Notícia
A aventura começou ontem
Em provas verticais nem sempre sentimos diferenças entre uma colheita e outra. São as chamadas verticais secantes. Com a linha Grande Reserva da Quinta Nova, isso não acontece. Respeita-se aquilo que o tempo dá.
14 de Outubro de 2017 às 13:15
Cada Quinta Nova Grande Reserva custará cerca €55. Este 2015 é um belo exemplar do perfil equilibrado da Touriga Nacional.
Não se sabe com rigor se foi a baronesa Philippine de Rothschild a garantir que "o negócio do vinho é algo bastante fácil: só os primeiros 200 anos é que custam". Pouco importa. O que interessa é que a frase é de belo efeito. E certeira.
Lembro-me muitas vezes da história quando penso nos vinhos DOC do Douro. Como a região permanece na crista da onda há cerca de 15/20 anos, dá ideia de que já se fazem tintos e brancos durienses de nomeada há muitas décadas. Engano. Enquanto região DOC, o Douro é uma criança acabada de nascer. É certo que tem levado - e bem - o nome de Portugal pelo mundo, mas terá ainda de percorrer muito para indicar ao mercado o que vai ser o perfil dos seus brancos e tintos.
Recentemente, a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo organizou uma interessante prova vertical da sua marca de topo: o Quinta Nova Grande Reserva. Agora, reparem nisto. A quinta do século XVIII está na posse da família Amorim há 18 anos, mas, para a tal prova, Luísa Amorim e o enólogo Jorge Alves só apresentaram nove colheitas entre 2005 e 2015.
De certa maneira, os jornalistas que participaram no evento são uns felizardos porque, a partir da prova destes e de outros vinhos de diferentes produtores, testemunham a evolução dos vinhos DOC Douro em muito pouco tempo. E isso é didáctico.
A prova dos Quinta Nova Grande Reserva (tintos que testemunham um trabalho apurado na procura das melhores uvas de cada micro terroir da propriedade) revelou diferenças que - anos climáticos à parte - se devem também aos enólogos que passaram pela adega e às selecções de castas e parcelas ao longo do tempo.
Confesso que, à partida, estava à espera de sentir algum peso excessivo da Touriga Nacional ou, ainda, a presença das notas vincadas do carvalho nalgumas colheitas, mas tal não aconteceu.
Logo a abrir chegou-nos um Grande Reserva 2005 com algumas notas de evolução, é certo, mas ainda cheio de vigor, mineralidade e tensão na prova de boca, com taninos bastante secos. Fantástico. E se o 2006 revelou mais estrutura, mais peso e doçura, o 2007 regressa com uma profundidade notável em matéria de aromas e sabores (flores, fruta, mas também especiarias), sendo que o 2008 leva-nos para o perfil do 2005 (vegetal, mineral e seco).
A colheita de 2009 está toda mais domada, mais redonda, com notas de flores e frutos pretos, escondendo-se um pouco porque logo a seguir damos de caras com o mítico tinto de 2011 (em 2010, não se engarrafou Grande Reserva), todo ele concentradíssimo de fruta, volume e extracção, com doçura e raça ao mesmo tempo.
Para a maioria dos provadores com muitos anos nesta vida, a colheita de 2011 é sinónimo a perfeição. Nada se lhe compara, falemos de um pequeno produtor do Baixo Corgo ou de uma casa consagrada do Douro Superior. Por acaso, e quando provo vinhos da colheita de 2012 - como por exemplo o Quinta Nova Grande Reserva - fico muito mais fascinado com tais tintos mais frescos, menos brutos e mais elegantes - com umas notas fantásticas de frutos não enjoativos.
Sempre que posso provo, em simultâneo, vinhos de 2011 e 2012 de um mesmo produtor para perceber que caminhos trilham os vinhos. Pode ser que a colheita de 2011 esteja a comportar-se à laia de Porto Vintage, fechando-se nesta fase para se revelar mais tarde. Pode ser. Mas, por enquanto, sinto mais atracção pelos 2012.
A prova lá seguiu com a colheita de 2013 (mais fechada, com notas de barrica e fruta à mistura), para terminar em grande com um 2015 que, em prova cega, não enganaria um principiante. O vinho cheira a Touriga Nacional e a Douro por todo o lado, dando por vezes a sensação de estarmos perante um clássico Vintage.
À conversa sempre humorada e pedagógica com os jornalistas, Jorge Alves dizia-nos que, nesta fase, tem muito bem definidas as parcelas de vinha que produzem as uvas perfeitas para o Grande Reserva. Ele sabe disto a potes. Mas quando pensamos nas dinâmicas do negócio, nas modas e nesse clima que flipou de vez, é evidente que a sua procura pela perfeição é interminável.
