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O'phelia: Abençoada criatividade

Um cervejeiro português e uma destilaria irlandesa juntaram-se para fazer uma cerveja. Como era preciso um nome sonante desenterraram uma lenda. E assim nasceu a O´phelia - um tributo ao universo irreverente das cervejas artesanais.

Esta é uma edição limitada de 3.500 garrafas de 0,5 litros. Cada uma custará cerca de 7,5€
18 de Fevereiro de 2017 às 16:00
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Os primeiros cervejeiros artesanais portugueses com ambição nasceram há coisa de 10 anos, mas já levam uma pedalada que faz favor. Aliás, da última vez que escrevemos sobre o assunto aqui no Weekend (há dois anos) avançámos que em Portugal existiriam uns trinta cervejeiros com marca no mercado. Hoje, se lhe acrescentarmos mais dez, estaremos a ser muito conservadores.

Quando toda esta aventura arrancou os cépticos trataram logo de torcer o nariz aos rapazes imberbes, barbudos e tatuados que tinham a mania de, com os amigos, treinar umas fermentações elementares na cozinha, com artefactos primários. Que Portugal não era país de tradição cervejeira, que por cá nunca se faria nada comparável à realidade belga ou à dinamarquesa e, acima de tudo, que não haveria gente na Pátria para pagar 4€, 6€ ou 8€ por uma garrafa. A cerveja artesanal era uma coisa de "nerds". Na melhor da hipóteses, serviria para o Francisco José Viegas escrever umas belas crónicas no Diário de Notícias.

Pois é. Hoje, os velhos do Restelo da praxe, têm de aceitar que a criatividade e a capacidade técnica de alguns cervejeiros nacionais é tal que os prémios internacionais começam a aparecer. Em cerca de 10 anos, Portugal criou massa crítica que já não nos envergonha em encontros internacionais. São poucos, ainda, mas já não vão a medo.

E, quer-me parecer, que uma das variáveis da equação que mais fez pelo sucesso das cervejas artesanais portuguesas foi a troca de experiências entre os amadores/ /principiantes de cá e alguns reputados mestres cervejeiros internacionais. Foram estes que adicionaram conhecimento e tecnologia à vontade dos novos cervejeiros. E foram estes que acabaram por introduzir em Portugal o hábito dos cervejeiros de marcas diferentes reunirem-se para criar novas cervejas com a assinatura comum. Como a cerveja artesanal criou uma espécie de tribo, as criações conjuntas são até um trunfo de marketing. Por exemplo, a Letra, de Vila Verde, e a Dois Corvos, de Lisboa, são dois dos mais importantes cervejeiros nacionais. Recentemente juntaram-se e criaram a marca V Império, que se traduz em duas cervejas Saison: uma estagiada em barris de Moscatel e outra em cascos de vinho do Porto.

Ora, hoje o que nos interessa é a parceria entre a empresa Faustino Microcervejeira (um dos mais importantes cervejeiros nacionais com a marca Maldita) e a Pernod Ricard, dona da Jameson Irish Whiskey que, claro, dispensa apresentações.

Tecnicamente falando, a coisa é muito simples: os responsáveis das duas empresas juntaram-se para fazer uma cerveja (uma Irish Pale Ale) com estágio em barris que tivessem levado whiskey Jameson, juntando numa só garrafa o melhor de dois mundos: o da cerveja e o do whiskey.

E, se até aqui estamos perante questões técnicas, a criação da marca, da imagem e de toda a narrativa já é uma coisa mais fina. Mais profissional. Desde logo o nome O'phelia.


A primeira vez que ouvi falar do nome (sem ver a grafia) fiquei meio assustado: Não queres ver que estes tipos foram descobrir um vício qualquer da namoradinha de Fernando Pessoa? Mas não. Não era essa.

Esta O'phelia recupera uma lenda com 1000 anos, segundo a qual uma donzela que vivia na Lusitânia ficou a vida inteira à espera que o pai - grande guerreiro e cervejeiro - regressasse de umas conquistas na Irlanda. Como queria fazer-lhe uma surpresa, começou a fazer cerveja. E, a dada altura, apercebeu-se de que a cerveja melhorava quando estagiava em barricas de whiskey. Conta ainda a história que a moça terá morrido antes do regresso do pai.

Lá está, a veracidade da história não interessa para nada. O que aqui conta é que para uma boa cerveja - a O'phelia - os dois parceiros arranjarem uma bela narrativa e uma fantástica imagem de marca, com a participação de publicitários de referência. Nessa matéria, carácter artesanal só se for o que está dentro de garrafa. E o que está? Uma cerveja escura com laivos acastanhados e vermelhos, aromas de caramelo madeira e - a sua grande virtude - um corpo denso, com pouco gás e muito cremoso. Deve ser degustada com pequenos goles, mas quando damos por ela, já a garrafa está quase vazia.

Portanto, uma cerveja séria, com uma boa história e que faria um velho do Restelo corar de vergonha.


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