Notícia
Os oito lados da existência
Em Octaedro o escritor argentino Julio Cortázar escreve oito contos como se quisesse que observássemos a realidade a partir de muitos e variados pontos.
Julio Cortázar
OctaedroCavalo de Ferro,
125 páginas, 2017
Nestes contos há também o lugar para a ambiguidade suprema, como em "Lugar Chamado Kindberg", onde um cidadão de meia idade dá boleia a uma jovem "hippie" à beira de uma estrada deserta. A relação que se estabelece entre os dois, visível nos diálogos num hotel que parece não ter mais ninguém, é curiosa: ele pensa em sexo, mas ao mesmo tempo vai tentando convencer a jovem de que o desencanto com a vida não é uma coisa positiva.
No mundo da escrita fantástica de outros escritores da América Latina, Cortázar é muito mais reservado nos delírios. Ainda assim, em "Verão", um casal que está de regresso à cidade acolhe uma menina e, enquanto esta dorme, surge um cavalo enlouquecido no quintal. Será este o fruto de um sonho da menina? No fundo, o que Cortázar aqui nos traz é um conjunto de histórias que, sendo diferentes, poderiam ser partes integrantes de um todo, as diferentes faces de uma verdadeira figura que tentamos conhecer, apesar de isso ser impossível.
Ao longo das páginas vamos encontrando uma série de amores ardentes, viagens comuns e outras violentas, mistérios existenciais e outros simplesmente comovedores. O autor parece desejar que cada conto seja uma forma de o leitor acabar por não ficar num lugar cómodo. Instiga à reflexão. Todos os contos confrontam o leitor com questões como a solidão, a dor, a nostalgia e, sobretudo, a vida.
As surpresas que encontramos em cada história são um jogo que o autor propõe ao leitor, como se jogasse uma carta e quisesse uma réplica. Entre o irreal e o fantástico, Cortázar acaba por transformar sinais abstractos em acontecimentos concretos, mas com diferentes pontos de vista possíveis.
Nos contos constroem-se pequenas conexões com o nosso subconsciente, transportando-nos para um mundo onde os sonhos podem ou não ser. É um labirinto onde nos vamos perdendo e, ao mesmo tempo, encontrando.
A capacidade criativa do autor atira-nos exactamente para esse território das situações menos comuns, onde o que às vezes importa é a escrita e os sonhos que ela transporta para defronte dos nossos olhos. E, isso, Cortázar sabe fazer com grande capacidade e qualidade. Buscamos a essência do ser humano. Mas esse é um desafio sem fim.
DESTAQUES
Ben Lerner
Ódio à Poesia
Elsinore,
103 paginas, 2017
O que é que a poesia tem?
A poesia não é um género literário consensual. Uns amam-na, outros evitam-na. E há quem lhe tenha mesmo ódio. É a razão desta postura radical que motivou o autor deste livro, um professor, a tentar entender essas razões. O resultado é um livro refrescante que nos motiva a discutirmos a questão da poesia neste país de poetas, como se costuma dizer, e de, sobretudo, a lermos, tal como ela merece. Sujeita a paixões e a críticas.
Vários
A Revolução Russa, 100 anos depois
Parsifal,
198 páginas, 2017
O que foi a Revolução Russa
Um século depois, como é que analisamos a Revolução Russa, desde os seus fundamentos às consequências que teve para a Rússia e também para o mundo? É sobre esse tema que reflectem neste livro nomes como António Louçã, Constantino Piçarra, Fernando Rosas, Francisco Louçã, Rui Bebiano ou José Manuel Lopes Cordeiro. Reflexões estimulantes para compreendermos as diferentes vertentes desse acontecimento que transformou o planeta.
Nuno Crespo/Maria João Tomás
A Internacionalização da Economia Portuguesa
Temas & Debates,
431 páginas, 2017
Sucessos empresariais em Portugal
Num volume coordenado por Nuno Crespo e Maria João Tomás, vários autores analisam o comportamento da economia portuguesa, nomeadamente os seus casos de sucesso ao nível da internacionalização. Desde a importância da diplomacia económica aos desafios culturais que essa internacionalização coloca, muitos são os contributos para se perceber esta "vocação exportadora" do país. Um volume para perceber melhor os contornos da nossa economia.