Notícia
Edite Fernandes, a goleadora máxima da Selecção
A antiga capitã da Selecção renunciou, há duas semanas, à equipa nacional, depois de 132 jogos disputados, 9.189 minutos jogados e 39 golos marcados. Vive nas Caxinas, o viveiro do futebol, diz a avançada do Sporting de Braga.
Dizem que Caxinas é o viveiro do futebol e Edite Fernandes mora lá. A avançada da equipa feminina do SC Braga é da terra de Hélder Postiga, Paulinho Santos, Fábio Coentrão. "Saíram daqui grandes jogadores. Aliás, mesmo atrás de mim mora a família toda do Paulinho Santos. E lembro-me do Fábio Coentrão ainda miúdo, ele ia ver os torneios de futebol da tia, que jogava comigo. Mas o que ele queria era jogar também", conta Edite Fernandes, 37 anos, que anunciou, há duas semanas, a sua saída da Selecção após 132 jogos disputados, 9.189 minutos jogados e 39 golos marcados, o que faz dela a goleadora máxima da equipa nacional. Continua a jogar e a treinar no seu clube todas as manhãs. "Estou focada no Braga e, provavelmente, irei exercer outro tipo de função ligada ao futebol", afirma a antiga capitã da equipa nacional que contribuiu com quatro golos para a entrada de Portugal na fase final do campeonato da Europa.
Edite Fernandes parece ter nascido do futebol. "Os meus pais conheceram-se durante um jogo numa aldeia perto de Vila do Conde. Foi uma paixão e aqui estou eu, apaixonada por futebol." A jogadora do SC Braga cresceu na aldeia nortenha de Modivas com a mãe e com a avó, e ao lado da tia e dos primos. Quando chegava da escola, ela e os amigos da vizinhança começavam a bater às portas uns dos outros para irem jogar à bola. Edite ia também. "A minha avó não gostava muito, mas eu fugia." Ela era a única menina. "Eu jogava bem e, para os meninos, era como se eu fosse um rapaz. E eu é que mandava em tudo, eu é que escolhia a minha equipa."
A líder do futebol não acompanhava muitos jogos na televisão, mas houve um que a arrebatou. "Foi o 3-6 do Sporting-Benfica, em 1994. Estava tão nervosa. Eu era uma benfiquista doente. E foi esse o jogo que me cativou para jogar futebol mais sério. Nesse dia, o meu ídolo cresceu - o meu ídolo é, e há-de ser sempre, o eterno João Vieira Pinto", confessa a avançada do Braga. "Ao longo dos anos, fui-me identificando com a sua maneira de jogar, ele é baixinho, marcava golos de cabeça, era rápido. Eu também era rápida, agora nem tanto, e fazia muitos golos."
Depois das disputas amigáveis na aldeia de Modivas, vieram os torneios de futebol de salão nas terreolas vizinhas e os campeonatos interfreguesias de Vila do Conde. Até que, já Edite tinha 17 anos, os tios levaram-na ao Boavista para prestar provas. "Eu não sabia ao que ia, nem sequer tinha noção do que era estar dentro de um campo de futebol 11. O director do clube até torceu o nariz, mas eu fui treinar e nunca mais saí. O treinador da altura, o José Conceição, ainda hoje, em jeito de brincadeira, me diz que eu era um diamante por lapidar."
Dois anos depois de integrar a equipa feminina do clube, Edite foi chamada para a Selecção, em Fevereiro de 1997, há vinte anos, conta a jogadora que, um ano depois, fez um interregno no futebol para trabalhar nos bares da Expo 98. "Foi espectacular, pelo ambiente, pela vivência, pela mistura de culturas, eu praticamente não dormia, ia trabalhar de directas, ia para lá nos meus dias de folga. Adorei." No virar do século, seguiu de vez para Lisboa, onde ficaria até 2007. Jogou no 1.º Dezembro. Pelo meio, em 2001, esteve na China, numa liga de Verão, a jogar pelo Beijing Team e foi vencedora. Voltou para o 1.º Dezembro, esteve duas épocas intercaladas em Espanha, em Mérida e Huelva, retornou ao histórico clube sintrense. A partir de 2007/2008, prosseguiu uma carreira internacional. "Estive no Zaragoza, no Atlético de Madrid, depois fui para a Noruega e joguei nos Estados Unidos durante dois anos", aponta Edite, que regressou a Portugal após uma lesão grave. "Tive de ser operada e só me sentia bem perto da família. Depois fui para o Valadares e agora estou no Braga, que é para acabar em grande."
