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João Gil: Portugal é muito maior do que aquilo que pensamos

O fantasma da guerra politizava os jovens. Ele juntou-se à União dos Estudantes Comunistas, formou a banda Soviete do Areeiro. Depois fundou o grupo Trovante, que deixou canções-emblema como “Timor”, e a Ala dos Namorados, que chocou a elite dita revolucionária. O músico celebra 40 anos de carreira com o disco “João Gil Por...”, em que reúne 32 artistas.

15 de Setembro de 2017 às 11:00
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Nasceu na Covilhã em 1955, foi acólito numa igreja onde começou a construir música dentro da sua cabeça e por lá ficava. O padre fazia estalinhos com as mãos para o despertar. Mais tarde, pegou na guitarra da irmã e aprendeu uns acordes.

Já em Lisboa, formou a banda Soviete do Areeiro. O fantasma da guerra politizava os jovens. Ele juntou-se à União dos Estudantes Comunistas, da qual se desligou após o 25 de Abril. Dois anos depois nascia, na praia da Mareta, o Trovante. Hoje, o grupo dá nome a uma rua de Vila do Bispo e deixou canções-emblema como "Timor".

João Gil fundou também a Ala dos Namorados. Não esquece o dia de apresentação do grupo. A elite dita revolucionária reagia mal à voz do contratenor Nuno Guerreiro: "Ai, que horror, que bicha." Participou no projecto Rio Grande e em muitos mais. Celebra 40 anos de carreira com o disco "João Gil Por...", em que reúne 32 artistas para interpretar temas da sua autoria, entre inéditos e históricos, como "Saudade", "125 Azul", e "Timor". Em Dezembro, Lisboa vai ser palco destes músicos e destas músicas da História contemporânea de Portugal.



"Olha, lá vai o Quim Barreiros e o gajo da música". Sei que ouviu este comentário quando saía de um restaurante. João Gil é o "gajo da música" em Portugal?


Essa história é deliciosa. Estávamos a gravar no estúdio de Vale de Lobos do Rui Veloso, em Sintra, e fomos almoçar a um restaurante da vila. O magnetismo do Quim Barreiros é incrível. As pessoas ficaram petrificadas a olhar para ele – "Olha, o Quim!" O Quim é um de nós, é um dos nossos. Já, para mim, as pessoas sorriram – "Olha o gajo da música". Existe uma distância entre a figura João Gil e o seu trabalho, a minha pessoa não entra na vida das pessoas, mas a minha música é reconhecida, e eu gosto disso. Já o Quim é o verdadeiro artista popular, e ele é um grande músico. Conheço-o há anos, ele andava nos mesmos estúdios do Adriano Correia de Oliveira e do Zeca Afonso, chegaram a tocar juntos! Reconheço no Quim o mérito da música mais genuína. Se é brega ou menos brega? É ir ao Nordeste do Brasil e ouvir os forrós, aquela música é maravilhosa.

O Quim Barreiros aparece neste disco com Herman José, Nani Nadais e Júlio Pereira a interpretar "Zé Passarinho", uma canção da Ala dos Namorados, com letra de João Monge.
Cada canção tem uma história, nada neste disco acontece por acaso. A "História do Zé Passarinho" era uma marcha de Lisboa, uma história de faca e alguidar que nos remete para os filmes portugueses antigos, a preto e branco, em que acaba tudo na esquadra. Portanto, ao convidar o Quim Barreiros, o Herman José, o Nani Nadais e o Júlio Pereira, com o som do seu cavaquinho, estou, de alguma maneira, a devolver ao povo aquilo que saquei do povo, até porque esta canção foi um grande sucesso entre a emigração portuguesa. Chegou ao 1.º lugar do top da Radio Alfa, rádio portuguesa em Paris, que nos levou a tocar no espectáculo do seu aniversário! Foi celebrado num relvado enorme, com milhares de pessoas em modo meio piquenique, meio piquenicão.

