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Cada aurora é um recomeço

Teremos o poder de modelar o tempo a nosso favor, ao ponto de evitar a morte de alguém? Neste quarto de hotel há uma passagem que permite tal feito. Uma comédia de mistérios e revelações.

SUITE 647 - A peça, encenada por Fernando Gomes, está no Auditório dos Oceanos do Casino Lisboa desde 11 de Abril. Bruno Colaço
12 de Maio de 2018 às 14:00
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É tudo em exagero, seja o choro ou a gargalhada. Por mais que o tempo mude, essa é única certeza de "Suite 647". O mesmo quarto de hotel em três anos diferentes, com duas décadas de separação entre cada um dos momentos.

O que une então 1998, 2018 e 2038? A porta de um armário. É nele que entra Poupée (Gabriela Barros), uma prostituta especializada nas artes do sadomasoquismo, equipada de cabedal e chicote. Entra nesta passagem não para satisfazer um fetiche alheio, antes pelo contrário: para fugir às garras do sócio do seu cliente e vilão desta história, interpretado por Ruben Madureira.

O que encontra do outro lado é a segunda mulher do cliente. Renata (Manuela Couto), em 2018, no mesmo dia em que morrerá atirada da janela daquele mesmo quarto de hotel. Com essa informação do futuro, é tempo de mudar o destino. E é à volta dessa tentativa que a peça se vai organizando, entre mensagens e contratempos.

Divertido e misterioso quanto baste (fica-se sempre a torcer para que elas consigam dar a volta por cima), "Suite 647" não faz tensões de ser um trabalho memorável ou diferente. Existem, aliás, momentos em que o texto do inglês Alan Ayckbourn, escrito em 1994, é ultrapassado pela interpretação em demasia.

Chora-se demais, fala-se alto demais, gesticula-se demais. Chega quase a ser cansativo acompanhar alguns dos desempenhos. A contrastar com a simplicidade do cenário, onde os fluorescentes verdes, que marcam a forma do quarto, contribuem para um clima quase de filme policial, misterioso.

A destacar o trabalho de Jorge Corrula e de Sérgio Praia, pela capacidade de variarem entre as versões adultas e idosas das suas personagens várias vezes, com todo o esforço de caracterização que isso envolve. Já Gabriela Barros, não raras vezes, ganha o nosso respeito pela capacidade de introduzir a piada certa com o tom certo, sem forçar nada.

"Suite 647" cumpre o propósito simples (e sempre eficaz) de entreter, de fazer rir e de entregar uma moral no final. A "dominatrix" que chora copiosamente revela-se uma mulher com uma infância frágil. E o destino, ou Renata, vai fazer questão de lhe compensar a bondade. De lhe dar um novo começo, digno de uma verdadeira Aurora. Não fosse esse o seu nome.


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