Notícia
Em busca do destino
Djaimilia Pereira de Almeida volta a surpreender-nos com um poderoso romance que nos faz reflectir sobre os sonhos e os pesadelos de todos nós. Entre Lisboa e Luanda.
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Luanda, Lisboa, Paraíso
Companhia das Letras, 227 páginas, 2018
A identidade é um labirinto. Muitas vezes, vamos em busca dela e perdemo-nos nos nossos próprios receios. Outras vezes descobrimos que é um caminho para lado nenhum. E pode ser também uma fronteira ténue na qual as questões são mais fortes do que as respostas. Muito do que Djaimilia Pereira de Almeida escreve tem que ver com a identidade, mas também com a busca de um destino. E é aí que se encontra a verdadeira mina de ouro da sua escrita, que parece ter asas e que caminha, solta, num solo de algodão. Não custa ficar fascinado por esta escrita ágil e certeira. Pelas personagens criadas. Pelos ambientes que nos seduzem. Afinal, a autora conhece bem este território de desconforto, porque viveu, como já disse, no meio de europeus ligados a África e de africanos ligados a Portugal. Em "Luanda, Lisboa, Paraíso", o seu segundo romance, a autora apresenta-nos Cartola de Sousa e Aquiles, o filho. Rumam a Lisboa, vindos de Luanda, em busca do "milagre" médico. Vão à descoberta: "Foi-lhe claro naquele instante que não viajavam para Portugal, mas para sempre." Que Lisboa descobririam?
Os diferentes olhares sobre o novo mundo onde Cartola e Aquiles caminham é deliciosamente descrito pela autora: "Caminhava pelo Paraíso com a certeza de estar ali de passagem. Os ardores da adolescência foram nele a ideia de que nada o confundia com os outros angolanos. Desejava que um raio queimasse aquilo tudo sem nunca ponderar que, fosse esse o caso, não teria para onde ir. Dava desconto ao pai, que considerava ter desonrado o passado e viver numa Lisboa que apenas existia em sonhos. Cartola nada tinha para deixar a Aquiles. Nem um cordão de ouro nem um relógio. Nem uma tesoura nem um livro. Sentia-se um trapo e via a morte ao fundo. Nada do que tinha sido seu passaria o teste do tempo". É este balanço entre o passado e o presente, com poucas perspectivas de futuro, que Djaimilia Pereira de Almeida descreve de forma sublime. Este é um romance que nos faz olhar para o mundo dos sonhos, dos pesadelos e das fronteiras. Através de personagens ímpares.
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