Duas coisas são certas. Primeiro, a prova da Quinta Nova teve a virtude de mostrar que não é desejo da equipa liderada por Luísa Amorim fazer tintos para imitar colheitas anteriores. Segundo, dos tais 200 anos difíceis, dezoito estão bem superados. Só faltam 182 com este rumo.
Não se sabe com rigor se foi a baronesa Philippine de Rothschild a garantir que "o negócio do vinho é algo bastante fácil: só os primeiros 200 anos é que custam". Pouco importa. O que interessa é que a frase é de belo efeito. E certeira.
Recentemente, a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo organizou uma interessante prova vertical da sua marca de topo: o Quinta Nova Grande Reserva. Agora, reparem nisto. A quinta do século XVIII está na posse da família Amorim há 18 anos, mas, para a tal prova, Luísa Amorim e o enólogo Jorge Alves só apresentaram nove colheitas entre 2005 e 2015.
De certa maneira, os jornalistas que participaram no evento são uns felizardos porque, a partir da prova destes e de outros vinhos de diferentes produtores, testemunham a evolução dos vinhos DOC Douro em muito pouco tempo. E isso é didáctico.
A prova dos Quinta Nova Grande Reserva (tintos que testemunham um trabalho apurado na procura das melhores uvas de cada micro terroir da propriedade) revelou diferenças que - anos climáticos à parte - se devem também aos enólogos que passaram pela adega e às selecções de castas e parcelas ao longo do tempo.
Confesso que, à partida, estava à espera de sentir algum peso excessivo da Touriga Nacional ou, ainda, a presença das notas vincadas do carvalho nalgumas colheitas, mas tal não aconteceu.
Logo a abrir chegou-nos um Grande Reserva 2005 com algumas notas de evolução, é certo, mas ainda cheio de vigor, mineralidade e tensão na prova de boca, com taninos bastante secos. Fantástico. E se o 2006 revelou mais estrutura, mais peso e doçura, o 2007 regressa com uma profundidade notável em matéria de aromas e sabores (flores, fruta, mas também especiarias), sendo que o 2008 leva-nos para o perfil do 2005 (vegetal, mineral e seco).
A colheita de 2009 está toda mais domada, mais redonda, com notas de flores e frutos pretos, escondendo-se um pouco porque logo a seguir damos de caras com o mítico tinto de 2011 (em 2010, não se engarrafou Grande Reserva), todo ele concentradíssimo de fruta, volume e extracção, com doçura e raça ao mesmo tempo.
Para a maioria dos provadores com muitos anos nesta vida, a colheita de 2011 é sinónimo a perfeição. Nada se lhe compara, falemos de um pequeno produtor do Baixo Corgo ou de uma casa consagrada do Douro Superior. Por acaso, e quando provo vinhos da colheita de 2012 - como por exemplo o Quinta Nova Grande Reserva - fico muito mais fascinado com tais tintos mais frescos, menos brutos e mais elegantes - com umas notas fantásticas de frutos não enjoativos.
Sempre que posso provo, em simultâneo, vinhos de 2011 e 2012 de um mesmo produtor para perceber que caminhos trilham os vinhos. Pode ser que a colheita de 2011 esteja a comportar-se à laia de Porto Vintage, fechando-se nesta fase para se revelar mais tarde. Pode ser. Mas, por enquanto, sinto mais atracção pelos 2012.
A prova lá seguiu com a colheita de 2013 (mais fechada, com notas de barrica e fruta à mistura), para terminar em grande com um 2015 que, em prova cega, não enganaria um principiante. O vinho cheira a Touriga Nacional e a Douro por todo o lado, dando por vezes a sensação de estarmos perante um clássico Vintage.
À conversa sempre humorada e pedagógica com os jornalistas, Jorge Alves dizia-nos que, nesta fase, tem muito bem definidas as parcelas de vinha que produzem as uvas perfeitas para o Grande Reserva. Ele sabe disto a potes. Mas quando pensamos nas dinâmicas do negócio, nas modas e nesse clima que flipou de vez, é evidente que a sua procura pela perfeição é interminável.
Duas coisas são certas. Primeiro, a prova da Quinta Nova teve a virtude de mostrar que não é desejo da equipa liderada por Luísa Amorim fazer tintos para imitar colheitas anteriores. Segundo, dos tais 200 anos difíceis, dezoito estão bem superados. Só faltam 182 com este rumo.