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Precários minimalistas

E como anda por cá a indústria da música? Há por aí precários minimalistas. Um caso?

28 de Março de 2013 às 00:02
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Sensible Soccers. Tudo é feito de forma caseira e independente, sem grandes editoras por detrás. São os amigos que emprestam os ouvidos e algum do material. Trabalham com uma cadência própria e já recusaram concertos patrocinados por multinacionais... Emanuel Botelho, Hugo Alfredo Gomes, Filipe Azevedo e Manuel Santos são os rostos deste projecto musical nascido em Coimbra. Apesar de viverem com "os trocos contados", a criatividade é coisa que ainda não pagam.

 


Desengane-se quem pensar que se trata do videojogo popularizado no início dos anos 1990 para os velhinhos Atari e Amiga, ainda que o nome seja nele inspirado. Trata-se de um projecto musical que se divide entre Vila do Conde e São João da Madeira, que tem Coimbra como local de nascimento.


A sonoridade dos Sensible Soccers assume-se como minimalista e psicadélica, com laivos de electrónica caseira e melodias pop à mistura, que transporta quem os ouve para uma atmosfera um tanto ou quanto nostálgica, com uma forte componente sensorial que remete para universos imaginários.


Emanuel, Hugo, Filipe e Manuel (Né, como é conhecido) dão a cara ao projecto que começou há pouco mais de dois anos, embora os membros já se conheçam há bem mais. "Eu e o Filipe somos de São João da Madeira e tivemos umas bandas na adolescência. Mais tarde vim para Coimbra estudar e conheci o Né e o Hugo, que são de Vila do Conde", conta Emanuel Botelho.


A banda que nasceu depois do nome
Os Sensible Soccers começaram no início de 2010, quando Hugo Alfredo Gomes e Emanuel Botelho, que já passavam música juntos sob o nome de "Os Yeah!" e eram companheiros na Rádio Universidade de Coimbra (RUC), se juntaram para compor. "O nome foi pensado ainda antes de sermos uma banda", revela Emanuel, e surgiu de "uma brincadeira". "As coisas rolaram sem planearmos muito. Começámos a gravar umas 'demos' e demos por nós a fazer músicas", conta Emanuel. Mais tarde, Filipe juntou-se à banda e depois, por altura da gravação do primeiro EP, foi a vez de Né.


O nome é uma homenagem ao videojogo de futebol "Sensible Soccer", que acompanhou o quarteto ao longo da adolescência e que "ainda vai acompanhando". "O futebol é importante para nós e é das poucas coisas que pode interromper um ensaio", diz Emanuel. "Gostamos muito da história do futebol e da sua estética", acrescenta. "Como portugueses que somos, não poderíamos fugir a essa regra...", remata Filipe.


Fazer música por amor
Dizem que criam "por necessidade" e pela vontade de "desfrutar" da música: "as coisas surgem", diz Emanuel. No entanto, apesar de tudo resultar de um processo criativo muito livre e irregular, partindo de sessões de improviso, que mais tarde se transformam nos temas, a banda é algo que os quatro levam com seriedade, ainda que não vivam dela. "É algo que levamos com um profissionalismo que, se calhar, as nossas vidas não permitiriam. Mas, mesmo assim, com muito esforço, conseguimos levar", aponta Hugo. "Não fazemos as coisas só para dizer que editámos mais uma música", assegura Né.


O centro de estágios é em Fornelo, freguesia de Vila do Conde e terra de Hugo. É lá que a criação e gravação dos temas do quarteto acontece, onde a grande fonte de inspiração é a ruralidade. Tudo é feito de forma caseira e independente, sem nenhuma grande editora por detrás. São os amigos que emprestam os ouvidos, algum do material e o conhecimento necessários no processo de gravação e edição.


Com dois EPs já editados - "Sensible Soccers EP" e "Fornelo Tapes vol.1" - um pela editora checa AMDISCS e o outro pela Música Pop Desempregada, uma espécie de editora/manifesto, da qual fazem parte Hugo e Emanuel, nascida na RUC, os Sensible Soccers prometem novidades para depois do Verão. "Agora estamos em produção do próximo disco. Não vou dizer que é EP ou LP, digo disco para não sugerir nada. Não fazemos músicas a pensar no formato 'radiofriendly'", revela Filipe.


Apesar de estarem em fase produtiva, quem os quiser ver ao vivo tem oportunidade para isso no Warm Up Paredes de Coura, já em Abril. "Estamos fechados para produção, mas oportunidades como estas não podemos desperdiçar, não podemos dizer que não a um 'warm up' de Paredes de Coura", afirma Hugo.


A banda que já recusou concertos "patrocinados por multinacionais"
São precários. Trabalham de forma independente, em "part-time" ou ajudam em negócios de família. Não vivem do que a banda rende. "Começámos a tocar no meio de uma mudança de paradigma e, de repente, não há dinheiro para nada", aponta Emanuel. "No nosso caso, em que não tiramos rendimento, não podemos ir tocar a Lisboa se nos apetecer, só vamos se a coisa for rentável", acrescenta.


"Já recusámos concertos patrocinados por multinacionais. Por incrível que pareça, por vezes, um tasco no Minho paga mais do que duas multinacionais juntas em Lisboa", assevera Né.


Apesar de viverem com "os trocos contados", a criatividade é uma coisa que ainda não se paga e exemplo disso são temas como "Missé-Missé" ou "Eurobonds". Sem pressa, num mundo onde o futebol é desporto rei, os Sensible Soccers vão continuando a escalada até, quem sabe, ao topo da primeira liga musical.

                                                                                                                                                                                                                                                         


Foto: Ricardo Almeida/Nervos.pt

"Já recusámos concertos patrocinados por multinacionais. Por incrível que pareça, por vezes, um tasco no Minho paga mais do que duas multinacionais juntas em Lisboa." 

 

 

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