Pelas grades da janela do convento é possível perceber a vida no claustro, numa aparente normalidade. Mas é impossível não notar o ar quente ou a luz avermelhada que se espalha na rua, resultado dos incêndios que eclodem pela cidade. Afinal, o visitante acabou de sair – com calma inusitada – de uma igreja onde sentiu o abalo sísmico que a 1 de novembro de 1755 mudou para sempre a cidade de Lisboa. Esta é uma das propostas do Quake Lisboa – Centro do Terramoto de Lisboa, inaugurado a 20 de abril, e a última "experiência imersiva" ao dispor na capital portuguesa.
O caráter imersivo está cada vez mais presente no universo cultural e abrange iniciativas com propósitos e níveis de sofisticação tecnológica diversos. Em Londres, na Serpentine Gallery, onde está patente a exposição "Alieanarium 5", óculos 3D tornam possível o "contacto" com vida extraterrestre. Em Belém, a recriação do ambiente vivido na Lisboa do século XVIII, em São Francisco de 1906 ou no Japão de 2011, é feita através de máquinas de fumo e calor, projeções videográficas, efeitos sonoros, equipamentos mecânicos e modelos 3D.
"Seria muito difícil tratar este tema de outro modo, já que o acervo é pouco ou nenhum. A lógica é recriar a história com recurso à imersividade", explica ao Negócios Ricardo Clemente, um dos fundadores do Quake. O objetivo é despertar consciências para a necessidade de integrar o risco sísmico no quotidiano, aumentar o conhecimento sobre sismologia e perceber o impacto do abalo de 1755 no urbanismo, na ciência e até nas escolas de pensamento. Para tal, o projeto teve o apoio de historiadores e cientistas. E, para aqueles que quiserem saber mais, existe a possibilidade de receber informação extra via e-mail: basta passarem a pulseira dada à entrada nos sensores de cada sala. "A imersividade é um veículo, não é um fim. Num equipamento como o Museu dos Coches [ali ao lado], este tipo de experiência não faria sentido, teria de ser usada apenas como um complemento", defende.