Notícia
A história da guerra na primeira pessoa
Mulheres que combateram pela então URSS durante a II Guerra Mundial desfilaram as suas memórias perante o gravador de Svetlana Alexievich. É uma outra visão do conflito mundial.
Durante cerca de quatro décadas a bielorussa Svetlana Alexievich desenvolveu um estilo de jornalismo que se baseou sempre em encontrar pessoas que pudessem testemunhar, de forma franca e, sobretudo, emocional, as suas vidas no contexto das situações que as rodeavam. No fundo ela gravava vozes que transmitiam memórias que, de outra forma, iam perecer, escondidas na história que é quase sempre escrita por quem venceu. E é isso que é o seu grande trunfo: não há filtragem do que as pessoas dizem. Foi isto que lhe valeu o Nobel da Literatura em 2015 e a levou a dizer: "Flaubert dizia que era uma caneta humana; eu posso dizer que sou um ouvido humano".
Esta escrita é clara e, muitas vezes, contundente. Para Alexievich a sua ideia não era encontrar heróis mas sim escrever histórias de testemunhas desconhecidas. Ou seja, dar voz a quem não costuma estar na linha da frente.
É isso mesmo que se encontra neste "A Guerra não tem Rosto de Mulher". Nele ela escuta as memórias de muitas mulheres que combateram nas fileiras do Exército Vermelho durante a II Guerra Mundial contra os nazis. De tudo falam e isso é completamente letal, porque não há tabus no que partilham connosco. Uma recorda, depois de ver corpos de soldados carbonizados: "Naquelas cinzas encontrámos ossos humanos, entre eles havia pequenas estrelas chamuscadas, percebemos que os nossos feridos ou prisioneiros tinham sido queimados naquele lugar. Depois disso, por muito que eu matasse, já não tinha pena de ninguém". Muita desta amoralidade, depois de se ver carnificinas, é comum nestas páginas.
Mas as mulheres-soldado falam-nos da sua vida na frente de batalha, do frio, da fome e mesmo da violência sexual. Enquanto olham para a morte como se ela fosse a coisa mais banal do mundo. São poderosas as recordações destas mulheres cujo tempo de guerra ocupa estas páginas que foram escritas originariamente em 1985 (com nova versão em 2002). É um documento contundente que viria depois a ser alargado a obras posteriores da autora. Elas foram fundamentais para a derrota dos nazis, mas mesmo assim sempre foram olhadas com algum desprezo pelo poder soviético e mesmo a nível dos próprios camaradas de partido, a que muitas pertenciam.
Há depois recordações chocantes, sobre o pós-guerra: "depois da libertação… Ando na rua e olho em volta: já não era capaz de andar sem medo, não era capaz de andar calmamente. Ando e conto os veículos, os comboios na estação… Demorei a desaprender". É todo este universo de guerra total, através de vozes esquecidas que a combateram, que a autora nos traz, numa fórmula que não nos deixa indiferentes. E que tem a ver com uma nova forma de escrever a história.
Esta escrita é clara e, muitas vezes, contundente. Para Alexievich a sua ideia não era encontrar heróis mas sim escrever histórias de testemunhas desconhecidas. Ou seja, dar voz a quem não costuma estar na linha da frente.
Mas as mulheres-soldado falam-nos da sua vida na frente de batalha, do frio, da fome e mesmo da violência sexual. Enquanto olham para a morte como se ela fosse a coisa mais banal do mundo. São poderosas as recordações destas mulheres cujo tempo de guerra ocupa estas páginas que foram escritas originariamente em 1985 (com nova versão em 2002). É um documento contundente que viria depois a ser alargado a obras posteriores da autora. Elas foram fundamentais para a derrota dos nazis, mas mesmo assim sempre foram olhadas com algum desprezo pelo poder soviético e mesmo a nível dos próprios camaradas de partido, a que muitas pertenciam.
Há depois recordações chocantes, sobre o pós-guerra: "depois da libertação… Ando na rua e olho em volta: já não era capaz de andar sem medo, não era capaz de andar calmamente. Ando e conto os veículos, os comboios na estação… Demorei a desaprender". É todo este universo de guerra total, através de vozes esquecidas que a combateram, que a autora nos traz, numa fórmula que não nos deixa indiferentes. E que tem a ver com uma nova forma de escrever a história.
Destaques
No meio da crise económica
John Steinbeck foi um dos mais talentosos bardos sobre a sociedade americana do período da Grande Depressão. O seu olhar perspicaz sobre as mutações sociais e a pobreza latente transportaram-se para a escrita e para livros que marcaram para sempre a literatura do século XX. Este "Batalha Incerta" é um deles. Editado em 1936 fala-nos sobre a agitação social e política na Califórnia, onde os apanhadores de maçãs lutam contra a estratégia gananciosa dos proprietários. Nessa luta emerge uma figura única, Jim Nolan.
John Steinbeck
Batalha Incerta
Livros do Brasil,
323 páginas, 2016
Um artista em luta com a vida
Um dos grandes autores alemães do século XX, Thomas Mann legou-nos uma série de obras-primas, de "Os Buddenbrook" a "Doutor Fausto". Este "Tonio Kroger" é considerado uma obra onde os traços do próprio autor mais se podem encontrar. A vida de Tonio, um jovem escritor de orogem burguesa, é uma tempestade de tormentos. A sua vida é solitária, e isso motiva-o também a questionar sistematicamente tudo o que faz e tudo aquilo que o cerca. Apesar de tudo deseja viver como outros jovens que apenas se guiam pelas aparências sociais.
Thomas Mann
Tonio Kroger
D. Quixote,118 páginas, 2016
Em busca de uma sociedade sustentável
Este é um livro estimulante, até porque surge após uma catastrófica época de fogos que dilacerou o país e que colocou na ordem do dia a questão do ordenamento territorial e do ambiente. Sofia Guedes Vaz escreve mesmo: "Os pontos de equilíbrio conhecidos estão a fugir-nos debaixo dos pés e temos de encontrar um novo tipo de harmonia social, ambiental e económica. Nada de novo para a humanidade, que é complexa e dinâmica. Mas agora é mais difícil (...)". Este livro leva-nos a reflectir sobre os desafios que se colocam a todos nós neste novo paradigma.
Sofia Guedes Vaz
Ambiente em Portugal
Fundação Francisco Manuel dos Santos,
99 páginas, 2016
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