Na altura, a Ala dos Namorados era um peixinho fora de água naquele habitat e, na verdade, as pessoas estavam totalmente alheadas do nosso espectáculo. Ainda por cima, a seguir a nós tocava o Tony Carreira. Mas guardámos o "Zé Passarinho" para última música e foi um sucesso! Agora estou a devolver a canção ao seu "estado natural", retirei a canção de Lisboa e coloquei-a num tempo diferente, num Portugal mais festa, mais de dança, pus a música no baile popular. Há uma metamorfose da música pela via do povo.

O meio musical ainda é preconceituoso?
Começa a ser cada vez menos. E acho que, na verdade, existem mais egos do que preconceito, algo que é sinónimo de um país pequeno. Como há sete cães a um osso, achamos que o sucesso do colega é mau para nós. Mentira. Mas acho que existe cada vez mais respeito pela diversidade, vivemos um Portugal mais moderno e solidário. E entretanto começámos a exportar mais, o país começou a abrir território e, neste momento, acho que estão por descobrir as placas tectónicas da música portuguesa.

Como assim?
Portugal tem uma orla costeira gigante, Portugal é maior do que o território que nós pisamos, o fundo do mar é território. O país aumenta as suas placas tectónicas por aí. Em termos de pessoas, Portugal é muito maior do que nós pensamos, e os emigrantes e os filhos dos emigrantes começam a estar mais perto da metrópole e eu acredito que todo esse território está subaproveitado, que todo esse território ainda está por descobrir. Há que resgatá-lo e resolver o divórcio, há que não ser sobranceiro com os emigrantes.

Continua a existir sobranceria para com os emigrantes?
Sim, existe, mas a nova emigração mudou um bocadinho esse paradigma e chegou o momento de se quebrar esse divórcio. Antigamente, o mundo da emigração vivia muito fechado em si mesmo, tanto que viajar "para a emigração" era não sair de Portugal, os emigrantes estavam numa redoma. Hoje não é assim, existe uma maior integração nas sociedades onde vivem. Mas os emigrantes sentem-se, de alguma forma, abandonados por Portugal, queixam-se, por exemplo, de ter de ouvir a RTP Internacional a relatar o trânsito na 2.ª Circular... Precisamos de uma maior aproximação entre nós e temos de parar de falar em 11 milhões de portugueses e passar a falar de 15, 16 ou 17 milhões…

É da Covilhã, vem de uma família de cristãos novos, de judeus perseguidos em Portugal. Quer contar-me um pouco?
A minha família vai da Soalheira até Belmonte e sabe-se qual é a origem daquele povo, e é natural que aquele povo tenha uma relação particular com os seus antepassados, como se fosse produto de uma caminhada bastante grande, eu sinto que sou um resultado de algo começado lá atrás. Às vezes, as pessoas pensam "lá está o gajo armado aos cucos". Mas eu ouço histórias da minha avó e do meu avô e sinto isso.

O meu avô Joaquim Afonso veio para a Beira Baixa, era o médico daquele povozinho lá no Peso, tinha a casa recheada de livros, e a minha avó Rosa Amélia também era muito criativa. O meu pai, embora trabalhasse na indústria de lanifícios, tocava guitarra e a minha mãe, uma pessoa muito delicada, passou muita da sua sensibilidade artística para os filhos. Temos músicos por toda a família. E até vou cometer uma inconfidência: o meu filho estudava Engenharia, estava no quarto ano do Técnico, tinha boas notas, e um dia sentou-me à sua frente e disse-me: pai, quero ser músico. A relação genética com a música continua a correr. Está dentro de nós. Vem do passado.

Disse, numa entrevista, que os judeus fazem falta a Portugal. De que forma?    
Ah, fazem! E isso nota-se na falta de elites, nota-se na falta de investimento na cultura. Um dos grandes erros da nossa História foi ter corrido com os judeus. E agora estamos a pagar esse erro, porque eles foram investir o seu conhecimento fora do nosso país. Nós somos um bocadinho atravessados e arraçados, tornámo-nos cristãos à força, mas a História de Portugal também é isso, é uma grande misturada e talvez essa misturada também justifique o nosso comportamento hospitaleiro, afável e disponível. Portugal é um país de grandes negociadores da paz e isso coloca-nos no centro do mundo no que toca aos direitos humanos.

