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Havana: Inesquecível e apaixonante museu a céu aberto

Está na moda e percebe-se porquê. Chegar a Cuba é como recuar aos anos 60 e isso salta à vista logo nas ruas, onde desfilam clássicos americanos como Chevrolet, Cadillac e Ford. Mas é muito mais.

27 de Novembro de 2016 às 10:00
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A maior ilha das Caraíbas orgulha-se de ter as praias mais bonitas e acolhedoras do mundo, mas ainda mais, e bem, de ter muito mais para oferecer. Uma vez na vida, pelo menos, Cuba é visita obrigatória para quem gosta de história, de cultura e de viajar. É um país especial - dificilmente deixará de o ser - e que transporta consigo o charme de anos fechado de e para o mundo. Na capital Havana, nascida em 1519, os sinais do colonialismo são imensos e andar nas ruelas de Habana Vieja é como reviver o passado em forma de prédios, museus e monumentos. E nos carros, claro. Mas já lá vamos.

Depois de décadas de contenção, de pouca liberdade para os cubanos, que não podiam deixar o país, a menos que fugissem ou sob condições muito especiais, Cuba começa a abrir-se, muito pela tentativa de terminar o embargo. Sim, é verdade que os cubanos continuam limitados em tarefas e acções simples do quotidiano. Não podem, por exemplo, chegar ao aeroporto e apenas viajar; é verdade que continuam a receber a caderneta usada há quase 60 anos e que raciona a alimentação subsidiada pelo governo; é verdade que ainda há alguns hotéis que não permitem que os cubanos ali se hospedem. Mas não é menos verdade que, em pouco mais de um ano, Cuba abriu ao mundo como se julgava impensável. Depois da visita do Papa Francisco em Setembro de 2015, seguiu-se Barack Obama já este ano. E os Rolling Stones, e ainda os protagonistas do filme "Velocidade Furiosa 8", que foi filmado em Havana no mês de abril, ou o desfile da Channel poucos dias depois, que parou o "paseo del Prado", e onde Gisele Bündchen foi estrela de cartaz .

Sim, tudo isto aconteceu na mítica capital do país, ainda a ser renovada e que, também por isso, revela algumas zonas caóticas. Mas Cuba, imagine-se, já tem wi--fi, e isso é motivo de festa, embora seja devidamente controlado e apenas exista em sítios específicos. Agora, com um cartão pré-comprado, é possível navegar uma hora, o que, para já, apenas é possível nas recepções dos hotéis ou em avenidas grandes de Havana. Não estão identificadas, mas são visíveis, tal não é o aglomerado de pessoas que estão sentadas em muros, escadas e até no chão com smartphones ou tablets na mão. Sinais de mudança, ainda que lentos, de um país onde a população até já pode ter pequenos negócios (legais) como restaurantes, alugar quartos ou abrir um cabeleireiro.

Desfile de clássicos

Cuba está a mudar, mas não vale a pena correr para Havana com medo de não chegar a tempo de ver o museu automóvel a céu aberto, que ocupa grande parte da capital do país. Os clássicos, Cadillac, Chevrolet, Ford e outros semelhantes, que ali chegaram dos Estados Unidos antes da revolução de 1959, ou os carros russos que a eles se juntaram após o embargo, vão continuar a encher as ruas de Havana. Agora, ao contrário do que acontecia, os carros antigos podem ser transaccionados e mudarem de dono, mas mantém-se a proibição de serem vendidos para fora do país, a menos que seja por ordem expressa de Raúl Castro. São considerados património de Cuba e não podem ser exportados.

Se visitar Cuba está nos seus planos, não os adie muito, correndo o risco de a maior abertura do regime poder danificar o misticismo do país que tão bem expresso é na capital, mas pode aguardar o tempo suficiente para conseguir uma viagem por preços mais acessíveis. Cuba está na moda e não só os preços sofreram aumentos brutais nos últimos dois anos, como há alturas em que arranjar um alojamento em Havana pode ser uma tarefa hercúlea. "Sobram-me hóspedes e faltam-me camas", foi uma frase que ouvi em muitas unidades hoteleiras de Havana já este ano. Até nas mais exclusivas e caras, como o Habana Libre ou o Hotel Nacional, monumento do país e que, a propósito, merece uma visita, mesmo de quem não é hóspede. Vai ter oportunidade de descobrir os muitos ilustres que por ali se hospedaram -Winston Churchill, Frank Sinatra, Ava Gardner, Walt Disney ou Alexander Flemming são apenas alguns - mas, mais do que isso, poderá passear pelos jardins onde estão em exposição os canhões usados na batalha de Santa Clara, onde Fulgêncio Batista foi oficialmente derrotado pelos guerrilheiros, e que são património mundial da UNESCO. Aproveite e beba um rum na esplanada, com uma vista incrível para a baía e para Habana Vieja.

A cidade e o país que imortalizaram o argentino Ernesto Che Guevara, um dos idealizadores e heróis da revolução cubana, ao lado de Fidel Castro, tem muito para oferecer. Ao passear no Malécon, a marginal de Havana, ao final do dia, terá a oportunidade de viver o espírito cubano e a cidade como um local. Ande pela "Plaza de Armas", "Plaza de la Catedral" ou pela "Plaza de la Revolución", onde está também o memorial a José Martí, e onde Raúl Castro faz a maioria das suas intervenções públicas. Mas se é história e monumentos que procura, então visite o grande teatro de Havana, mesmo ao lado do Capitólio, edifício cuja construção se iniciou em 1926 - está agora a ser reformado - e que é muito parecido com o Capitólio de Washington, nos EUA.

