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Os coloridos anos 80 de Paula Rego

A exposição “Na praia/On the Beach”, que está na Casa das Histórias Paula Rego, exibe obras da artista produzidas nos anos 80. Nestes quadros, impera a cor e há contos que misturam animais com figuras humanas.

Na Praia/ On the Beach, Paula Rego, Casa das Histórias Paula Rego, Cascais, Até 29 de Janeiro de 2017
31 de Dezembro de 2016 às 13:00
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O quadro "On the Beach" foi o ponto de partida para a nova exposição patente na Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais. A pintora, radicada há décadas em Londres, desenhou uma obra em acrílico "com uma sensualidade muito presente", a recordar os piqueniques à beira-mar e onde a cor impera, explica Catarina Alfaro, curadora da mostra. A obra, criada em 1985, pertence a um coleccionador privado português e foi apresentada em Outubro na feira de arte contemporânea Frieze Masters, em Londres, onde estiveram presentes cerca de 130 das mais importantes galerias de arte de todo o mundo. Agora pertence ao acervo da Casa das Histórias, depois do seu proprietário a ter ali depositado recentemente.

Para esta exposição, Catarina Alfaro seleccionou 26 obras criadas por Paula Rego entre 1981 e 1985. Um período marcante da pintura da artista. "Estes anos 80 são anos de liberdade", em que a artista desenha no chão e onde há "uma mudança completa na sua maneira de pintar." Paula Rego encontra nesta década "uma linguagem pessoal e muito criativa de contar histórias". De facto, sublinha, "todas as obras são construídas com fluidez, com o recurso a cores que não tinham sido exploradas antes", o que resulta "num universo completamente diferente, onde coabitam animais, pessoas e alguns seres híbridos". Outra das características da pintura de Paula Rego neste período é o traço a negro que ela introduz nas obras. "Um traço bastante definido mas nem sempre controlado", realça a curadora.

Mas, primeiro, a artista experimentou a angústia da falta de inspiração. Nessa "espécie de crise de criatividade", como lhe chama a curadora, a pintora procurou a ajuda do marido, o britânico Victor Willing (falecido em 1988 vítima de esclerose múltipla), também ele artista plástico. Ele contou-lhe que em criança tinha tido "um teatrinho em que só havia três personagens: um urso, um macaco e um cão sem uma orelha". E incentivou-a a construir várias histórias a partir daí.

É nesta altura que surge a série "macaco vermelho", inspirada numa "memória em segunda mão" do marido. Outra fonte de inspiração foi o "Livro dos Seres Imaginários", de Jorge Luís Borges, publicado originalmente em 1957, com o título "Manual de Zoologia Fantástica". Mas as obras dos anos 80, apesar de terem representados animais, são "nitidamente humanas", defende a curadora. "Nestas histórias, há uma concentração de vários sentimentos, de várias emoções, de infidelidade, de luxúria, de filhos renegados, cenas de ciúmes". Um desses exemplos é "O Macaco Vermelho bate na sua Mulher", de 1981, uma obra onde está representada uma mulher com um filho ao colo "que adivinhamos que seja bastardo" diz a curadora. Ao lado, um macaco com o punho no ar parece estar prestes a bater-lhe. "Aqui está a representação da violência doméstica", explica.

As óperas foram outra fonte de inspiração para Paula Rego. Em 1983, a pintora recebeu uma encomenda de uma galeria americana e decidiu inspirar-se nos libretos para fazer uma série de 12 quadros. Uma dessas obras está também incluída nesta exposição. Chama-se "Jenufa II" e é de 1983. Foi inspirada na ópera "Jenufa", do compositor checo Leoš Janácek, que aborda os temas do infanticídio e da redenção. Mais uma vez, as cores vivas são marcantes nesta obra.

Os universos que são representados nos quadros de Paula Rego remetem-nos para o imaginário infantil. Algo que neste período foi bastante explorado pela pintora. "Este lado de fábulas em que entram animais, de contos populares, está sempre presente", diz Catarina Alfaro. "Há coisas que nos lembram alguns contos, mas ela só nos dá as pistas. Depois, o resto da história, temos que descobri-la." Os anos 80 mostram, no fundo, o lado mais colorido da obra de Paula Rego.



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