Notícia
Antero de Quental e o pessimismo poético
O olhar de Antero de Quental sobre as pessoas, as emoções ou o mundo e a sociedade, parecem farpas que acertam nos desafios de hoje. Escreve sobre o amor, mas ele é quase sempre vestido de uma tristeza imensa.
Antero de Quental, Poesia I Abysmo, 328 páginas, 2017
Antero de Quental foi um dos autores portugueses que marcaram decisivamente o século XIX, época de inflamados debates e de grande criatividade. A sua poesia, de resto, continua actual. O seu olhar sobre as pessoas, sobre as emoções ou sobre o mundo e a sociedade, parecem farpas que acertam nos desafios de hoje. É certo que Antero, no seu tempo, estava refém em muitos casos dos temas que atormentavam as pessoas do seu círculo (nomeadamente o "pessimismo nacional", a morte ou mesmo a liberdade nos seus diferentes sentidos). Mas isso também enriquece a sua veia poética.
A morte foi muitas vezes para Antero a estrela que o guiava nas suas reflexões poéticas. E ela estava claramente ligada a outras questões fulcrais como o verdadeiro significado do universo ou o destino dos homens. "Odes Modernas" ou "Primaveras Românticas" reflectem também um pouco esse olhar sombrio sobre o que nos cerca. Basta ler: "Um sonho gigantesco de beleza/E uma ânsia de ventura o faz na vida/Caminhar, como um ébrio, na incerteza/Do destino e da Terra-prometida…".
Antero escreve sobre o amor, mas ele é quase sempre vestido de uma tristeza imensa. Não nos admiramos por isso que, confrontado com a sociedade que o rodeia, se vá afundando num pessimismo cada vez mais visível. Afinal, as suas ideias socialistas começam a chocar frontalmente com o lirismo dos seus tempos jovens. Ao mesmo tempo, Portugal estava num período em que a decadência era por todos sentida e fazia parte das preocupações típicas do núcleo intelectual onde cirandava. Leia-se, por exemplo, o poema "Os Pobres", onde escreve: "Eu quisera saber, ricos, se quando/Sobre esses montes de ouro estais subidos,/Vedes mais perto o céu, ou mais um astro/Vos aparece, ou a fronte se vos banha/Com a luz do luar em mor dilúvio?"
O seu alvo é, durante parte da sua vida, muito claro. Ele quer demolir o poder instituído em Portugal e a sua poesia é muitas vezes um meio, um megafone, para afirmar esse desejo. Há, por vezes, um notório fascínio pelas lógicas do anarquismo, muito em voga na época, o que, compreensivelmente, chegava muito mais perto do coração de um poeta.
Sabe-se que, já marcado pela doença, a partir de 1870, o olhar mais pessimista de Antero de Quental vai-se desenvolvendo cada vez mais. Pensamentos negros pairam defronte dos seus olhos. O anarquismo deixa de o seduzir. A vida social passa a ser um fardo que já não suporta. A morte volta a pairar, já não como um desafio e uma interrogação existencial, mas como um alívio que poderá por fim às suas dúvidas.
Encontra um abrigo no misticismo e, sobretudo, na Virgem Santíssima. Parece a renúncia ao passado, mas talvez seja apenas mais uma etapa das suas descobertas. Este livro, com uma elegância gráfica superior, acolhe "Odes Modernas" e "Primaveras Românticas" e vai ser complementado por dois outros volumes que se seguirão. É uma forma de nos embrenharmos na poesia daquele que foi um dos mais produtivos autores do século XIX.
Antero de Quental foi um dos autores portugueses que marcaram decisivamente o século XIX, época de inflamados debates e de grande criatividade. A sua poesia, de resto, continua actual. O seu olhar sobre as pessoas, sobre as emoções ou sobre o mundo e a sociedade, parecem farpas que acertam nos desafios de hoje. É certo que Antero, no seu tempo, estava refém em muitos casos dos temas que atormentavam as pessoas do seu círculo (nomeadamente o "pessimismo nacional", a morte ou mesmo a liberdade nos seus diferentes sentidos). Mas isso também enriquece a sua veia poética.
Antero escreve sobre o amor, mas ele é quase sempre vestido de uma tristeza imensa. Não nos admiramos por isso que, confrontado com a sociedade que o rodeia, se vá afundando num pessimismo cada vez mais visível. Afinal, as suas ideias socialistas começam a chocar frontalmente com o lirismo dos seus tempos jovens. Ao mesmo tempo, Portugal estava num período em que a decadência era por todos sentida e fazia parte das preocupações típicas do núcleo intelectual onde cirandava. Leia-se, por exemplo, o poema "Os Pobres", onde escreve: "Eu quisera saber, ricos, se quando/Sobre esses montes de ouro estais subidos,/Vedes mais perto o céu, ou mais um astro/Vos aparece, ou a fronte se vos banha/Com a luz do luar em mor dilúvio?"
O seu alvo é, durante parte da sua vida, muito claro. Ele quer demolir o poder instituído em Portugal e a sua poesia é muitas vezes um meio, um megafone, para afirmar esse desejo. Há, por vezes, um notório fascínio pelas lógicas do anarquismo, muito em voga na época, o que, compreensivelmente, chegava muito mais perto do coração de um poeta.
Sabe-se que, já marcado pela doença, a partir de 1870, o olhar mais pessimista de Antero de Quental vai-se desenvolvendo cada vez mais. Pensamentos negros pairam defronte dos seus olhos. O anarquismo deixa de o seduzir. A vida social passa a ser um fardo que já não suporta. A morte volta a pairar, já não como um desafio e uma interrogação existencial, mas como um alívio que poderá por fim às suas dúvidas.
Encontra um abrigo no misticismo e, sobretudo, na Virgem Santíssima. Parece a renúncia ao passado, mas talvez seja apenas mais uma etapa das suas descobertas. Este livro, com uma elegância gráfica superior, acolhe "Odes Modernas" e "Primaveras Românticas" e vai ser complementado por dois outros volumes que se seguirão. É uma forma de nos embrenharmos na poesia daquele que foi um dos mais produtivos autores do século XIX.