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Como o ruído que não ouvimos afeta o nosso corpo

A “assinatura acústica” das cidades é composta por ruídos de baixa frequência e infrassons que, embora omnipresentes, passam quase despercebidos. Contudo, o seu impacto na saúde leva os especialistas a alertar para as consequências de uma exposição prolongada a este tipo de ruído e para a necessidade de legislação. Em Portugal, chegou a existir um grupo de trabalho especialmente dedicado à chamada doença vibroacústica.
Susana Torrão e Pedro Catarino - Fotografia 14 de Janeiro de 2024 às 09:00

Em agosto, no âmbito do Festival Lisboa Soa, o Quartel do Largo do Cabeço da Bola, em Lisboa, recebeu a instalação "Bodies and Subwoofers (B.A.S.) 4.0: Double R-45", com que a artista brasileira Stefanie Egedy trouxe o lado tátil do som aos visitantes. "É uma instalação de baixas frequências – ali nos 30 hertz, no limiar inferior da audição humana – e é uma experiência bastante reveladora do que é o poder físico do som", explica Raquel Castro, organizadora do festival. "Quando os visitantes se aproximavam dos (altifalantes) ‘subwoofers’, as roupas moviam-se por ser uma vibração tão forte", recorda.

 

O intuito do Lisboa Soa passa por proporcionar experiências sónicas e foi com esse objetivo que foi escolhida a instalação de Stefanie Egedy. "Tendemos e pensar no som dentro do que ouvimos, mas é também uma coisa profundamente tátil – é quando as frequências são muito baixas que o som se torna uma experiência que sentimos com o corpo", lembra Raquel Castro. "Ainda hoje várias pessoas me falam disso. Além da instalação, houve um ‘workshop’, que esteve sempre esgotado. É uma experiência bastante intensa e também houve pessoas que me disseram que se sentiram muito enjoadas", revela Raquel Castro. A escolha envolveu "um certo risco", já que a instalação teve lugar numa zona histórica da cidade, com edifícios envelhecidos, mais vulneráveis ao impacto das vibrações.

 

A instalação artística pôs em evidência o poder dos ruídos de baixa frequência (RBF). Mas, como lembra Raquel Castro, esta é uma presença constante no quotidiano das cidades. "A nossa vida diária está cheia de baixas vibrações: se tivermos uma paragem de autocarros por baixo da nossa casa, se calhar não nos apercebemos, mas o edifício treme com as baixas frequências. Todas as máquinas têm ruído de baixa frequência", elenca a responsável do festival. "É importante percebermos que existe um poder no som, que nos afeta. E é isso que eu espero conseguir com o festival e com estas experiências", assume.

 

A doença vibroacústica

 

"Para um público leigo, poderá dizer-se que os infrassons são uma espécie de raio-x do som. Da mesma forma que não vemos os raios-x, também não ouvimos os infrassons, que estão abaixo dos 20 hertz, que é o limiar da audição humana. O ruído de baixa frequência fica mesmo na fronteira dos sons que ouvimos e os infrassons – por exemplo, é o ruído que ouvimos ao pé de uma subestação" elétrica, explica Mariana Alves-Pereira, física e professora associada da Universidade Lusófona que nas últimas três décadas tem estudado os efeitos dos infrassons e dos RBF no organismo humano.

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