Notícia
ArcoMadrid “me mata”
Existirão poucos actos mais importantes para o investidor nacional em arte do que uma presença activa e cuidada na ArcoMadrid, que começa muito brevemente.
Efectivamente, a presença forte de galerias portuguesas, entre elas a Mário Sequeira, a 3+1 e a Cristina Guerra, permitirá avaliar a recepção aos artistas nacionais, mas, principalmente, os valores que a procura lhes irá atribuir. Este ponto é especialmente importante porque continua a existir um fosso entre o valor artístico e o valor da arte portuguesa no mercado global, mas também porque os agentes do mercado nacional persistem numa política de não revelação de valores monetários, o que torna o circuito amador e obscuro.
Ou seja, estamos a falar de acesso e tempo, condições essenciais para adquirir informação privilegiada sobre aquilo que conta: as tendências do mercado neste momento e no futuro próximo, as confirmações do valor de artistas e uma preciosa indicação sobre artistas que estão prestes a tornar-se visíveis.
Uma terceira dimensão a ter em conta para o investidor nacional é, claro, a da compra da arte disponível. Excluindo o investimento por emoção, muito importante neste campo, o investidor deverá procurar perceber que a oferta da ArcoMadrid, assente nos artistas espanhóis e latino-americanos, é uma operação conjunta que procura um lugar de relevo no mercado global para um sector, exactamente o da arte produzida pelos artistas referidos, que ainda está algures entre a periferia e o centro.
Assim, o estatuto de enorme valor dado pela feira e pelas galerias aos artistas em que apostam pode não corresponder, de modo algum, ao seu valor de mercado futuro. Obviamente, o risco faz parte do mercado, e este não é excepção.
Operação Argentina
A edição 2017 da ArcoMadrid tem como aposta principal os artistas argentinos. É um caso curioso, porque a arte que tem vindo a ser criada na Argentina reproduz fielmente a cultura do país. É uma arte vibrante, potente, sem medo de se mostrar grandiosa, e que ao mesmo tempo trabalha, sem protecções, todas as questões do passado próximo e presente do seu país, como a ditadura e as suas marcas, as assimetrias sociais e políticas ou a beleza humana e a necessidade desesperada de ídolos. É uma arte que toca, sem dúvida.
*Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.