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O drone deu uma ajuda

Os vinhos naturais estão em voga, mas convém não atirar pedras à tecnologia na viticultura. Como costuma dizer o enólogo Jorge Moreira, o vinho não existe sem intervenção humana. Não jorra directamente da cepa. Na Quinta dos Aciprestes, até os drones dão conselhos.

11 de Março de 2017 às 14:00
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Do novo portfólio temos O Quinta dos Aciprestes 2015 8€; o Quinta dos Aciprestes Reserva 2015 15€; o Quinta dos Aciprestes Grande Reserva 2013 38€; o Quinta dos Aciprestes Sousão Grande Reserva 2012 40€ e o Quinta dos Aciprestes Touriga Nacional Talhão 14 2013 40€


No que diz respeito a coisas de alimentação, os portugueses são de modas. Dantes, carne maturada era carne podre; agora é ver quem já provou bifes com mais meses de maturação. Há 15 anos, muita gente torcia o nariz a peixe cru; hoje há quem faça rankings de ceviche. Há 10 anos, ninguém a sul de Vila Real conhecia o botelo; hoje já há quem use as cascas ou casulas (feijão seco com vagem) num vulgar cozido à portuguesa. Nos vinhos, há 10 anos, ninguém sabia o que era um vinho natural ou biodinâmico; hoje há festivais dedicados a esta família de vinhos. Ainda há 15 dias era ver um mar de gente no Simplesmente Vinho - o evento no Porto que junta viticultores portugueses e estrangeiros considerados alternativos por produzirem vinhos com uma identidade territorial muito vincada, resultantes de práticas que intervêm o menos possível nos ecossistemas. Era ver a malta a comentar vinhos ora bem feitos, ora esquisitos, mas, lá está, bastante diferentes.

Esta nova tendência leva muita gente a desconfiar de qualquer coisa que tenha que ver com a tecnologia, como se um bom vinho só pudesse resultar de vinhas protegidas por cornos e mezinhas com urtigas, sem adição de qualquer substância que impeça a oxidação do vinho. É, convenhamos, um exercício tonto. Há vinhos naturais muito bons, assim como há excelentes vinhos resultantes de práticas convencionais. Aliás, e ligando já com os vinhos que hoje nos interessam, Jorge Moreira, enólogo da Real Companhia Velha (RCV), costuma dizer que nem faz sentido conceber um vinho sem intervenção humana. "Como é o homem que toma decisões, cada vinho reflecte essa dimensão. Cada vinho é a interpretação do enólogo com o seu conhecimento científico. E é isso que faz toda a diferença".

Ora, os novos vinhos da Quinta dos Aciprestes, do universo da RCV, representam um terroir muito peculiar, mas contam com o apoio de modernas técnicas de comunicação. Em concreto, de fotografias captadas por um drone.

E para raio serve o drone? Serve para, através das fotografias aéreas, transmitir informações preciosas para a tomada de decisão precisa do momento certo de colher as uvas.

Por regra, os enólogos decidem a data de colheita em função da análise química das uvas e/ou da prova de bagos. Há mesmo enólogos que tomam decisões apenas pelo sabor que as uvas transmitem na boca (açúcar, acidez, rigidez da grainha e por aí fora). Só que, de há uns anos a esta parte, a equipa de viticultura e enologia da RCV opta por mandar para o céu um drone por cima das vinhas da Quinta dos Aciprestes. Cada foto do drone revela um padrão cromático da vinha. E, a partir das manchas de parras mais verdes ou amareladas, os técnicos conhecem o estado de maturação das uvas, pelo que indicam aos trabalhadores que manchas de vinha devem ser vindimadas no dia x ou y.

É também por isso que os tintos da Quinta dos Aciprestes, do elementar Colheita de 2015 ao Aciprestes Sousão 2012 ou ao Touriga Nacional Talhão 14 de 2013, passando por um Reserva e outro Grande Reserva, são desafiantes. Desafiantes e testemunhos de um terroir específico, sem descurar um equilíbrio afinado entre a estrutura e a frescura dos tintos.

Se o Colheita pode ser um vinho do Douro para utilizações regulares, o Sousão e o Touriga Nacional - até pelo preço - serão daqueles vinhos para ocasiões especiais.

Como se sabe, a casta Sousão é o Vinhão no Minho, sendo responsável pelos castiços vinhos verdes tintos, que, apesar das melhorias enológica recentes, continuam a apresentar-se bastante rústicos e adstringentes. Mas, no Douro, a casta tradicionalmente espalhada no meio de outras tinha como função dar cor e acidez ao vinho do Porto.

Só muito recentemente um produtor ou outro se atreveu a fazer varietais desta casta tintureira. E a medo. Mas a realidade demonstra que estamos perante vinhos que nos desenjoam de um certo perfil de vinho do Douro porque vamos encontrar tintos vegetais, quer no aroma quer no sabor. E, no caso deste Aciprestes, estamos perante um tinto de 2012 bastante fresco, nada rude, mas muito interessante para comidas com mais gordura.

Quanto ao Touriga Nacional, trata-se de um vinho de uma porção de vinha muito peculiar dentro da Quinta dos Aciprestes (o tal talhão 14) porque, lá está, os técnicos da RCV conseguem, com ajuda da tecnologia, identificar na parcela uma homogeneidade vitícola vincada.

Em rigor, este Touriga mais parece nascido no Dão do que no Douro, em virtude da sua complexidade. Não é um Touriga linear nos seus aromas e sabores. É um vinho que está sempre a revelar qualquer coisa nova por cada rodagem do copo. Belos taninos, boa acidez, grande equilíbrio.

E agora façamos a pergunta: a tecnologia interferiu no vinho em si? Não. Ela só ajudou o homem da vinha (Rui Sores) e o homem da adega (Jorge Moreira) a tomarem a decisão mais acertada na selecção, colheita e separação das uvas. Noutros tempos, esta parcela de Touriga Nacional estava destinada a um lote qualquer de Quinta dos Aciprestes Reserva ou Grande Reserva. Agora dá origem a um vinho especial - o tal Talhão 14. Donde, três vivas à tecnologia.


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