Notícia
Onde estão os deuses americanos?
Notável autor, Neil Gaiman escreveu há mais de uma década este grande romance, “Deuses Americanos”, ensaio ficcionado sobre o cruzamento de culturas místicas nos Estados Unidos.
Neil Gaiman
Deuses Americanos
Editorial Presença, 491 páginas, 2017
A crise americana é bem visível em Hollywood. Com falta de boas ideias, o cinema vira-se para a adaptação das aventuras de super-heróis. Na televisão, há mais criatividade. E alguma dela vem da adaptação de bons livros. É o caso de "Deuses Americanos", de Neil Gaiman, renascido após o surgimento da sua versão televisiva. O mais interessante é que este é um livro actual, como já o fora quando foi editado.
Entre as mitologias de ontem e de hoje, Gaiman (muito ligado também ao universo da banda desenhada) constrói um universo onde viajamos vertiginosamente. Está repleto de personagens misteriosas, aquelas que causam sempre admiração e desconforto nos leitores. Quando foi publicado, em 2001, foi rotulado como um grande livro sobre a América e sobre as coisas que pessoas de todo o mundo tinham trazido para esta terra que buscava sempre a última fronteira. Tinha também que ver com os deuses que esses imigrantes tinham trazido com eles e que, depois, tinham abandonado. Ao mesmo tempo, era sobre os novos deuses que os tinham substituído: o telefone, os meios de comunicação social, ou Wall Street.
A lógica central ao livro é que os deuses e as criaturas mitológicas só existem porque as pessoas acreditam neles. Os imigrantes trouxeram para o novo país esses deuses, mas o seu poder foi-se desvanecendo ao longo do tempo, porque as pessoas deixaram de acreditar neles. Novos deuses surgiram no seu lugar e muitos deles têm que ver com a tecnologia e as celebridades. Contra isso, surgem duas personagens enigmáticas que percorrem a América recrutando os velhos deuses para combater os novos. No fundo, "Deuses Americanos" tenta mostrar-nos o coração negro da América, os seus pesadelos. E isso é tanto mais interessante quando, nestes dias, se assiste a uma tentativa de erradicar os imigrantes do país. Eles que forjaram esta luta entre velhos e novos deuses.
O livro começa com Sombra, um homem com um pouco mais do que 30 anos, a cumprir os seus últimos dias na prisão por assalto à mão armada. Dois dias antes da sua libertação, sabe que a mulher, Laura, morreu num acidente de automóvel. Sombra inicia assim a sua viagem solitária num mundo que procura voltar a reconhecer. Dão-lhe um emprego como guarda-costas de um misterioso homem. Ele é um daqueles deuses esquecidos, em quem já ninguém acredita. E têm como competidores os novos deuses tecnológicos da América. Que querem destruir os antigos.
É no meio dessa guerra que está Sombra. Ele viaja pela América secreta que todos nós desconhecemos, fascinados por Nova Iorque ou Los Angeles. É ali que realmente se trava essa guerra entre os velhos sonhos e valores e os novos, materialistas. Este livro acaba por ser um olhar devastador sobre este novo mundo em que tentamos sobreviver. Neil Gaiman surge aqui como um autor que abre pistas para se compreender melhor o universo que Donald Trump veio trazer para a superfície. Está tudo aqui. Em forma de ficção.
Deuses Americanos
Editorial Presença, 491 páginas, 2017
A crise americana é bem visível em Hollywood. Com falta de boas ideias, o cinema vira-se para a adaptação das aventuras de super-heróis. Na televisão, há mais criatividade. E alguma dela vem da adaptação de bons livros. É o caso de "Deuses Americanos", de Neil Gaiman, renascido após o surgimento da sua versão televisiva. O mais interessante é que este é um livro actual, como já o fora quando foi editado.
A lógica central ao livro é que os deuses e as criaturas mitológicas só existem porque as pessoas acreditam neles. Os imigrantes trouxeram para o novo país esses deuses, mas o seu poder foi-se desvanecendo ao longo do tempo, porque as pessoas deixaram de acreditar neles. Novos deuses surgiram no seu lugar e muitos deles têm que ver com a tecnologia e as celebridades. Contra isso, surgem duas personagens enigmáticas que percorrem a América recrutando os velhos deuses para combater os novos. No fundo, "Deuses Americanos" tenta mostrar-nos o coração negro da América, os seus pesadelos. E isso é tanto mais interessante quando, nestes dias, se assiste a uma tentativa de erradicar os imigrantes do país. Eles que forjaram esta luta entre velhos e novos deuses.
O livro começa com Sombra, um homem com um pouco mais do que 30 anos, a cumprir os seus últimos dias na prisão por assalto à mão armada. Dois dias antes da sua libertação, sabe que a mulher, Laura, morreu num acidente de automóvel. Sombra inicia assim a sua viagem solitária num mundo que procura voltar a reconhecer. Dão-lhe um emprego como guarda-costas de um misterioso homem. Ele é um daqueles deuses esquecidos, em quem já ninguém acredita. E têm como competidores os novos deuses tecnológicos da América. Que querem destruir os antigos.
É no meio dessa guerra que está Sombra. Ele viaja pela América secreta que todos nós desconhecemos, fascinados por Nova Iorque ou Los Angeles. É ali que realmente se trava essa guerra entre os velhos sonhos e valores e os novos, materialistas. Este livro acaba por ser um olhar devastador sobre este novo mundo em que tentamos sobreviver. Neil Gaiman surge aqui como um autor que abre pistas para se compreender melhor o universo que Donald Trump veio trazer para a superfície. Está tudo aqui. Em forma de ficção.