Notícia
Sai o 17º Reserva Especial
Depois da colheita de 2008 ter dado um Barca Velha de perfil bem diferente, a de 2009 deu-nos um Reserva Especial excepcionalmente harmonioso. Desta vez, os vinhos não se aproximam, mas isso não impedirá conversa entre os aficcionados. Por cá, só dois tintos de uma mesma casa conseguem fazer isso.
28 de Outubro de 2017 às 13:00
Por mais voltas que o universo vitícola português dê, há um detalhe que não muda: o Barca Velha continua a ser um ícone, um sonho e uma festa. Nos últimos 40 anos, nasceram vinhos extraordinários, mas nenhum consegue destronar a notoriedade do tinto criado em 1952 por Fernando Nicolau de Almeida.
À partida o leitor pensará que chegou mais um Barca Velha. Não. Chegou o Reserva Especial 2009. Mas, lá está, não se pode falar de Reserva Especial sem falar de Barca Velha. Até na criação da segunda marca da Casa Ferreirinha houve genialidade. Não por ser algo inédito no mundo, mas pelo facto de a segunda marca ter sido quase sempre uma espécie de cópia aproximada da primeira, provocando rios de tinta e discussões acesas entre os aficcionados, bem como belíssimos proventos à Casa Ferreirinha/Sogrape. Como se sabe, tais discussões têm que ver com o facto de muita gente entender que algumas colheitas de Reserva Especial podiam ter sido declaradas como Barca Velha.
Em 65 anos, a História regista 18 edições de Barca Velha e 17 de Reserva Especial, mas a realidade é que são 35 colheitas para se falar até à exaustão de Barca Velha. Essa é que é essa.
Já sabemos que um tinto passa a Reserva Especial quando a equipa de enologia da Sogrape, liderada por Luís Sottomayor, entende que o vinho não atingiu os critérios de um Barca Velha. Ou seja, não conseguiu ingredientes de mistério e longevidade, visto que o vinho tem a obrigação de viver boas décadas em garrafa.
Sucede que um Reserva Especial é feito exactamente da mesma maneira que um Barca Velha. A selecção das castas, o cuidado na data de colheita, as fermentações e os detalhes de estágio dos vinhos são iguais porque, lá está, o objectivo de Luís Sottomayor é sempre atingir o patamar do Barca Velha. O que muda em todo o processo é a natureza, essa caprichosa que, felizmente, faz do vinho a mais genial das bebidas criadas pelo homem.
Assim, este Reserva Especial 2009 tem evidentemente um perfil muito próprio, que eu resumiria nestes termos: aromático e encantador à primeira, sendo que, mais de que qualquer ouro Reserva Especial anterior, está no ponto ideal para ser consumido. Isso não deve espantar quando estamos perante um vinho de 2009, mas se comprarmos com o Reserva Especial 2007, estamos perante coisas bem diferentes. O ano de 2009 foi quente, pelo que sentimos um vinho mais redondo, aveludado e guloso; o de 2007 foi mais fresco, pelo que o Reserva Especial tinha mais nervo e uma acidez bem mais expressiva.
Este tinto de 2009 também ganhará mistério em garrafa, mas está pronto como nunca, o que nos dá jeito para, de novo, dizermos que quando vinhos deste patamar são lançados (8 ou 9 anos de vida), eles estão prontos a ser consumidos. Uma coisa é termos finanças para comprar umas garrafas e abri-las espaçadamente no tempo, outra é termos uma garrafa Reserva Especial e adiarmos a sua abertura para eventos que nunca chegam. Se não se abriu no baptizado do filho, fica para a profissão de fé, para o crisma ou para o casamento do rapaz ou da rapariga que ocorrerá quando estes tiverem 40 anos. Nessa altura, podemos estar perante um vinho que outrora foi excepcional.
Certo é que quando se abre uma garrafa destas a conversa é interminável. Na passada quarta-feira, e num jantar no Palácio Nacional da Ajuda, a torrente de afirmações era tal que fiquei a pensar quão interessante seria produzir um pequeno vídeo com cada convidado a classificar o vinho com uma única palavra. Uma só. Eu cá diria "harmonia".
Claro que, como é da praxe, o que se repete em cada cerimónia de lançamento é a velha questão da angústia de Luís Sottomayor na hora da decisão entre Barca Velha e Reserva Especial e o impacto que esta tem nas contas do grupo (vender 18 mil garrafas a €170 não é mesma coisa que vendê-las a €400), tudo isso sempre com doses de humor de Fernando Guedes a propósito dos eventuais despedimentos pelo meio.