E eu sinto que Portugal está mesmo a mudar para melhor, sobretudo porque a emigração deixou de ser uma fatalidade, no sentido em que é possível emigrar e manter os pés em Portugal, é possível estar em rede, longe dos tempos das grandes vagas de emigração do passado, quando dávamos por adquirido perder milhares de pessoas para sempre. O meu avô ficou no Brasil. E quantos mais terão ficado? E isso passou a ser recorrente: um povo que parte, parte, parte.

Um povo perdido e mal resolvido com a pátria e, ao mesmo tempo, um povo ao qual bate a saudade e lá vem o fado para derramar as lágrimas. Esqueçam, vamos dar a volta a isto, eles podem partir nunca saindo, é possível um trânsito e é possível voltar. E o grande desafio em Portugal é criar as condições para não deixar sair as suas pessoas. Foi horrível, naqueles anos de troika, a quantidade de jovens convidados a sair do país. Ainda não temos a noção do drama que foi, ainda não temos a consciência exacta do drama de uma sociedade e de um país que investiu numa geração que partiu. É preciso criar as condições para que aqueles jovens que saíram possam voltar e para aqueles que não voltarem estejam em rede.

Quando começámos, ainda não havia cachês, chegámos a tocar com o Zeca e a trazer cenouras e batatas para casa como meio de pagamento.

O que é o país para si?
Não sou nada "patrioteiro", mas temos traços culturais únicos que nos distinguem enquanto povo e nós não temos bem a consciência daquilo que somos, só quando começamos a viajar é que damos conta de que este é um dos melhores países do mundo! Fiz um "tour" internacional com o poema "Ode Marítima" de Álvaro de Campos – eu a tocar e o Diogo Infante a representar. Foi como se transportássemos os Jerónimos connosco. Fomos a Tóquio e, de repente, caiu-nos a ficha.

Estávamos ali, 500 anos depois, mas não tínhamos voltado para expandir a fé nem para ocupar o seu território, estávamos ali a devolver a nossa presença de uma outra maneira. Estávamos a reinventar a nossa relação com o mundo, desta vez com o Fernando Pessoa, que é uma marca planetária – há pessoas que se reúnem a ler o Pessoa em Oslo ou em Bogotá. Mais uma vez, digo: Portugal é muito maior do que aquilo que nós pensamos.

Li que descobriu que queria fazer música quando era acólito numa igreja.
A igreja era um espaço de convívio e não tinha tanto essa carga religiosa. Quem vem de um meio pequeno sabe o que isso significa, a igreja é um pólo de união, os rapazes vêem as raparigas, estão mais arranjados ao domingo, dia de encontro social. A igreja é uma espécie de pelourinho, é muito mais do que a igreja em si, sempre foi um lugar de encontro de famílias… e eu era mais um miúdo que andava por ali.

Tinha sete ou oito anos, estava sempre distraído, brincava com a cabeça, fazia música sem ter a consciência do que estava a fazer. O silêncio do espaço proporcionava isso mesmo. Lembro-me de o padre fazer estalinhos com as mãos para eu despertar do meu mundo. Mas só comecei a tocar mais tarde, numa guitarra que tinham oferecido à minha irmã Margarida (Gil) e que estava encostada lá em casa. Na altura, já teria uns 14, 15 anos.

E já estava a morar em Lisboa?
Sim, o meu pai veio representar uma empresa de lanifícios e nós viemos todos atrás. Integrei-me relativamente bem. Eu sempre joguei futebol e então aproveitava a bola para me integrar em todos os grupos de estranhos. Onde quer que fosse, bastava dar dois toques na bola para as pessoas quererem ser minhas amigas (risos). 

E foi nessa altura que conheceu o compositor João Monge.
João Monge é um dos meus primeiros amigos de infância, conhecemo-nos e nunca mais nos largámos. Juntos, temos um património gigante. Até temos um património ligado ao fado que está meio parado, e é uma pena ter assim aquele tesouro. Temos de fazer algo.

