Notícia
Anda por aí um marquês novo e vestido em conformidade
À marca emblemática de João Portugal Ramos faltava algo entre o Colheita e o Reserva. É este finório Marquês de Borba Vinhas Velhas, na versão de branco e tinto.
23 de Junho de 2018 às 13:00
Quando os mercados estão saturados de um produto e com os preços sob pressão, os produtores reinventam-se na componente do produto, na sua roupagem, no seu conceito ou nos processos de comunicação. Ficar parado e viver de sucessos passados, não dá mesmo. Querem um belo exemplo? Este novo Marquês de Borba Vinhas Velhas.
Haverá muitas formas de definir João Portugal Ramos (JPR), com papers necessariamente longos, mas eu, sem jeito para slogans, resumo a coisa desta forma: "É o enólogo/empresário fundador da história contemporânea da viticultura em Portugal." E pronto.
Criador no Alentejo, Douro, Verdes e Beiras (a Falua, no Tejo, foi vendida aos franceses do Grupo Roulier), é bem provável que o vinho que mais rapidamente se associe a este enólogo seja o Marquês de Borba, quer pela força da relação qualidade/preço (é dos vinhos mais vendidos em Portugal na faixa dos €5), quer pela notoriedade da categoria Marquês de Borba Reserva, que, desde 1997, prova que os tintos de Estremoz evoluem bem com o tempo.
Marca de grande volume, o Marquês de Borba tinha, todavia, um problema. É que, entre o Colheita (com bom preço) e o Reserva (mais caro) havia um fosso para tapar. E é por isso que, a partir de uma fase de reestruturação e de conclusão de grandes obras na João Portugal Ramos Vinhos, em Estremoz, nasce o Marquês de Borba Vinhas Velhas (branco e tinto), destinado às garrafeiras de referência e à restauração mais exigente.
E como um marquês (novo ou velho) tem sempre de se apresentar com estilo perante a sociedade, Duarte Pinheiro de Melo, da agência Humanista, vestiu a nova garrafa com um rótulo senhorial, a puxar pelos pergaminhos aristocráticos da marca. Sóbrio, elegante, sem ruídos ou barroquismos. De maneira que, espumante incluído, teremos agora Marquês de Borba Colheita e Marquês de Borba Vinhas Velhas com os novos rótulos, sendo que o Marquês de Borba Reserva ficará com o clássico rectângulo pequeno aparado nas pontas. Bem pensado.
Se eu provasse às cegas estes vinhos (sistema que prezo e que levou Portugal Ramos a pregar uma partida aos presentes e que um destes dias dará para outra crónica) diria o seguinte: gosto do branco e gosto muito do tinto. Mas se depois me dissessem que os vinhos custarão cerca de €13/€14 nas garrafeiras, oh, meus amigos, aqui teria de carregar nas notas. Para um produtor que, com a venda da Falua, diz ter dado "baixa do alvará dos vinhos baratos" e que anda muito preocupado com o aumento do preço das uvas no Alentejo, eu cá acho que o preço destes Vinhas Velhas é muito amigo dos consumidores de bom gosto. O preço das garrafeiras, claro, porque na restauração, o valor, como de costume, será multiplicado três ou quatro vezes.
E antes que me cresça a azia com o modus operandi da restauração (que leva alguns cavalheiros do sector a chamarem-me de ignorante), vamos em detalhe aos dois vinhos. O branco feito com Arinto, Roupeiro, Antão Vaz e um pouco de Alvarinho, fermenta totalmente em barricas de 300 litros, pelo que a primeira coisa que sentimos é a técnica de fermentação e o trabalho da batonage, logo seguido das notas de fruta e flores variadas (da toranja à azeitona verde, passando pelos flores de tília). Na boca, um vinho com patine, volume, mas nada chato. Pelo contrário, bem equilibrado em matéria de estrutura, álcool e acidez. Eu cá gostarei estarei atento à evolução deste branco em garrafa magnum.
