Notícia
As razões do fenómeno Almada
O enorme êxito da exposição antológica de Almada Negreiros, na Gulbenkian, é uma excelente oportunidade para os decisores e agentes da política cultural portuguesa tentarem saber o que torna um artista singular para os públicos.
18 de Fevereiro de 2017 às 10:15
Após três semanas de exibição, há razões mais do que suficientes para que todos os envolvidos no mundo cultural português procurem saber de onde vem o fenómeno Almada. A razão para tal é, obviamente, o enorme sucesso da exposição antológica de José Almada Negreiros, "Uma Maneira de Ser Moderno", no Museu Gulbenkian, que tem registado uma intensidade de acesso muito pouco comum em Portugal, originando, inclusive, longas filas de espera. Ou seja, por outras palavras, a mostra está a ser, para já, um "êxito de massas", à semelhança de outras, que normalmente só acontecem em Londres, Paris ou Nova Iorque e, por vezes, Madrid e que representam a tendência contemporânea museológica, muito procurada e muito discutida, de organizar o evento a partir de um artista ou especialmente de um tema, com grande impacto junto do público.
Colocada assim a discussão, o primeiro enigma a resolver é o das razões do enorme mediatismo e impacto de Almada Negreiros. Efectivamente, não é um nome de estrelato global, não é um valor de topo do mercado também global, nunca foi, e não é, o autor de uma obra que tenha circulado na primeira liga dos museus do mundo. Aquela que dita a tendência e capta a ida imperiosa dos públicos, qualquer que seja o lugar onde estejam. Pelo contrário, Almada Negreiros é um fenómeno exclusivamente nacional, à semelhança de Amadeo Souza Cardoso e Vieira da Silva e, noutra dimensão, Paula Rego.
Assim, o desvendar do primeiro enigma que importa aos decisores e aos agentes do mundo cultural português é o de perceber o modo como Almada Negreiros entrou no imaginário colectivo nacional. Terá sido por força da sua obra gráfica, terá sido por força da sua literatura, terá sido por força do seu traço pictórico, terá sido por força da sua mensagem vanguardista e de rotura, terá sido pela presença do seus trabalhos em quase todas as áreas criativas, inclusive a musical, terá sido porque conseguiu um estatuto de génio, sendo um dos raros que temos nesta área? Poderá ter sido por muitas razões. O importante é tentarmos saber exactamente junto dos públicos o que os leva a eleger o artista, e esta exposição, como algo de raro e imperdível.
O segundo enigma, porventura tão importante para a nossa política cultural como o primeiro, é o que gira em torno do não apagamento do brilho ao longo do tempo de Almada Negreiros e do seu trabalho. Afinal, ele não é um "antigo", mas também não é um contemporâneo, tendo produzido o maior volume do seu trabalho nas décadas de 40, 50 e 60 do século passado. Tentar perceber como é que pelo meio de tanta mudança social, cultural e estética em Portugal, Almada Negreiros continua a ser venerado, é de uma enorme importância.
Finalmente, entre os vários enigmas que interessa resolver, está o de tentar perceber se Almada Negreiros é um fenómeno de massas nacional, ou se pode ter o mesmo êxito noutros lugares do mundo, como Amadeo teve recentemente em Paris. A questão interessa não só para definir eixos de exportação cultural portuguesa, mas também se podemos ter algo para negociar com as principais entidades museológicas mundiais, em troca da vinda das suas exposições para território nacional.
Este desvendar de enigmas deve ser feito com uma metodologia profissional. Ou seja, não basta o inquérito standard ao público. É preciso descobrir modos de medir eficazmente o impacto de Almada Negreiros.
*Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.
Colocada assim a discussão, o primeiro enigma a resolver é o das razões do enorme mediatismo e impacto de Almada Negreiros. Efectivamente, não é um nome de estrelato global, não é um valor de topo do mercado também global, nunca foi, e não é, o autor de uma obra que tenha circulado na primeira liga dos museus do mundo. Aquela que dita a tendência e capta a ida imperiosa dos públicos, qualquer que seja o lugar onde estejam. Pelo contrário, Almada Negreiros é um fenómeno exclusivamente nacional, à semelhança de Amadeo Souza Cardoso e Vieira da Silva e, noutra dimensão, Paula Rego.
O segundo enigma, porventura tão importante para a nossa política cultural como o primeiro, é o que gira em torno do não apagamento do brilho ao longo do tempo de Almada Negreiros e do seu trabalho. Afinal, ele não é um "antigo", mas também não é um contemporâneo, tendo produzido o maior volume do seu trabalho nas décadas de 40, 50 e 60 do século passado. Tentar perceber como é que pelo meio de tanta mudança social, cultural e estética em Portugal, Almada Negreiros continua a ser venerado, é de uma enorme importância.
Finalmente, entre os vários enigmas que interessa resolver, está o de tentar perceber se Almada Negreiros é um fenómeno de massas nacional, ou se pode ter o mesmo êxito noutros lugares do mundo, como Amadeo teve recentemente em Paris. A questão interessa não só para definir eixos de exportação cultural portuguesa, mas também se podemos ter algo para negociar com as principais entidades museológicas mundiais, em troca da vinda das suas exposições para território nacional.
Este desvendar de enigmas deve ser feito com uma metodologia profissional. Ou seja, não basta o inquérito standard ao público. É preciso descobrir modos de medir eficazmente o impacto de Almada Negreiros.
*Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.