarinho para revelar toda a sua riqueza de aromas e sabores precisa de um ano de garrafa. No mínimo porque, no meu caso, só as começo a abrir dois anos após a colheita.

É com este tempo que o vinho desenvolve aromas e sabores terciários que deslumbram. É com este tempo que percebemos que os Alvarinhos não são todos iguais. Quando novos, cheiram mais ou menos ao mesmo. Fruta tropical + fruta cítrica + notas florais e por aí fora. Com o tempo todos estes aromas integram-se e evoluem para notas minerais, notas salinas, folhas e flores secas e outras coisas difíceis de definir.

Por vezes, quando vejo um cliente num restaurante a pedir um Alvarinho de 2016 de determinada marca apetece-me recomendar-lhe que peça uma colheita mais recuada, mas, na verdade, se o tipo é feliz assim, quem sou eu para me meter. Além de que o mais provável seria o restaurante nem ter colheitas mais recuadas.


No ano passado, num restaurante estrelado no Algarve, serviram-me Alvarinho de 2015. Quando protestei educadamente, o escanção disse-me que os clientes "querem é isso". Ao que respondi: "Tenho a certeza de que se chegasse aqui um cliente e pedisse carne bem passada o chef sairia da cozinha para amavelmente explicar ao cliente que semelhante coisa não existe na carta." Remédio santo. Dali em diante o branco mais novo que me serviu tinha 5 anos. No final da refeição ficámos tempo sem fim a falar de brancos com idade.

Significa isto que não devemos provar Alvarinhos novos? Não. Significa apenas que devemos prová-los para tomar decisões de compra para as marcas que - pelo vinho em si ou pelo seu histórico - nos dão garantias de boa evolução. Donde, o melhor local este fim-de-semana para fazer tais avaliações é no Pavilhão Carlos Lopes, onde decorrerá a 3.ª edição do Alvarinho Wine Fest. E, realmente, quando podemos provar Alvarinhos de 20 produtores de Monção e Melgaço, isso só pode ser classificado como festa.

É nestas alturas que podemos, com calma e num ambiente cosmopolita, perceber as diferenças entre Alvarinhos de Monção e Melgaço (coisa que dá pano para mangas) e as diferenças entre modos de fermentação dos vinhos (só inox, só madeira ou a mistura dos dois).

Uma tarde à conversa com enólogos e produtores equivale, em termos pedagógicos, a muitos cursos de vinho apressados que proliferam por todo o lado. E não é só provar vinhos. É provar, petiscar com bons produtos da região e aprender com especialistas como se deve ligar o Alvarinho com a comida.

Donde, e como primeira cereja em cima do bolo, temos a hipótese de comprar garrafas dos vinhos que nos encantaram (já sabe, sempre mais do que uma porque vai guardá-la para daqui a um ano). Segunda cereja, neste fim-de-semana podemos ir à festa do Alvarinho e dar um salto à Feira do Livro de Lisboa, que é mesmo ao lado. Livros e Alvarinhos, que rico fim-de-semana.


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