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O Velho Mestre bate todos os recordes

Uma pequena tela criada há cinco séculos por Leonardo da Vinci é agora a mais cara obra de arte do mundo. A compra é decerto um bom negócio, mas é igualmente uma forte tomada de posição em nome da preservação da memória e defesa do que todos somos.

"Salvator Mundi", uma pequena tela de 65 cm x 45 cm representando Jesus Cristo, foi vendida a um anónimo por 382 milhões de euros.
25 de Novembro de 2017 às 09:00
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Bastaram 19 minutos para que o lote 98 batesse todos os recordes de venda em leilão de pintura. Pintada entre 1506 e 1513 pelo velho mestre Leonardo da Vinci, "Salvator Mundi", uma pequena tela de 65 cm x 45 cm representando Jesus Cristo, foi vendida a um anónimo por 382 milhões de euros. O recorde é absoluto e total em leilão, ou seja, "Salvator Mundi" é a mais cara obra de arte alguma vez comercializada.

Após o golpe final do martelo de licitação, o que aconteceu na sala da Christie's em Nova Iorque, há pouco mais de uma semana, tornou-se um acontecimento mundial. A história deste fenómeno é construída por uma delicada fusão de detalhes, todos eles relacionados com sentimentos ou racionais que nos são caros. O primeiro, e provavelmente o mais importante, é o enorme fascínio que o velho mestre Leonardo continua a exercer em todos nós. Continua a ser ele a personificação singular do Renascimento, esse período mítico da nossa História, em que os homens arriscaram pensar sem amarras e criar sem barreiras.

Sendo um génio que tocou quase todas as disciplinas, da pintura à matemática, e que criou telas, mas também máquinas de guerra, Leonardo é, de algum modo, o troféu mais cobiçado por qualquer um que tenha noção da grandeza daquele período histórico. É neste contexto que se entende a valorização de "Salvator Mundi", não porque seja uma obra maior de Leonardo, mas, do que se sabe, por ser a última que estava em propriedade privada, isto é, acessível a comercialização.

Mas a obsessão e a valorização da pequena tela estão ainda relacionadas com mistério e memória. O enigma vem, essencialmente, do facto de "Salvator Mundi" ter andado desaparecida em longos períodos destes cinco séculos em que circulou pelo mundo, só tendo aparecido definitivamente num leilão no princípio do século XX, e depois em 2005, quando foi adquirida por um empresário russo.

Ao mesmo tempo que caminhava entre claridade e sombra, a autoria da tela foi sendo sucessivamente atribuída, até 2011, a Leonardo e a alguns dos seus discípulos, só tendo na data referida sido fixada definitivamente no velho mestre por um grupo de peritos.

Haverá ainda um factor decisivo para que uma pequena tela pintada há cinco séculos valha agora 382 milhões de euros. Para o comprador, e também para muitos outros admiradores de Leonardo, o preço é justo se tivermos em conta a necessidade de manutenção do percurso. Afinal, estamos perante um objecto que foi preservado durante cinco séculos, por vezes por reis, por vezes por anónimos, por vezes por desconhecidos, crentes na ideia de que a obra representa algo de muito importante sobre aquilo que somos e todos os dias criamos. O comprador de "Salvator Mundi" terá decerto acreditado que chegara a sua vez.


Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.


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