Com a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) a pôr, ao longo da próxima semana, Lisboa no mapa da fé católica, o Negócios olha para como a religião se interliga com as decisões no campo financeiro, tanto a nível pessoal como profissional. Cristãos, judeus, muçulmanos, hindus ou budistas seguem ensinamentos diferentes (mais ou menos restritos), o que se reflete nas práticas e proibições. Por exemplo, o Islão é o único que tem um sistema financeiro próprio. Há, ainda assim, semelhanças e pontos de ligação entre as várias religiões. É o caso da rejeição da usura ou do karma. A ideia mais transversal prende-se com a forma de chegar à riqueza e o que dela se faz.
Trinta moedas de prata foram suficientes para que Judas Iscariotes traísse Jesus Cristo e o entregasse aos sumos sacerdotes que o queriam prender. O discípulo acabaria por devolver a quantia, mas os remorsos não impediram que se cumprisse a morte na cruz. O relato do Evangelho de São Mateus é um dos vários momentos em que a Bíblia faz referência a dinheiro, tal como acontece nos livros sagrados e ensinamentos de outras grandes religiões.
Cada credo tem os seus ensinamentos e cada pessoa os vive de forma diferente, mas há ideias que se cruzam. Entre as especificidades da rejeição muçulmana à usura, o serviço cristão, a recusa judaica do preconceito ou o karma hindu e budista, a forma como se chega à riqueza e o uso que se faz desta são a pedra angular que sustenta a vivência individual.
"Tudo o que é importante na vida tem de ir ao bolso. Se não vai ao bolso, não é verdadeiramente importante na vida". É assim que Ricardo Zózimo responde ao desafio do Negócios de tentar explicar a relação entre dinheiro e religião, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que decorre em Lisboa, entre 1 e 6 de agosto, e irá reunir 1,5 milhões de pessoas de todo o mundo para se encontrarem com o Papa Francisco.
O professor auxiliar de gestão na Nova SBE tem-se dedicado a estudar o tema, em particular as características de empresas cristãs no tratamento dos trabalhadores, no lucro e na excelência. "A maior parte das religiões não é dogmática em relação à propriedade privada, mas sim sobre a distribuição do lucro", aponta, ressalvando a importância da forma como se chega a esse lucro.
Entre as empresas que são alvo de análise por Ricardo Zózimo estão exemplos de quem distribua resultados pelos trabalhadores e pela comunidade em que se inserem ou de quem altere horários de funcionamento para que os trabalhadores possam passar mais tempo com a família e participar em celebrações religiosas.