Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Um branco pela liberdade

Prosseguindo a estratégia de lançar 10 vinhos antes de fazer 100 anos, as Caves São João libertam um vinho que recorda os anos 70 e que promete seguir as pisadas dos míticos brancos da casa.

20 de Agosto de 2016 às 13:00
  • ...
As Caves São João criaram um programa de celebração dos 100 anos de vida, à imagem e semelhança dos famosos vinhos com idade guardados nas catacumbas. Ou seja, um programa com nível e irreverência.

O centenário só ocorrerá em 2020, mas a família e os gestores da empresa da Bairrada decidiram que a festa começaria a ser celebrada 10 anos antes. Se outras firmas do negócio lançam um vinho esplendoroso nestas dadas redondas, as Caves São João lançarão 10. O primeiro saiu em 2010, o último sairá em 2020.

É uma grande festa e grande ideia de marketing porque faz com que, periodicamente, se fale da empresa, de uma estratégia empresarial arrojada na época, dos tais vinhos velhos que recuam aos anos 60 e que ainda hoje podem ser comprados e - não menos importante - das novidades que surgem pela mão de José Carvalheira - nome grande da enologia nacional.

Até à data, foram lançados quatro vinhos e uma aguardente, sendo que cada um tem como finalidade recordar um tema social e histórico de relevância mundial. Já tivemos garrafas que destacaram o primeiro filme sonoro ("The Jazz Singer"), outras que celebraram a Declaração Universal dos Direitos do Homem e outras ainda que recordaram a famosa emissão radiofónica de Orson Welles sobre a invasão marciana. É a beleza da coisa: além de os vinhos serem de qualidade, alimentam boa conversa à mesa sobre temas interessantes.

A mais recente edição é o branco 95 Anos de História, da colheita de 2014. E, como tem por objectivo salientar a década de 70, o tema escolhido foi a liberdade, que aqui acaba por adquirir várias dimensões.

Uma pomba simboliza o conceito de paz e de liberdade em muitas partes do mundo, mas o cravo já é uma coisa muito nossa, o que não impede que o vinho possa, além do 25 de Abril, celebrar também o derrube do franquismo e o fim do regime dos coronéis na Grécia.

Por outro lado, o vinho assinala a compra da Quinta do Poço do Lobo por parte das Caves São João, facto que permitiu independência à empresa para a produção de vinhos de qualidade.

Finalmente, o facto de estarmos perante um vinho branco também tem que se lhe diga porque, de início, o projecto apontava para a produção exclusiva de vinhos tintos.

Sucedeu que, na vindima de 2014, os responsáveis da empresa perderam-se de amores por umas linhas de uvas da casta Arinto, na Quinta do Poço do Lobo. Há muito Arinto por aqui, mas os cachos dessas linhas eram diferentes. Bonitos, ricos e promissores. E como, já agora, a empresa é conhecida pelos seus grandes vinhos brancos dos anos 60, decidiram fazer um branco de celebração especial. Especial porque a única coisa que não é mosto fermentado na garrafa é um pouco de sulfuroso porque, caso contrário, o vinho morreria em dois tempos. De resto, neste branco não entraram leveduras seleccionadas nem enzimas. Até a colagem do vinho foi natural.

Assim, temos um branco sério, aristocrático, com aromas minerais variados à mistura com frutas de polpa branca, nêspera e folhas secas de tília, tudo bem envolvido pelo trabalho da barrica. Na boca, um vinho que enche, sedoso, com volume, mas fresco e longo.

Não faço ideia como eram os primeiros vinhos da casta Arinto quando, na década de 70, as Caves São João compraram a Quinta do Poço do Lobo, mas estou convencido de que este 95 Anos de História dará que falar daqui por 10 ou 15 anos. Isto se sobrar alguma das 1.600 garrafas que a colheita de 2014 deu.


Ver comentários
Saber mais Vinhos Caves São João Bairrada casta Arinto vindima
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio