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Madeiras de luxo

É bem provável que o Madeira Vintage 1988 Malvasia apareça numa revista internacional num ranking dos 10, dos 5 ou dos 3 melhores vinhos doces do mundo. Ainda vai a tempo de arranjar uma das 1598 garrafas que saíram da adega da Blandy´s.

17 de Maio de 2014 às 10:03
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Não se passa um dia sem que haja apresentações de novos vinhos à comunicação social. Aliás, com frequência, há mais do que um evento diário. Nunca se fez tanto e tão bom vinho como agora. Nunca um jornalista da área de vinhos precisou de ter uma agenda tão organizada quanto a de um vulgar burocrata alemão.


As regras da boa educação fazem com que eu assuma os compromissos assumidos, mas se à última hora alguém me liga a dizer que, no próprio dia, dali a uma hora, num qualquer ponto do país, vai decorrer uma prova de vinhos Madeira, ó meus amigos, a agenda vai pelos ares. As filmagens param e os artigos ficam para horas mais tardias. Pelo vinho Madeira, tudo.


Revela isto uma atitude paranóica? Nem um bocadinho. Basta que os leitores se aproximem destes dois Colheitas Sercial e Verdeal de 1998 e do soberbo Vintage Malvasia 1988, os três da marca Blandy´s (Madeira Wine Company). Basta que dêem um pouco de atenção aos seus aromas e sabores intrigantes e inigualáveis. Isso não é exagero nem patriotismo bolorento: os grandes Madeira são dos melhores vinhos do mundo. Misteriosos, complexos, desafiantes, gulosos e capazes de viver séculos. Vamos lá então às últimas colheitas da Blandy´s, apresentadas esta semana em Lisboa.


Malvasia Vintage 1988
Os vinhos da casta Malvasia são lendários, de tal forma que quando os mercados externos (Inglaterra e EUA) apanham um Madeira Vintage (vinho de qualidade superior com um mínimo de 20 anos antes do engarrafamento), a produção desaparece num abrir e fechar de olhos. Este vintage de 1988, que, no casco e ao longo dos anos, sofreu uma evaporação de 30% do volume - os anjos divertem-se à brava -, revela uma complexidade e uma paleta aromática impressionantes. Depois das notas químicas (acetona e algum iodo) temos aromas marinhos, à mistura com notas cítricas, de madeiras e de outras coisas indiscritíveis. Na boca, o vinho entra de rompante, com força, com estrutura e vivacidade. Metem-se vários pequenos goles à boca e de cada vez sentimos coisas novas. É, sem dúvida, um vinho fora de série. Um vinho para fazer história.


Colheita Sercial 1998
Trata-se de um vinho necessariamente mais seco por via do temperamento da casta. Liberta notas de frutos secos, à mistura com frutas cristalizadas, laranja e algum mel. Na boca, seco quanto baste. Aqueles que estão habituados aos Malvasia, acharão que este não é bem um vinho Madeira por ser tão seco. Mas é. E muito bom.


Colheita Verdelho 1998
Aromaticamente é mais fechado do que o Sercial do mesmo ano, mas, na boca, tem outra força. É mais expressivo, mais envolvente, mais longo, mais doce, alicorado e simultaneamente elegante, fino, complexo. Em 20 valores, levaria mais um do que o Sercial. Aí uns 17.5 valores.


Na sala onde foram apresentados estes três vinhos já disponíveis no mercado surgiram dois outros Madeiras de surpresa: um Colheita Sercial de 1975 e outro Colheita Verdelho de 1973. Como ainda não foram engarrafados, ficam para uma próxima. Afina de contas, é preciso fazer render a escassez desta riqueza nacional.

 

 

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O tabaco em barris de whisky

 

A ligação destes vinhos Madeira com comida exige alguma criatividade na cozinha. Não é coisa fácil. No caso do Vintage Malvasia 1988, creio que o melhor a fazer é dar-lhe por companhia um charuto. Não um charuto poderoso, mas algo moderado, elegante e de meia fortaleza. Este Perdomo 20º Aniversário é especial porque as folhas de tabacos de diferentes regiões fermentaram durante 5 anos, com mais 14 meses de fermentação dentro de cascos de Bourbon. Resulta daqui um charuto com um tiro perfeito e suave, que não se impõe ao vintage Madeira, nem este ao charuto. Equilibrado, portanto. Custa pouco mais de €7.

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