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Aromas históricos

É curioso o lugar da Creed num mundo de grandes marcas que pertencem a enormes grupos globais. Como é que é possível continuar a marcar presença como uma empresa familiar e tradicional num mundo concorrencial como este?

04 de Novembro de 2016 às 15:00
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William Shakespeare escreveu, um dia, que: "Se a rosa tivesse outro nome, ainda assim teria o mesmo perfume." Porque há coisas que não se alteram e heranças que não se transformam. Há perfumes que sobrevivem a todos os ciclos, porque são uma tradição que não se apaga com o tempo. O mundo Creed tornou-se eterno. E secreto. Esta é uma história de grande paixão que se perde no tempo.

Em 1760, James Henry Creed fundou em Londres a Casa Creed, a qual rapidamente conquistou a preferência da Corte Inglesa, tendo sido nomeada pela Rainha Vitória como fornecedora oficial da Casa Real. Rapidamente, tornou-se a preferida por todas as grandes Cortes da Europa, tendo criado uma série de admiradores em Napoleão III, a Imperatriz Eugénia, Francisco José e Isabel da Corte Austro-Húngara e da Rainha Cristina de Espanha. Distintas e exclusivas, tornaram-se um segredo bem guardado.

Em 1854, sob o patrocínio da imperatriz Eugénia, a Casa Creed transferiu-se para Paris, tornando-se um foco de sucesso. Com uma clientela muito selectiva, a Creed dedicou-se à criação de perfumes singulares, obras-primas da criatividade. Os Millesimes de Creed foram criados a partir de essências de grande qualidade, e contêm a maior percentagem de componentes naturais da indústria francesa de perfumaria.

Em França, ou nas suas viagens ao estrangeiro, Olivier Creed (hoje o presidente da casa) selecciona pessoalmente as mais puras essências de rosa e jasmim da Bulgária, Turquia ou Marrocos, assim como as íris de Florença, os nardos da Índia ou as genuínas violetas de Parma, entre tantas outras. A técnica de infusão, abandonada pela indústria moderna, permite hoje a Olivier Creed, um perfeccionista, preservar a originalidade das suas fragrâncias.

Consequentemente, Creed produz a sua própria infusão de baunilha e íris. Os componentes são então pesados, misturados, macerados e filtrados à mão, na mais rigorosa observação da tradição do fundador, James Henry Creed.

Parte do conhecimento familiar está a passar para o novo representante da família, Erwin. Este é agora o responsável pela selecção das essências à escala global, distribuição e abertura de novos pontos de venda, tendo também colaborado na criação de algumas das emblemáticas fragrâncias da casa como: Original Vetiver, Love in White, Fleurs de Gardenia, Virgin Island Water, Acqua Fiorentina e Aventus.

De visita a Lisboa, Erwin Creed, conta que seguiu os passos do pai. Hoje é responsável pela selecção das essências, pela distribuição e abertura de novos pontos de venda. Desportista, combina a paixão pelos perfumes com a que tem pelos desportos automóveis ou da neve. E reflecte sobre o passado e o presente: "É preciso não pensar demasiadamente na herança, mas concentrarmo-nos no que pode ser melhorado. A minha missão numa empresa pequena, e ela continua pequena na nossa cabeça, é mudar um pouco e, como temos muita procura, adaptar a nossa oferta, mas sempre perpetuando os valores tradicionais da nossa dinastia. A Creed é uma boutique e temos de nos adaptar à procura. É preciso encontrar soluções. E é disso que me ocupo." E acrescenta: "Hoje, a herança é importante porque guardamos a forma de fazer. Que não é a mais económica, é uma paixão de fazer. O meu pai continua a trabalhar. Eu preocupo-me com o resto e é importante procurar pontes com os distribuidores. Em Portugal, trabalhamos com a Boutique dos Relógios, gente que trabalha bem a marca. E sentimo-nos bem."

É curioso o lugar da Creed num mundo de grandes marcas, que pertencem a enormes grupos globais. Como é que é possível continuar a marcar presença como uma empresa familiar e tradicional num mundo concorrencial como este? Erwin Creed está confiante: "Há marcas que nos inspiram. E o meu pai gosta de algumas. E há marcas únicas como a nossa. Houve uma época em que, como não éramos conhecidos, era difícil. Chegávamos a um armazém e perguntavam ao meu pai se trabalhava para alguma das grandes marcas. Ele dizia que não e que tinha a sua marca. Era uma surpresa. Hoje fazemos vendas maiores do que outras marcas muito faladas. Nos Estados Unidos, somos muito fortes. Mesmo com menos pontos de vendas. A ideia é fazer um bom produto, adquirir boas matérias-primas, estar em menos pontos de venda, mas estes serem mais seleccionados. Nascemos, não copiamos. E queremos continuar a fazer produtos de qualidade."

Erwin diz que não gosta muito falar de "exclusividade", porque a Creed não encara "a exclusividade como um termo só de marketing. Muitos fazem-no para posicionar a marca. Preferimos a qualidade à quantidade. O nosso preço é um pouco superior à maior parte dos produtos no mercado, mas isso também tem que ver com a qualidade. Mas não há muita matéria-prima de qualidade disponível e isso também limita o nosso crescimento. Não fazemos os nossos perfumes com produtos sintéticos." A Creed tem hoje uma força grande em mercados como o dos Estados Unidos, de Inglaterra, de Itália e da Coreia. E Portugal continua a ser uma aposta forte. Como diz Erwin: "Vale mais cinco frascos bem vendidos numa boa boutique do que 10 vendidos de qualquer maneira." E é essa estratégia que segue a tradição da família. E da marca.


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