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Sai um Barca Velha enigmático

Em 64 anos, este de 2008 é décimo oitavo Barca Velha. Como de costume, extraordinário, sempre diferente face às colheitas anteriores e feito para viver muitos anos em garrafa.

22 de Outubro de 2016 às 16:00
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Os responsáveis da Sogrape nunca dizem quanto vale uma colheita de Barca Velha para as contas da empresa, mas já têm deixado cair o valor de 1 milhão de euros. A nós parece-nos um nome número muito redondinho e assaz escasso, tendo em conta o valor de mercado do vinho e a quantidade de garrafas produzidas. Façamos algumas contas de merceeiro. Uma garrafa de Barca Velha de 2004 está à venda, em Portugal, por um valor que ronda os €400. Ora, se dermos por razoável uma produção de 25 mil garrafas (colheitas passadas já ultrapassaram as 30 mil), isto quererá dizer que estamos perante um valor de negócio de 10 milhões de euros. Por maior especulação de mercado que exista neste tipo de vinho - e ela existe à séria - ninguém acreditará que a facturação do grupo de Avintes com uma colheita de Barca Velha seja só 10% daquele valor. Mais. Se imaginarmos, com alguma razoabilidade, que uma garrafa de Barca Velha 2008 possa sair da Quinta da Leda, vá lá, a €150, este valor, vezes as 18 mil garrafas da actual colheita, dá 2,7 milhões de euros.

Tanto número e, perguntará o leitor já sem fôlego, mas afinal qual vai ser o preço de venda do novo Barca Velha 2008? Lá está, não se sabe. Pelo menos, esta semana. O valor que a empresa avança (acima dos €265) é obviamente irrealista, tanto mais que estamos perante uma quebra considerável de produção para um vinho sonhado e desejado como nenhum outro.

Como já andamos nisto há alguns anos, acreditamos que o valor de mercado será marcado pela Garrafeira Nacional, o operador de mercado lisboeta mais importante no comércio da marca. Depois, haverá quem venda a baixo e quem venda acima. €350, €380, €420? Mais? Para a semana, já deve haver notícias.

Se começamos, desta vez, por falar de um mítico vinho a partir de números, é apenas para que o leitor perceba a angústia do director de enologia da casa Ferreirinha na altura de decidir se determinada colheita é ou não Barca Velha. Luís Sottomayor tem sorte por trabalhar num empresa que respeita a liberdade de decisão dos enólogos e sente orgulho por ser guardião de uma marca que tem um passado a defender, mas não deve ser fácil estar nos seus sapatos na hora da decisão. Na prática, sobre ele não recai apenas o juízo do conselho de administração da Sogrape. Recai, também, julgamento de milhares de fãs do Barca Velha, que pagam bom dinheiro para sentir um vinho que é único quando é lançado e que continua nesse mesmo registo sempre que se abre uma garrafa dessa colheita 10, 20 ou 25 anos depois. Esta é a magia do Barca Velha.

E, como de costume, a colheita de 2008 nada tem que ver com as de 2000 ou de 2004, com excepção do factor surpresa, claro. E a surpresa, nesta colheita, parece-nos ser a tremenda juventude do vinho. Nunca tal tínhamos sentido num vinho que, convém realçar, foi feito em 2008. Às cegas, dificilmente se chegaria lá. Pelo que, só por isso, viverá brilhantemente em garrafa. O nariz é tão complexo que se torna difícil de descrever. E é nestas circunstâncias que o termo profundidade dá uma ajuda, querendo isto exacerbar o carácter enigmático do vinho. Há frutos vermelhos e pretos, há especiarias, há madeiras exóticas, há chocolate negro, há tabacos, há... sabemos lá. E, depois, muitas destas coisas regressam na boca, que tem tanto de finura como de força. Bons taninos, belíssima acidez e equilíbrio alcoólico. Elegância e força numa mesma garrafa não é assim tão frequente. E é esta mistura que dá algum carácter enigmático ao tinto.

Vinho festivo, foi apresentado em conformidade no Palácio de Monserrate, em Sintra, com os brindes da praxe por parte de Luís Sottomayor, Fernando Guedes pai e Fernando Guedes filho, que fez questão de brindar ao irmão Salvador. Bonito e comovente.


Para evitar a pergunta da praxe, Luís Sottomayor decidiu deixar escrito o momento em que teve a certeza de que 2008 seria ano de Barca Velha. Foi durante uma viagem à Terceira, num jantar entre amigos caçadores. Não que tenha levado no avião umas garrafas sem rótulo do actual Barca Velha. Levou foi outras de Quinta Leda 2008. E, ao aperceber-se da evolução do vinho, ficou com a certeza de que tudo estava no bom caminho. Enfim, o Barca Velha nasceu do Douro, mas foi decidido nos Açores. Até na "petite histoire", o vinho é fabuloso.
Preço de venda ao público ainda não conhecido.



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