O tinto tocou-me mais pelo facto de, proveniente de uma terra quente, se apresentar fresco, desafiante com as comidas e, ainda assim, com finura. Não sei se é por ter bocadinho de Castelão (casta que muito aprecio) entre o Aragonês e o Alicante Bouschet e um todo nada de Syrah, mas lá que há por aqui uma complexidade de aromas e sabores, lá isso há. Temos frutos pretos, pois claro, mas também a casca de ameixa e aquele carácter vegetal que dá sempre vida aos tintos. Belo vinho, sim, senhor.
Se resumimos inicialmente a vida do enólogo numa frase, podemos rematar tudo isto dizendo que temos marqueses novos muito bem feitos, vestidos a rigor e por preços bem catitas. É João Portugal Ramos a fazer das suas.
Haverá muitas formas de definir João Portugal Ramos (JPR), com papers necessariamente longos, mas eu, sem jeito para slogans, resumo a coisa desta forma: "É o enólogo/empresário fundador da história contemporânea da viticultura em Portugal." E pronto.
Marca de grande volume, o Marquês de Borba tinha, todavia, um problema. É que, entre o Colheita (com bom preço) e o Reserva (mais caro) havia um fosso para tapar. E é por isso que, a partir de uma fase de reestruturação e de conclusão de grandes obras na João Portugal Ramos Vinhos, em Estremoz, nasce o Marquês de Borba Vinhas Velhas (branco e tinto), destinado às garrafeiras de referência e à restauração mais exigente.
E como um marquês (novo ou velho) tem sempre de se apresentar com estilo perante a sociedade, Duarte Pinheiro de Melo, da agência Humanista, vestiu a nova garrafa com um rótulo senhorial, a puxar pelos pergaminhos aristocráticos da marca. Sóbrio, elegante, sem ruídos ou barroquismos. De maneira que, espumante incluído, teremos agora Marquês de Borba Colheita e Marquês de Borba Vinhas Velhas com os novos rótulos, sendo que o Marquês de Borba Reserva ficará com o clássico rectângulo pequeno aparado nas pontas. Bem pensado.
Se eu provasse às cegas estes vinhos (sistema que prezo e que levou Portugal Ramos a pregar uma partida aos presentes e que um destes dias dará para outra crónica) diria o seguinte: gosto do branco e gosto muito do tinto. Mas se depois me dissessem que os vinhos custarão cerca de €13/€14 nas garrafeiras, oh, meus amigos, aqui teria de carregar nas notas. Para um produtor que, com a venda da Falua, diz ter dado "baixa do alvará dos vinhos baratos" e que anda muito preocupado com o aumento do preço das uvas no Alentejo, eu cá acho que o preço destes Vinhas Velhas é muito amigo dos consumidores de bom gosto. O preço das garrafeiras, claro, porque na restauração, o valor, como de costume, será multiplicado três ou quatro vezes.
E antes que me cresça a azia com o modus operandi da restauração (que leva alguns cavalheiros do sector a chamarem-me de ignorante), vamos em detalhe aos dois vinhos. O branco feito com Arinto, Roupeiro, Antão Vaz e um pouco de Alvarinho, fermenta totalmente em barricas de 300 litros, pelo que a primeira coisa que sentimos é a técnica de fermentação e o trabalho da batonage, logo seguido das notas de fruta e flores variadas (da toranja à azeitona verde, passando pelos flores de tília). Na boca, um vinho com patine, volume, mas nada chato. Pelo contrário, bem equilibrado em matéria de estrutura, álcool e acidez. Eu cá gostarei estarei atento à evolução deste branco em garrafa magnum.
O tinto tocou-me mais pelo facto de, proveniente de uma terra quente, se apresentar fresco, desafiante com as comidas e, ainda assim, com finura. Não sei se é por ter bocadinho de Castelão (casta que muito aprecio) entre o Aragonês e o Alicante Bouschet e um todo nada de Syrah, mas lá que há por aqui uma complexidade de aromas e sabores, lá isso há. Temos frutos pretos, pois claro, mas também a casca de ameixa e aquele carácter vegetal que dá sempre vida aos tintos. Belo vinho, sim, senhor.
Se resumimos inicialmente a vida do enólogo numa frase, podemos rematar tudo isto dizendo que temos marqueses novos muito bem feitos, vestidos a rigor e por preços bem catitas. É João Portugal Ramos a fazer das suas.