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A mansão que aloja uma Ásia pouco simétrica

Em Hong Kong, o Chungking Mansions, um prédio cinzento de 17 andares, é uma casa turbulenta para um sem número de comunidades, à procura de oportunidades numa cidade a rebentar pelas costuras. Tão perto e tão longe do resto da Ásia.

01 de Janeiro de 2017 às 13:00
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"Estão à procura de um hotel. Eu arranjo!" O local já estava escolhido, mas o motor da pesquisa foi o preço e isso, em Hong Kong, pode dar um resultado diferente do esperado. A entrada do edifício cinzento da Chungking Mansions é uma mistura alucinante de culturas que não se vê nas ruas do território administrativo chinês: cidadãos de origem indiana, paquistanesa, africana e chinesa aglomeram-se em lojas que tudo vendem e nada oferecem e fazem fila nos pequenos elevadores que, em alturas de muita procura, precisam de seguranças para orientar quem sobe para as dezenas de pequenas "guesthouses" que existem em cada um dos 17 pisos. "Se eu morasse aí, não dizia a ninguém, nem levava visitas a casa". Peter trocou a Índia por Hong Kong há muitos anos e conhece bem a fama do "gueto" da cidade. "Acontecem lá coisas más", como a venda de produtos roubados e outros negócios menos transparentes. As disputas entre os residentes também são comuns, numa espécie de Torre de Babel em que nem sempre se fala a mesma língua. "Mas tem alguma da melhor comida asiática de Hong Kong", assegura Peter.

Para um estrangeiro, pode ser avassalador calcorrear os corredores deste prédio cinzento. A falta de espaço dita que as casas sejam construídas em altura, a preços proibitivos. E Chungking Mansions acaba por ser o paraíso possível para quem viaja com pouco dinheiro. Não pode é levar muita coisa porque os quartos mal chegam para instalar uma cama e casa de banho. Mas, nos últimos anos, esta mansão multicultural tem sido reabilitada e "vestida" como uma espécie de atracção turística ao alcance dos bolsos dos "backpackers" que, em Hong Kong, se vêem confrontados com preços bem superiores aos praticados nos vizinhos mais pobres.

Assimetrias asiáticas

Hong Kong é uma boa plataforma para voar para o sudeste asiático, mas é um mau cartão de visita: as lojas Chanel, com fila ordeira à porta ao fim-de-semana, símbolo máximo do consumismo, estão longe daquilo que se passa nas ruas da barulhenta Hanói, com os seus cafés de rua. É cá fora que os vietnamitas tomam as refeições, em mesas de plástico e cadeiras improvisadas, passíveis de serem confundidas com os restaurantes que, porta sim, porta não, enchem as ruas de cheiros diferentes. No Vietname, as portas estão sempre abertas e as casas são espaçosas, ainda que continuem a acolher famílias numerosas. Estamos, obviamente, num país do "terceiro mundo", onde as marcas mundiais produzem para colher os benefícios dos baixos salários e do valor da moeda: um milhão de dongs vietnamitas vale pouco mais de 40 euros.

Mas o país comunista, que tem no seu currículo uma vitória militar retumbante sobre a maior potência mundial, está num caminho de crescimento. O PIB é de 179 mil milhões de euros, um crescimento de quase 7% e com muito potencial para melhorar, num país com mais de 95 milhões de habitantes.
Hong Kong parece estar noutra galáxia. O preço por metro quadrado é o mais caro do mundo, mostrando que a pequena cidade está cada vez mais estrangulada de espaço
Hong Kong parece estar noutra galáxia. O preço por metro quadrado é o mais caro do mundo, mostrando que a pequena cidade está cada vez mais estrangulada de espaço SeongJoon Cho/Bloomberg
A ilha de Phu Quoc, no sul, é talvez um dos locais em que o progresso mais convive com a vida tradicional vietnamita. Um paraíso de praias de água aquecida pelo golfo da Tailândia, a região, localizada numa zona "quente" de disputa com o Camboja, ainda está virgem, com excepção de uma zona chamada Long Beach, que já conta com vários hotéis de dimensão razoável. Toda a ilha parece estar em obras, com camiões que entopem as estradas estreitas e esqueletos de grandes hotéis que vão tomando forma. Os caminhos pela floresta mostram que ainda há muito a fazer: lixo no chão e estradas de terra que ficam inundadas quando chove religiosamente ao final da tarde.

Os vietnamitas estão bem equipados, culturalmente, para o negócio do turismo: são acolhedores, prestáveis, prontos a ajudar, ainda que a qualidade do seu inglês complique, por vezes, a comunicação. Os hotéis estão bem pontuados em sites como o Booking, e mesmo o "hostel" mais básico tem pequeno-almoço e quartos espaçosos e bem equipados.

A duas horas de avião, a próspera Hong Kong parece estar noutra galáxia. O preço por metro quadrado é o mais caro do mundo, mostrando que a pequena cidade está cada vez mais estrangulada de espaço. O jornal South China Daily, citando um estudo de um consultora americana, chegou à conclusão de que o preço de um exíguo apartamento na cidade chegava para comprar um castelo italiano. Nesta região cosmopolita, a prosperidade vê-se nas ruas, nos carros e nas lojas de luxo. As milhares de motas que circulam no Vietname (sem parar nas passadeiras e, por vezes, nos semáforos) quase não existem no território administrativo chinês. Os ocidentais queixam-se dos preços elevados. Será que esta é a Ásia do futuro? Se for, o encanto não será o mesmo. 

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