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Surpresas da Herdade das Servas

Depois de solidificar a marca, a equipa da Herdade das Servas parece apostada em surpreender o mercado com produtos diferenciados. E faz muito bem.

29 de Outubro de 2016 às 16:00
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O negócio do vinho em Portugal tem peso no PIB, faz parte dos nossos hábitos alimentares e, nos últimos 30 anos, leva o nome do país aos mercados externos. No entanto, por mais que puxe pela memória, não me lembro - Mateus Rosé à parte - de uma única empresa ou marca que tenha despertado o interesse das universidades portuguesas. Vemos catedráticos interessados em estudar o impacto da Bimby no comportamento das famílias, mas não se vê interesse académico no estudo do sucesso meteórico de certas empresas vitícolas.

Ora, uma das empresas que começou do nada e se transformou num operador muito sério no sector do vinho, é a alentejana Herdade das Servas, que gere qualquer coisa como 300 hectares, distribuídos por áreas vitícolas diversificadas, onde entram vinhas novas e vinhas velhas, que crescem em terrenos de pedra rolada.

Não será só por isto, mas a relação qualidade-preço e a oferta de vinhos direccionados ao gosto de novos consumidores fizeram da Herdade das Servas um caso de sucesso comercial, de tal forma que determinadas colheitas têm de ser rateadas entre os distribuidores, coisa que só acontece com marcas históricas ou vinhos excepcionais.

Por trás desta performance está, também, uma estratégia comercial previdente, que passa mais por canais de distribuição não massificados (restauração e quase nada de hipermercados) e mercados externos sólidos (mais para a Europa e quase nada abaixo do Equador). Assim, os sustos com a crise são reduzidos.

Mas, como os mercados exigem um certo grau de inquietação (nunca se pode estar descansado) e os jornalistas precisam de novidades para os seus escritos, os irmãos Carlos e Luís Mira não só redesenharam o portefólio da empresa como lançaram vinhos com perfis diferenciados, três dos quais merecem a nossa atenção: o Herdade das Servas Alvarinho 2015, o tinto Herdade das Servas Unoaked 2015 e um Herdade das Servas Parcela V, de 2011.

O primeiro vinho é um Alvarinho que nada tem que ver com os Alvarinhos minhotos. Aqui não há frutas tropicais frescas, mas uma mistura de notas cítricas com mineralidade, folhas secas e especiarias. Na boca, excelente corpo, equilíbrio e nada de excessos de madeira. É, pode dizer-se, um Alvarinho alentejano. Ou, para não irritarmos o Luís Mira, um Alvarinho de Estremoz, porque "alentejanos", no mundo do vinho, há muitos. E Estremoz é um deles.

Temos depois um tinto jovem, da colheita passada, que tem a mais-valia de não ter passado por barricas de carvalho novo, pelo que nos chega com aromas e sabores muito primários das uvas fermentadas e com grande frescura. Nada temos contra o uso inteligente e moderado da madeira, mas, face aos excessos, sabe bem cheirar e beber um vinho que faz lembrar tintos alentejanos de outras eras e que, ao contrário do que muitas vezes se pensa, não só eram bem feitos como viviam bons anos em garrafa. Este Unoaked das Servas irá pelo mesmo caminho. O que quer dizer que será interessante prová-lo daqui por dois ou três anos.

E, finalmente, um vinho de estágio relativamente prolongado com a marca Servas. Já não era sem tempo. Um empresa como a Herdade das Servas vive das marcas que fazem grande volume, mas isso não deve impedir a produção de vinhos de nicho, que não só agradam aos clientes mais exigentes como revelam criatividade e saber por parte da equipa de enologia. E mais. Ao provarmos este Parcela V (feito a partir de vinhas com 70 anos), vem-nos à memória alguns tintos alentejanos (de Estremoz e não só) com aromas e sabores invulgares e desafiantes sempre que levamos o copo ao nariz e à boca. Notas vegetais, especiarias, bosque, cogumelos, está cá tudo o que dá mistério a um vinho.

Não queremos meter pressão na família Mira, mas, posto isto, ficamos à espera da próxima fornada.


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