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A luta da América Latina

Eduardo Galeano detalha “cinco séculos de pilhagem” de um continente abençoado com diversas riquezas naturais. Mas que, paradoxalmente, está entre as regiões mais pobres do planeta.

30 de Abril de 2017 às 14:00
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Eduardo Galeano

As Veias Abertas da América Latina
Antígona,
466 páginas, 2017

Quando o então Presidente venezuelano, Hugo Chávez, se encontrou com Barack Obama, ofereceu-lhe um exemplar de "As Veias Abertas da América Latina", de Eduardo Galeano. O livro é um clássico: proibido pelos governos militares do Chile, da Argentina e do Uruguai, depois de ter sido publicado em 1971, tornou-se uma obra de culto para a esquerda latino-americana.

Antes de falecer, Galeano pôs em causa parte do que tinha escrito, apesar de se continuar a considerar de esquerda. Como ele disse: "A realidade mudou muito, e eu mudei muito." Muitos dos seus admiradores ficaram surpreendidos com este "passo atrás", mas isso não invalida o poder persuasivo da obra, um tiro certeiro sobre as agruras da América do Sul desde os tempos coloniais até ao momento em que era considerado o pátio das traseiras dos Estados Unidos.

Galeano, conhecido pela qualidade excepcional dos seus escritos, argumenta neste livro, agora reeditado em Portugal, que as riquezas que atraíram no início os colonizadores da Europa, como o ouro e o açúcar, criaram um sistema de exploração que conduziu a toda a lógica de pilhagem que se manteve. A pobreza e o subdesenvolvimento da região eram também reflexos desta exploração. Como escreve Galeano: "É a América Latina, a região das veias abertas. Da descoberta até aos nossos dias, tudo se transformou sempre em capital europeu ou, mais tarde, em norte-americano e, como tal, foi e é acumulado nos longínquos centros de poder".

Galeano detalha "cinco séculos de pilhagem" de um continente abençoado com diversas riquezas naturais. Mas que, paradoxalmente, está entre as regiões mais pobres do planeta. Um paradoxo que o autor tenta explicar. E, nesse contexto, mostra um pouco daquilo que foi a "inocência" dos portugueses face aos britânicos: estes foram os principais beneficiários do ouro brasileiro do século XVIII.

Este ouro fez parte de um negócio triangular entre a Europa, África e América do Sul (que alimentou a escravatura) e foi o alimento para a Revolução Industrial, permitindo à Grã-Bretanha tornar-se no maior império global. Galeano escreve: "As colónias americanas tinham sido descobertas, conquistadas e colonizadas dentro do processo de expansão do capital comercial. A Europa esticava os seus braços para chegar ao mundo inteiro.

Nem Espanha nem Portugal receberam os lucros do avanço imparável do mercantilismo capitalista, embora tivessem sido as suas colónias a proporcionar, substancialmente, o ouro e a prata que alimentaram essa expansão. Como já vimos, ainda que os metais preciosos da América tivessem feito nascer a enganosa fortuna de uma nobreza espanhola que vivia tardiamente a sua Idade Média e à revelia da História, ditaram simultaneamente a ruína de Espanha nos séculos vindouros".

Este livro, mesmo que Galeano ficasse posteriormente com a ideia que tinha excessos ideológicos, é um retrato muito interessante para perceber a situação actual da América Latina, mas também de países como Portugal. Uma obra que resistiu ao tempo.



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