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Um chá Bio dos Açores e outro que cheira a Porto

O chá preto da fábrica do Porto Formoso passou à categoria de biológico e Nina Gruntkowski meteu um Oolong numas pipas de vinho do Porto.

Cada caixa de Pipa Chá com 80 gramas custa cerca de 20€. E dá para fazer muitas infusões. Conceição Ferreira
21 de Abril de 2018 às 13:00
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Os portugueses gostam de destacar certos factos históricos próprios na divulgação da cultura do chá na Europa (o papel de Catarina de Bragança na promoção do chá das cinco, por exemplo), mas não têm paixão pela bebida mais consumida no mundo. De resto, até empregam mal os termos. Quando se fala de chá, fala-se, em exclusivo, da planta Camellia sinensis, nas variantes genéricas de preto, verde, branco, Oolong ou Pu Erh, mas, por cá, chá tanto pode ser de camomila como de barba de milho. Ora, estes últimos casos são infusões. Chás é que não.

E esta confusão é tal que já me aconteceu pedir um chá no final da refeição em restaurantes reconhecidos por aqueles senhores do famoso "guia vermelho dos pneus" e ter de ouvir: "Claro, o que lhe apetece? Temos chá de tília, cidreira, lúcia-lima..." É assim.

Quando falo com responsáveis de lojas de mercearia fina, pergunto-lhes sempre por que razão a área dos chás é sempre tão exígua. Respondem-me que, atendendo à procura, o investimento não se justifica. É a velha história da pescadinha com o rabo na boca.

Perante este cenário, a Companhia Portugueza do Chá, em Lisboa, continua, com quase 200 lotes de chá de todo o mundo, a funcionar como um oásis para quem não passa um dia sem uma chávena da reconfortante e saborosa bebida. Lá dentro encontramos gente treinada e culta para nos reduzir a ignorância.

Contudo, vamos hoje destacar dois chás pretos que não estão à venda na loja da Rua do Poço dos Negros e que, por razões diferentes, merecem ser conhecidos. O primeiro é o chá Porto Formoso e o segundo é o Pipa Chá.


O Porto Formoso é para aqui chamado não por ser uma novidade em si, mas pelo facto de os responsáveis da fábrica micaelense terem certificado a sua produção como produto biológico no final de 2017. Apesar de não haver pragas para a cultura do chá nos Açores, a verdade é que certificar os processos (no campo e na fábrica) ainda dá trabalho.

Curiosamente, e por uma qualquer razão misteriosa, parece que os proprietários da fábrica não se preocuparam muito em divulgar esta mais-valia junto dos consumidores. Meteram lá o selo verde e ficaram à espera que os clientes se deslocassem a São Miguel.

Há dias, e no âmbito de um concurso internacional de azeite, ao salientar a um jurado alemão que nos Açores se vendiam sacos de 80 gramas de chá preto de grande qualidade a cerca de €4 - e tive de repetir mais do que uma vez que era mesmo 'four euro' e não 'fourteen euro' -, julgo que ele ficou a pensar que ou eu seria mentiroso ou os responsáveis da fábrica precisavam urgentemente de dar uma volta pelo mundo para perceber o valor real de um produto de cultura biológica.

Seja como for, um apreciador de chá preto tem aqui um produto de grande qualidade, com aromas finos, que tanto podem ir das pétalas de rosas às algas, com uma boca delicada e sedosa.

O outro produto é o curioso Pipa Chá, criado por Nina Gruntkowski, da empresa Chá Camélia. Aos poucos, a notícia de que Nina e Dirk Niepoort estão a criar aquele que será o primeiro jardim de chá no continente espalha-se pelos jornais. As plantas ainda são pequenas, mas provas recentes de chá verde a partir de alguns rebentos indicam que este é um projecto para dar que falar.

E, enquanto crescem as plantas, Nina importa chás biológicos do Japão e da China. E um deles é do tipo Oolong, o que quer dizer que as folhas de Camellia sinensis sofreram um processo de semioxidação (típico do chá verde) e semifermentação (típico do chá preto).

Ora, Nina Gruntkowski lembrou-se de adicionar alguma complexidade ao chá, estagiando as suas folhas em velhas pipas de vinho do Porto, razão pela qual o chá leva o nome de Pipa Chá.

Temos então um chá que, por passar por cascos de Porto Colheita, apresenta com umas notas muito curiosas de aromas de uva passa, vinho do Porto branco e até uma espécie de chocolate com licor. Fantástico.

Ciente de que a imagem conta muito, a ex-jornalista alemã criou, com restos de madeira de caixas de vinho, umas embalagens que transformam o Oolong Pipa Chá num presente elegante. E, como sabe que um produto biológico de qualidade e bem embalado deve ser dignamente remunerado, cobra uns 20 euros pela caixa com 80 gramas, o que é pouco, atendendo à quantidade de infusões que podemos fazer com 80 gramas. Coisa que deveria fazer reflectir a família Pacheco da fábrica Porto Formoso.


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