Notícia
António Fontinha: Estamos a aprender a conviver uns com os outros
É muito alto, esguio, põe os animais a falar e leva a brincadeira muito a sério. António Fontinha é um contador de histórias que espevitou a tradição oral portuguesa. Este fim-de-semana, por exemplo, o festival Palavras Andarilhas regressa a Beja. Ele é um guardador de memórias. Fala com os velhinhos de Portugal, guarda-lhes as histórias. No início, sem repertório, leu recolhas e contos de homens como Teófilo Braga. E pensou: mas que invenções do arco-da-velha, por isso é que se chamam histórias da carochinha, por isso que é morreram. E hoje pensa: António, tu eras um cego. Isto é o património imaterial, está vivo, não cristaliza no tempo. E por que é que o Ocidente deu um pontapé no rabo da tradição oral e só agora voltou a pegar nela? Que sentido é que faz que o acto de contar histórias seja recuperado? Por ele, a brincadeira continua. Mas António tem um grande pavor: 'e se eu me farto? E, se um dia, eu só quiser contar histórias quando me der na real gana? É um fantasma, pode acontecer, não aconteceu'. O jogo continua.
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Quando faço recolha de contos orais, os velhotes riem-se de mim e perguntam: mas isso não acabou? A palavra ainda tem peso? Um dia, numa aldeia pequenina de Trás-os-Montes, eu falava com uma mulher de 91 anos, Teresa de Jesus, e entra-me um senhor, um homem de 60 anos. Era o filho. Senta-se e, no final da conversa, lusco-fusco, o dia a morrer, um copo de vinho tinto, um bocadinho de presunto em cima da mesa, ele diz-me:
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