O Museu da Cidade ou o Museu da Revolução também merecem uma visita, sobretudo este último, onde estão vários documentos e fotografias explicativas da revolução cubana, que levou a família Castro ao poder, situação que se mantém até hoje. Falar de Havana não será possível sem uma referência à "Bodeguita del medio", local imortalizado por Ernest Hemingway, e onde o escritor bebia o melhor mojito da cidade, ou a "Floridita", um restaurante conceituado e no qual o norte-americano gostava de saborear um bom daiquiri. São, naturalmente, locais muito concorridos e onde os turistas fazem questão de passar, nem que seja para sentir mais um pouco da história de Havana. Mas, acredite, os mojitos da Bodeguita estão longe de ser os melhores da capital cubana, servindo mais, nos tempos que correm, como a cara de um bar cheio de misticismo.

Para viver em Havana como os cubanos terá que se aproximar mais do estilo de vida deles. Ouvir e dançar salsa no meio da rua ou fazê-lo, por exemplo, todos os finais de tarde no Parque Central de Havana, enquanto bebe um mojito improvisado e feito pelos locais, é uma experiência que vai recordar pela vida fora. Havana é um sítio seguro e onde não sentirá grande problemas. Está inflacionado e é um facto que os turistas podem sentir que pagam cinco vezes mais pelo mesmo produto do que um cubano. Os mercados paralelos estão a crescer um pouco por toda a capital - como a importação de roupa de criança para venda e tentar combater os preços absurdamente caros das lojas, ou a importação de peças de automóveis russos para os carros que circulam na cidade - mas esta é uma realidade vista como normal num país que está a aprender, agora, a viver com o mundo e onde um cidadão normal recebe um ordenado mensal de 22 euros.

Para estar em Havana é também preciso saber viver com esta realidade. Um espírito descontraído e algum malabarismo podem ajudar a contornar situações de tentativa de aproveitamento do turismo. Negoceie sempre o preço do táxi e evite comprar charutos na rua. Aquela caixa de Cohiba que lhe é apresentada como de primeira qualidade pode não passar de um produto adulterado. Mas isto são pormenores numa cidade que, garantidamente, não vai esquecer. Quanto mais a conhecer, mais enche o coração. E mais terá vontade de voltar. "Hasta siempre", Cuba!


Como ir

Chegar a Havana é relativamente fácil. A opção mais dispendiosa, mas também a mais confortável, é claramente a compra de um "pacote" turístico numa agência de viagens. Mas se pensa ir em altura de férias escolares, planeie a viagem com antecedência, porque Cuba está com lotação perto da máxima na maioria dos meses.

Outra solução é comprar a viagem de forma independente e, aqui, há alguns pormenores a ter em atenção, sobretudo na reserva do alojamento, das quais falaremos mais abaixo.

Companhias como a Ibéria e a Air Europa viajam de Madrid para Havana de forma directa, mas poderá ver outras soluções menos dispendiosas e igualmente agradáveis. Depende do tempo que tem e do que pretende fazer. Por exemplo, a Air Canada oferece soluções boas, com escala em Toronto ou Montreal, o que permite a visita a uma destas cidades. Para se movimentar em Cuba, tem três hipóteses: ou de avião, ou de autocarro ou num carro com motorista - alugar um automóvel e conduzir pode ser arriscado e é desaconselhado até pelos cubanos. A maioria das estradas não tem sinalização e os seguros não são obrigatórios, o que, em caso de acidente, pode complicar-lhe, e muito, a vida.

Moeda
Peso. Os turistas usam apenas o peso conversível (CUC), ao contrário dos cubanos que podem usar também o peso cubano, sem qualquer valor comercial (CUP).
1€: 1,06 peso conversível cubano (1€: 28 pesos nacionais cubanos).

Visto
Os cidadãos portugueses precisam de visto, tirado na embaixada de Cuba, em Lisboa. O processo é simples e implica o pagamento de 25 euros por pessoa que vá viajar, independentemente da idade. O passaporte tem de estar válido por mais de seis meses, após a data de regresso. Cuba aboliu o pagamento de 25 CUC de taxa de saída, que até há bem pouco tempo era exigido ao abandonar o país, o que é uma boa notícia.

Comida
A gastronomia crioula é muito apetitosa e em Cuba é um dos pontos fortes. O frango, o porco e a lagosta fazem parte da maioria dos pratos cubanos, que, ao longo dos anos, se habituaram a criar ou pescar para comer.
Uma imensa variedade de frutas tropicais vai, certamente, acompanhar os seus dias no país do rum, a bebida nacional de Cuba. O Havana Club é o mais conhecido, mas experimente outras marcas, como o rum Santiago, que muitos locais têm nas suas casas, e não se vai arrepender.
Comer num "paladar" é quase obrigatório. São pequenos negócios familiares, que abriram ilegalmente há muitos anos, mas que, hoje em dia, na sua maioria, receberam a aprovação do governo. Em Havana, o Los Nardos é uma óptima solução, situado no primeiro andar de um prédio, mesmo em frente ao Capitólio. O ambiente é distinto, a comida do mais saboroso que existe, e o preço muito agradável.

Onde ficar
Hospedar-se em Havana por conta própria pode ser uma tarefa que dá algum trabalho, mas se for tratada com antecedência não será impossível. Sites conhecidos de reservas ainda não têm acordo com Cuba, mas com um pouco de pesquisa conseguirá assegurar o seu quarto num hotel.
Outra opção é alugar uma casa particular. Hoje em dia tem vários sites para o fazer, é uma questão de procurar um pouco na internet. Vão aparecer opções para todos os gostos. Em Havana e no resto do país.


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