E se é certo que depois do perfil do Barca Velha de 2008, a colheita de 2009 só poderia ser Reserva Especial, Sottomayor resumiu o seu processo de decisão numa única palavra: "intuição". Coisa que, no vinho e noutras matérias, não está ao alcance de todos.
Nem precisamos de rodar o copo para sentir a fruta mais as especiarias, madeiras exóticas e as notas balsâmicas. Se se rodar, bom, é perfume nobre. Na boca, sedoso, com taninos redondos, aveludado e bom equilíbrio entre estrutura, álcool e acidez. Nem uma aresta de sente. Acima de tudo, guloso e harmonioso. Em tese, a Sogrape aponta um preço por garrafa à volta dos €175.
À partida o leitor pensará que chegou mais um Barca Velha. Não. Chegou o Reserva Especial 2009. Mas, lá está, não se pode falar de Reserva Especial sem falar de Barca Velha. Até na criação da segunda marca da Casa Ferreirinha houve genialidade. Não por ser algo inédito no mundo, mas pelo facto de a segunda marca ter sido quase sempre uma espécie de cópia aproximada da primeira, provocando rios de tinta e discussões acesas entre os aficcionados, bem como belíssimos proventos à Casa Ferreirinha/Sogrape. Como se sabe, tais discussões têm que ver com o facto de muita gente entender que algumas colheitas de Reserva Especial podiam ter sido declaradas como Barca Velha.
Em 65 anos, a História regista 18 edições de Barca Velha e 17 de Reserva Especial, mas a realidade é que são 35 colheitas para se falar até à exaustão de Barca Velha. Essa é que é essa.
Já sabemos que um tinto passa a Reserva Especial quando a equipa de enologia da Sogrape, liderada por Luís Sottomayor, entende que o vinho não atingiu os critérios de um Barca Velha. Ou seja, não conseguiu ingredientes de mistério e longevidade, visto que o vinho tem a obrigação de viver boas décadas em garrafa.
Assim, este Reserva Especial 2009 tem evidentemente um perfil muito próprio, que eu resumiria nestes termos: aromático e encantador à primeira, sendo que, mais de que qualquer ouro Reserva Especial anterior, está no ponto ideal para ser consumido. Isso não deve espantar quando estamos perante um vinho de 2009, mas se comprarmos com o Reserva Especial 2007, estamos perante coisas bem diferentes. O ano de 2009 foi quente, pelo que sentimos um vinho mais redondo, aveludado e guloso; o de 2007 foi mais fresco, pelo que o Reserva Especial tinha mais nervo e uma acidez bem mais expressiva.
Este tinto de 2009 também ganhará mistério em garrafa, mas está pronto como nunca, o que nos dá jeito para, de novo, dizermos que quando vinhos deste patamar são lançados (8 ou 9 anos de vida), eles estão prontos a ser consumidos. Uma coisa é termos finanças para comprar umas garrafas e abri-las espaçadamente no tempo, outra é termos uma garrafa Reserva Especial e adiarmos a sua abertura para eventos que nunca chegam. Se não se abriu no baptizado do filho, fica para a profissão de fé, para o crisma ou para o casamento do rapaz ou da rapariga que ocorrerá quando estes tiverem 40 anos. Nessa altura, podemos estar perante um vinho que outrora foi excepcional.
Certo é que quando se abre uma garrafa destas a conversa é interminável. Na passada quarta-feira, e num jantar no Palácio Nacional da Ajuda, a torrente de afirmações era tal que fiquei a pensar quão interessante seria produzir um pequeno vídeo com cada convidado a classificar o vinho com uma única palavra. Uma só. Eu cá diria "harmonia".
Claro que, como é da praxe, o que se repete em cada cerimónia de lançamento é a velha questão da angústia de Luís Sottomayor na hora da decisão entre Barca Velha e Reserva Especial e o impacto que esta tem nas contas do grupo (vender 18 mil garrafas a €170 não é mesma coisa que vendê-las a €400), tudo isso sempre com doses de humor de Fernando Guedes a propósito dos eventuais despedimentos pelo meio.
E se é certo que depois do perfil do Barca Velha de 2008, a colheita de 2009 só poderia ser Reserva Especial, Sottomayor resumiu o seu processo de decisão numa única palavra: "intuição". Coisa que, no vinho e noutras matérias, não está ao alcance de todos.
Nem precisamos de rodar o copo para sentir a fruta mais as especiarias, madeiras exóticas e as notas balsâmicas. Se se rodar, bom, é perfume nobre. Na boca, sedoso, com taninos redondos, aveludado e bom equilíbrio entre estrutura, álcool e acidez. Nem uma aresta de sente. Acima de tudo, guloso e harmonioso. Em tese, a Sogrape aponta um preço por garrafa à volta dos €175.