A sua primeira banda chamava-se Soviete do Areeiro. Tocavam músicas chilenas.
Isso foi uma brincadeira, em 1975. Mas em 72, 73, nós já vivíamos a realidade de uma forma muito politizada. Eu era "um dos 15" militantes do secundário, era camarada do Miguel Portas e da Ana Luísa Guimarães, entre outros. Pertencia à UEC (União dos Estudantes Comunistas), da qual saí em 1975, e dirigia o meu liceu, o D. Pedro V. Éramos controlados à distância, viemos a saber mais tarde, pela Zita Seabra! Vivemos a tragédia chilena e sofremos muito com ela, era como se tivéssemos aqui um espelho do outro lado do Atlântico e tocávamos aquilo como se aquilo fosse nosso.

Discutíamos política aos 16 anos, éramos muito jovens, mas não nos podemos esquecer de que havia o espectro de irmos para a guerra, sabíamos que estávamos a um passo de ir para a Guiné e isso muda tudo. Cada realidade tem os seus dramas, cada realidade tem campainhas que nos fazem acordar. Hoje, se calhar, essas campainhas estão no fantasma do desemprego e os miúdos, de uma outra forma, também são obrigados a reagir.

Como foi o seu 25 de Abril?
Recebi um telefonema às sete da manhã a dizer: "acorda, veste-te e fica atento, não sabemos para que lado vai cair, mas há fortes possibilidades de cair para o nosso lado e, se formos para a rua, é para não voltar atrás. Não podemos falar mais". Às oito e picos, recebo um segundo telefonema: "rua, embora para a rua!" Quando chego àquela zona de Lisboa, ainda éramos muito poucos, então andávamos a correr de um lado para o outro a fazer número. Ora íamos para a António Maria Cardoso, ora para não sei onde, ou seja, tentávamos, a todo o custo, fazer número para não deixar os militares sozinhos. Aí, na mobilização, o PC esteve bem, nós estivemos bem, e depois foi ver o povo a chegar…

Porque é que saiu da UEC?
A UEC decidiu alargar os quadros no meu liceu e meteu duas jovens que me tinham estragado uma greve de silêncio antes do 25 de Abril, e eu disse: ou elas ou eu. Então, pronto, adeus, tchau e um queijo. Entrei em divergência e fui-me desligando. 
  

Revê-se nalgum partido político hoje?
Não. Claro que me aproximo de uma mentalidade que se liga, tradicionalmente, mais à esquerda, mas aproximo-me por falta de comparência da direita, que podia fazer um bocadinho mais. Tenho muitos amigos ligados a partidos de direita que são pessoas extraordinárias. Acho que Portugal ainda tem de dar mais um passo em frente em termos de diálogo. Veja-se esta coisa dos incêndios, não nos fica bem atirar culpas com os corpos acabados de enterrar, deveria existir maior contenção. Aproveitar tragédias para tirar dividendos políticos é uma coisa que está fora da minha educação.

O grupo Trovante é uma parte da sua vida e educação. Diz que quem estudar a história do Trovante entende também a História de Portugal. De que forma?
Quando começámos, não havia hábito de ter um palco, não havia hábito de ter luzes, não havia hábito de ter uma boca de cena de não sei quantos metros, não havia hábito de ter corrente para alimentar uma aparelhagem. Quando começámos, ainda não havia cachês, chegámos a tocar com o Zeca e a trazer cenouras e batatas para casa como meio de pagamento. Não havia estradas, aquela canção dos Xutos - "Para Ti Maria" - era verdade – de Bragança a Lisboa eram mesmo horas de distância.

Tudo começou no restaurante Mar à Vista, na praia da Mareta, em 1976.

Ainda noutro dia, o presidente de Vila do Bispo pôs o nome Trovante numa rua. Sim, temos uma placa com Trovante! Nós passávamos férias na praia da Mareta, na altura podíamos acampar lá e íamos, muitas vezes, tocar no restaurante Mar à Vista. Não tínhamos canções próprias, tocávamos "covers" e versões de Bob Dylan, do Paul Simon, músicas country e rock. Tínhamos química uns com os outros e percebemos que as pessoas adoravam ouvir-nos, cantavam e dançavam. Depois, o Luís (Represas) começou a fazer as primeiras músicas com letras do Francisco Viana, e já tínhamos matéria para andar. Quase que passámos do restaurante directamente para o estúdio!

