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O fim de uma época

Joseph Roth foi um dos mais importantes escritores de língua alemã da primeira metade do século XX. Este livro mostra-nos um mundo que está a estilhaçar-se, nas vésperas da IIGuerra Mundial.

03 de Fevereiro de 2018 às 09:15
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Joseph Roth
Confissão de um Assassino
Cavalo de Ferro, 141 páginas, 2018


Depois de ter terminado esta novela em 1936, Joseph Roth (escritor austríaco de origem judaica, que viria a falecer em 1939) escreveu a Stefan Zweig e confessou-lhe: "Escrevi-a demasiado depressa." Na verdade, este "relato de uma noite" revela um sentimento de urgência, talvez muito típico de Roth, que sentia o tempo a correr muito vertiginosamente. A história do russo Golubchik, que diz ser um antigo agente da Okhrana, a polícia secreta do Czar da Rússia, um assassino e também o filho ilegítimo de um príncipe russo, acaba por ser alucinante.

O narrador, um escritor alcoólico, vai recolhendo o que o russo lhe conta num restaurante de Paris, cidade de refúgio de tantos deserdados nesses anos do século XX. Golubchik fala da sua vida de colaboração com o terror policial e também da sua decepção com o que fez. Por isso, seguiu para o exílio. Faz crer que a humanidade é mais importante do que os assuntos políticos que gerem o mundo.

A história deste pretenso agente de uma temível polícia secreta vai-nos envolvendo. E o narrador acaba por sucumbir a isso. Mas Joseph Roth, por trás desta história, acaba por traçar também os contornos do fim de uma era (que terminaria definitivamente com a II Guerra Mundial), que tem que ver com a queda do Império Austro-Húngaro e o estilhaçar de fronteiras e de nações. E da segurança que ele, de alguma maneira, representava. A vida de Golubchik acaba por ser um reflexo daquilo que sucedeu a milhões de europeus, submergidos pela queda dos impérios e pelo surgimento de um mundo novo que não entendiam. E onde estavam em constante exílio.

É a velha Europa que se desmorona defronte dos nossos olhos através do relato de Golubchik. No fundo, o seu olhar acaba por ser um reflexo daquilo que Roth sentiu nessa década de 30. No dia 30 de Janeiro de 1933, Adolf Hitler foi nomeado chanceler do Reich. Nesse mesmo dia, Roth apanhou um comboio de Berlim para Paris e nunca mais voltou à Alemanha. Conhecido colunista do Frankfurter Zeitung, era um dos mais atentos observadores da vida política e cultural alemã. Depois de ter feito inúmeras reportagens nos Balcãs, União Soviética ou Itália, dedicara-se à literatura. Mas, nesse dia, iniciava uma nova fase da sua existência: como exilado.

Filho de judeus, Roth nascera perto da fronteira entre o Império Austro-Húngaro e a Rússia. Assistiu, após a I Guerra Mundial, à queda do império onde vivia e Viena tornou-se, na altura, uma mera capital, mas sem o poder que o peso de um império lhe facultava. Cidadão austríaco, procura o futuro em Berlim. Ali, apesar do sucesso como jornalista, sente sempre sombras ameaçadoras no céu. Tudo devido às suas origens judaicas. A ascensão das milícias fascistas assustavam-no. Quando foi a Paris em 1925, para fazer uma reportagem, ficou fascinado. Julgou-a a "capital do mundo". E aí tornou-se definitivamente num ocidental incomodado com o seu passado no Leste. A cultura francesa atraía-o. Inicia então uma poderosa carreira literária, que tem o seu ponto alto com "A Marcha de Radetzky", de 1932. Torna-se uma referência da ficção de língua alemã dessa época.

Quando regressa a Paris, em 1933, os tempos são outros: o oásis da liberdade é um local de exílio. Tenta-se criar reputação no mundo literário francês. E este livro acaba por fazer parte dessa obsessão veloz que terminaria com a sua morte. Quando a II Guerra Mundial irrompia para destruir o que restava dessa velha Europa onde vivera.



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