Durante os anos em que jogou em Portugal, Edite tinha ajuda de custos por parte dos clubes, o que era insuficiente para as suas despesas diárias. "Não conseguia viver do futebol. Então, fazia várias coisas. Fui auxiliar de acção educativa em Sintra, fui monitora de futebol na Junta de Freguesia dos Olivais, cheguei a trabalhar no McDonald's…", indica. "Hoje, continua a não ser possível viver do futebol em Portugal. Sporting e SC Braga serão excepções porque fazem contratos com algumas jogadoras", diz Edite, ela própria com um vencimento fixo no clube minhoto. "Ainda existe sacrifício por parte das atletas, mas aos poucos tudo vai melhorando. Hoje em dia, já vemos um Braga X Sporting com as bancadas cheias. Já ninguém nos diz que a mulher devia estar em casa a passar a ferro ou a tratar do homem e dos filhos."
Edite Fernandes parece ter nascido do futebol. "Os meus pais conheceram-se durante um jogo numa aldeia perto de Vila do Conde. Foi uma paixão e aqui estou eu, apaixonada por futebol." A jogadora do SC Braga cresceu na aldeia nortenha de Modivas com a mãe e com a avó, e ao lado da tia e dos primos. Quando chegava da escola, ela e os amigos da vizinhança começavam a bater às portas uns dos outros para irem jogar à bola. Edite ia também. "A minha avó não gostava muito, mas eu fugia." Ela era a única menina. "Eu jogava bem e, para os meninos, era como se eu fosse um rapaz. E eu é que mandava em tudo, eu é que escolhia a minha equipa."
Hoje, já vemos um Braga X Sporting com as bancadas cheias. Já ninguém nos diz que a mulher devia estar em casa a passar a ferro.
Depois das disputas amigáveis na aldeia de Modivas, vieram os torneios de futebol de salão nas terreolas vizinhas e os campeonatos interfreguesias de Vila do Conde. Até que, já Edite tinha 17 anos, os tios levaram-na ao Boavista para prestar provas. "Eu não sabia ao que ia, nem sequer tinha noção do que era estar dentro de um campo de futebol 11. O director do clube até torceu o nariz, mas eu fui treinar e nunca mais saí. O treinador da altura, o José Conceição, ainda hoje, em jeito de brincadeira, me diz que eu era um diamante por lapidar."
Dois anos depois de integrar a equipa feminina do clube, Edite foi chamada para a Selecção, em Fevereiro de 1997, há vinte anos, conta a jogadora que, um ano depois, fez um interregno no futebol para trabalhar nos bares da Expo 98. "Foi espectacular, pelo ambiente, pela vivência, pela mistura de culturas, eu praticamente não dormia, ia trabalhar de directas, ia para lá nos meus dias de folga. Adorei." No virar do século, seguiu de vez para Lisboa, onde ficaria até 2007. Jogou no 1.º Dezembro. Pelo meio, em 2001, esteve na China, numa liga de Verão, a jogar pelo Beijing Team e foi vencedora. Voltou para o 1.º Dezembro, esteve duas épocas intercaladas em Espanha, em Mérida e Huelva, retornou ao histórico clube sintrense. A partir de 2007/2008, prosseguiu uma carreira internacional. "Estive no Zaragoza, no Atlético de Madrid, depois fui para a Noruega e joguei nos Estados Unidos durante dois anos", aponta Edite, que regressou a Portugal após uma lesão grave. "Tive de ser operada e só me sentia bem perto da família. Depois fui para o Valadares e agora estou no Braga, que é para acabar em grande."
Durante os anos em que jogou em Portugal, Edite tinha ajuda de custos por parte dos clubes, o que era insuficiente para as suas despesas diárias. "Não conseguia viver do futebol. Então, fazia várias coisas. Fui auxiliar de acção educativa em Sintra, fui monitora de futebol na Junta de Freguesia dos Olivais, cheguei a trabalhar no McDonald's…", indica. "Hoje, continua a não ser possível viver do futebol em Portugal. Sporting e SC Braga serão excepções porque fazem contratos com algumas jogadoras", diz Edite, ela própria com um vencimento fixo no clube minhoto. "Ainda existe sacrifício por parte das atletas, mas aos poucos tudo vai melhorando. Hoje em dia, já vemos um Braga X Sporting com as bancadas cheias. Já ninguém nos diz que a mulher devia estar em casa a passar a ferro ou a tratar do homem e dos filhos."
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