Ninguém falava de Timor. Era tabu, era a nossa má consciência. Nós começámos, corajosamente, a falar de Timor.

Todas as canções, como diz, têm uma história e marcam épocas. "Timor" é uma delas, uma música-emblema, que já tinha uma vida antiga.
A música "Timor" tem várias histórias. Começou por ser um convite da minha irmã Margarida Gil, que realizou um telefilme para o canal 2 chamado "Flores Amargas" (1988). É um documentário muito bonito e muito forte que acaba por ser altamente interventivo porque mostrava aquele povo que estava acantonado ali no Vale do Jamor. E isto foi antes do Massacre de Santa Cruz (1991), ou seja, eu não corri atrás de um prejuízo. Fiz uma primeira aproximação com uma melodia muito suave, como se representasse aquele arvoredo luxuriante que aparecia em capas de discos de música daquela região.

Depois conheci os refugiados no Vale do Jamor e fez-me confusão ver pessoas tão meigas mas com uns olhos que, quando olhavam, olhavam para dentro de nós, trespassavam-nos, e isso intrigou-me bastante – que raio de povo era aquele, tão meigo e tão duro ao mesmo tempo? Fiz a melodia e transportei-a depois para o Trovante, com uma perspectiva mais heróica. Convidei o João Monge a escrever a letra e fizemos uma canção de intervenção, um pouco na estética do "Biko", do Peter Gabriel, depois do assassinato do activista Steve Biko.

Afinal, nós estávamos a denunciar uma coisa que era ostracizada, incómoda à esquerda, ao centro e à direita. Ninguém falava de Timor. Era tabu, era a nossa má consciência. Nós começámos, corajosamente, a falar de Timor. A canção ganhou notoriedade e, depois, é o povo que a torna "a Grândola de Timor".

Os Trovante…
... O Trovante e não os Trovante… Porque o Trovante era um elemento que estava sempre presente em nós, é uma pertença, uma bandeira, um manifesto. O Trovante, quando aparece, é uma canção de grande intervenção social e política. Só depois é que começámos à procura de outra linguagem, menos datada da época, e da poesia e, nesse aspecto, tenho de agradecer aos meus pais e aos meus irmãos, sou o mais novo de todos. Tive sempre várias "mothers in charge" (risos). E estive sempre rodeado de literatura. A minha irmã Teresa Gil foi directora do Instituto Português do Livro, o meu irmão, José Alberto Gil, que já não está cá, fundou a Companhia de Marionetas de São Lourenço e o Diabo.

Em pequenos, partilhávamos o quarto e ele fazia-me ouvir a música que ele ouvia, que era música clássica. Fui levado ao colo por todos eles e fui dando conta de que existia Eugénio de Andrade, fui dando conta de que havia Carlos de Oliveira e poemas como "Xácara das Bruxas Dançando", que extraí depois para o álbum "84" do Trovante.

Tem estado envolvido em vários projectos. Um dos mais marcantes terá sido o grupo Ala dos Namorados, com Nuno Guerreiro. Sei que a apresentação da banda chocou algumas elites.
Ui, a reacção de algumas elites e "opinion makers" foi qualquer coisa de inimaginável. Quando nos lançámos, no Bairro Alto, eu só ouvia nas minhas costas: "ai que horror, ai que bicha!" A elite dita revolucionária estava a reagir mal ao facto de aquele rapaz ter uma voz de contratenor. Ignorância pura e dura! Havia muita ignorância e preconceito ainda no início dos anos 90. Saí daquele concerto convencidíssimo de que estava num país atrasado. Mas hoje Portugal está muito diferente.

E a música portuguesa está a viver um bom momento?
A música portuguesa está de grande saúde e recomenda-se, adoro estas cenas novas que estão a aparecer, adoro o hip hop da margem sul, sou fã. Gosto muito da proposta dos Deolinda, gosto muito de algum rock que continua a ser feito e, acima de tudo, gosto muito do olhar português. A nossa língua é muito bonita e nós estamos a dar conta disso, é preciso apenas conhecê-la, ela já tem uma fonética que proporciona música. A língua portuguesa já tem música dentro de si, só é preciso saber encontrá-la.

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